sábado, 21 de novembro de 2015

Say Shelles

Shelles.
A cerveja daqui é seybrew. Cada vez que bebo uma digo mentalmente Brew porque ela diz Say Brew. É uma piada parva mas eu gosto. Ontem à noite disse algumas vezes brew. Até tarde. O ambiente no boardwalk estava divertido e já sei que nas Maldivas, por ser um país mulçumano, o alcool e noites não são das actividades mais praticadas, pelo que me pareceu boa ideia celebrar ontem a largada e a futura chegada.

Saí de lá na hora certa. Aquela em que o ambiente começa a ficar pesado e já nada de bom vai sair dali. Acordei antes das 8, tomei pequeno-almoço, um banho e lavei a minha roupa.
Bebo agora um café, vou ao super comprar mais umas coisas para gastar as últimas rupias que temos e daqui a uma meia hora deve chegar a emigração com os nossos passaportes para largarmos.

O catamaran é um Leopard de 38 pés. São cerca 1200 milhas. Qualquer coisa entre 10 e 15 dias de mar com direito a cruzar pela primeira vez o a linha do Ecuador à vela. E o desejo secreto de fer um tubarão baleia algures nestes dias. Se pudesse mergulhar com ele era um homem muito feliz.

Até já.
M.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O espaço de tempo desde a Croácia às Seychelles.

Estou aqui. Nas Seychelles.

Entretanto voltei a Portugal. O regresso foi bom. Passei o verão todo a trabalhar num centro de mergulho em Lagos como Divemaster e Skipper ocasional dos semi-rigidos.
Foi um período duro com muito trabalho, dias longos e pouco descanso e ainda menos salário. Mas o saldo foi positivo. Tinha alojamento e alimentação incluidas e parei a sangria de dinheiro a que me estava a custar imenso livrar.Fiz um ou outro amigo e aprofundei outras amizades mais antigas de Lagos. Tirei a primeira parte do curso de instrutor. Sou agora Assistente de Instrutor. Não sei muito bem para o que isso me vai servir mas há de servir para alguma coisa. Eventualmente. Vamos a ver.

Saí de lá algures em Outubro.
Fui para Lisboa. Voltei a Lagos umas semanas depois para tirar a teoria de Yachtmaster/Coastal Skipper e a prática de Coastal Skipper. Ainda não foi desta que fiz o exame de Yachtmaster. Tenho que dominar melhor a teoria e praticar algumas manobras mais cabeludas para me sentir preparado para o fazer. Espero fazê-lo em breve. Vamos a ver.

Entretanto fui contractado como Imediato pelo Jorge, o skipper com quem fui da última vez à Croácia para fazer o transporte de um catamaran das Seychelles às Maldivas. Fez-me um bem desmedido ao ego ele contractar-me. A pagar um salário decente para o que ando habituado. É um voto de confiança que não sei ainda muito bem como agradecer mas que estava a precisar imenso. Vamos três a bordo. Ele, eu e o atrick, um francês mais senior que toda a vida trabalhou em barcos e claramente tem muito mais experiência que eu. Logo, imediatamente portanto, não me sinto tão Imediato assim. Logo se vê. Ou vamos a ver.

Chegámos na 4ª feira. O barco está quase pronto. E tivemos um dia absurdamente excelente ontem. Fomos convidados para passar a tarde em casa de um sul-africano mais ou menos muito milionário numa ilha aqui ao lado. Envolveu um excelente almoço com ele, dois amigos e uma russa mais a tripulação do outro barco que vai fazer a viagem connosco, uma ida de semi-rigido a um excelente spot noutra ilha que é uma reserva e que me permitiu espreitar estas águas. Não vi nenhum tubarão mas vi peixe com fartura, alguns gigantes e o maior tropetfish da minha vida. Vi também muito coral morto mas a isso não vou ligar.
Há uma relação directa entre os mangais e a saude dos corais. Se se constroi demasiado na ilha, sobre os mangais, a proporção fica desequilibrada e os corais queixam-se. Não depende de mim e encaro isso como a evolução das coisas.
À parte desses detalhes a ilha é linda, obscenamente cara e discretamente luxuosa. Nunca tinha visto tanta modelo russa por hectare e deve ser um dos produtos de importação preferidos dos money makers daqui. Isso e barcos.
 Sinceramente não me importava nada de ser contractado por uma temporada para trabalhar num sitio destes para um gajo como o sul-africano.

Mas agora o que interessa é a viagem. Largamos amanhã. A Alba, a minha marinheira dos tempos de skipper do Panamá e entretanto excelente amiga, esta a trabalhar nas Maldivas e à minha espera.

Espero que continue a correr assim.
Vamos a ver.



 M.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Aqui estamos

E um mês depois, com demasiadas paragens em sitios não muito interesantes mas que se tornam interessantes por isso mesmo, estamos em Split. A cidade carinhosa e acolhedora onde já fui e continuo a ser mimado. Gosto muito disto.

Desde a útima vez que aqui escrevi tivemos uma tentativa falha para sair de Adra e mais uma paragem, Rocella Ionica, em Itália, depois de uma abordagem estranha e também falhada a Messina e a seguir a Regio Calabria que nos fez seguir viagem até esse porto. Mais ou menos o mesmo registo das paragens anteriores. Agradável de uma maneira estranha e sem delumbramentos.

Aqui, o barco foi limpo, organizado esvaziado e preparado em tempo record.
Chegámos domingo com o nascer do sol e no dia seguinte foi formalmente entregue à hora do almoço, depois de umas boas horas a esfregar aquilo.
Estava praticamente impecável com danos minimos para uma viagem destas, por isso estou satisfeito. Trabalho feito e mais 3000 milhas bastante decentes já cá cantam.
Os gajos que receberam o barco nem um obrigado disseram mas deram uma avalição ao inquérito de satisfação ao cliente excelente, por isso assume-se que é uma questão cultural e segue-se caminho.

Instalámo-nos num apartamento no centro e temos andando por aqui a com os meus contactos a ser bem tratados.

Amanhã o skipper regressa a casa e eu decido decido se aqui fico e continuo a saborear Split mais um dia, se vou para uma ilha chamada Brac com esses contactos ou se vou descobrir mais a Croácia. Tenho vôo marcado para a semana a partir de Zagreb a um preço fantástisco. Entre aqui e lá, logo se vê.
Ouvi coisas boas de lá. E de Zadar que até fica de caminho.
 Em qualquer dos casos para a semana volto a casa.

 M.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Saltos

Andamos a navegar entre tempestades/mau tempo. Sempre ou quase sempre de proa.
Uns dias de espera em Les Sables e pulamos para outros em Cascais à espera. Pára-se em Ayamonte para uns pequenos arranjos. Em Gibraltar para abastecer.

No último dia de navegação, acabei o meu quarto às 12 com 3 nós de vento na popa e mar quase estanhado, rumo Almeiria (cerca de 50 milhas) onde iriamos parar para deixar passar o mau tempo que aí vinha. Acordei duas horas depois com 30 nós de vento na proa e porrada qb.
Adra pareceu assim de repente uma excelente localidade para visitar.

Aqui dão uma tapa por cada cerveja. Podia ser pior.

Levante. Já se dizia: “De Espanha, nem bons ventos nem bons casamentos”.
Quanto aos casamentos não sei, mas a parte do vento confirma-se.

Parece que largamos daqui a uma hora. O levante continua mas deve cair mais logo ou amanhã. Passamos o Cabo de Gata e logo se vê. Estamos sensivelmente a meio da viagem, com 1350 milhas pela frente.
Vamos a ver quanto dura o próximo pulo. Idealmente seria até Split. Ou pelo menos até Itália já com boa parte da navegação feita.

M.

terça-feira, 31 de março de 2015

Tudo pronto



Estivemos à espera que isto passasse. 30 nós de proa não é simpático.
Parece que hoje à tarde o vento roda e cai. O sol já apareceu. Fizemos os últimos preparativos e compras. Mangueirada no barco e estamos prontos.
Já chega de Les Sables Dolonne. O dinheiro escasseia, tudo é caro e tem aquele ambiente estranho de estância balnear em época baixa. Com frio, chuva e vento todos os dias.
Mesmo assim não me posso queixar. Há aqui em frente o Joy’s cafe (joie de Vivre) e seu dinâmico dono Alan que teve uns momentos interessantes.  Excluindo a intensidade do odor desta malta. O mito de os franceses não tomarem banho… não é mito. Depois de uma hora de danças, cheira melhor na casa de banho do que no bar (skipper). Não entendo.
Depois é terra marinheira a sério. A malta da vela é respeitada e toda a gente aqui percebe a complexidade da coisa e não se surpreendem nada com estas esperas e imprevistos. Acarinha os marinheiros. E acontecem coisas improváveis como conhecer um homem enquanto fumava um cigarro à porta do bar, conversa de circunstância sem grandes coisas e vai-se a ver é o big shot da marca e fábrica dos veleiros J. No dia a seguir voltamos a encontrarmo-nos no bar e ele e um amigo levam-me de carro a um bar/casino para um ultimo copo. “É a hospitalidade de Les Sbles” (em francês mas não me lembro como é porque o meu francês está para lá de perro e esquecido depois de 10 anos sem uso). Estive para ir ontem visitar a fábrica mas não deu. Next time.
Fico com pena de também de não ter ido a La Rochelle. Mas é caro lá ir e certamente ia querer uma noite por lá. É uma questão de voltar cá para outro transporte que parta de lá. Fico à espera calmamente.
Até já.
M

sexta-feira, 27 de março de 2015

Les Sables Dolonne



Estou há três dias em Les Sables Dolonne. Com um skipper que respeito muito e com quem já há muito tempo queria navegar.
Convidou-me para o transporte de um Catamaran Lagoon 45 novinho a estrear para Split, Croácia. A última vez que lá estive a minha vida era quase outra. Encarava tudo como um desafio e tudo cheirava a folhas brancas de um caderno por escrever. Coisas boas.
Dali fui para o Panamá trabalhar pela primeira vez como skipper e passado quase dois anos as folhas brancas foram escritas com algumas tareias valentes, coisas e momentos muito bons e um regresso a portugal no mínimo mau. Nestes últimos meses tenho me entretido a sobreviver e resolver mil problemas que não fui eu que os criei, a acumular uma dívida à família porque enquanto não tivesse as coisas minimamente resolvidas não podia sair para trabalhar e a tentar não desanimar demasiado nem descarregar este acumular de tensões nas pessoas erradas.

Aumentei a minha dívida e investi numas formações. Tirei o STCW95 com o módulo de segurança e pirataria. E só há coisa de umas semanas consegui ter as coisas minimamente organizadas para procurar trabalho a sério.
Se quando voltei estava preocupado em arranjar um trabalho minimamente bem pago e que gostasse, agora o minimamente bem pago passou a ser verdadeiramente bem pago e o gostar não é assim tão relevante. Tenho dividas para pagar e não quero prolongar a coisa.
Assim, quando este skipper me convidou  para este transporte, um pouco a medo porque não me podia pagar nada mais para além das deslocações e despesas, hesitei. São cerca de 2.500 milhas. Isto vai ser por volta de um mês. Tinha prometido a mim mesmo não voltar a fazer estas coisas sem receber.

Mas é este gajo. E eu queria muito navegar com ele. E é de Les Sables dolonne. E eu nunca atravessei o golfo das Biscaia. E é Croácia. E eu gosto muito da Croácia. E é um barco novo em vez dos cancros cheios de tumores onde tenho navegado nestes últimos embarques. E tudo é clean e cheira a novo. E tudo funciona sem remendos nem invenções. E eu preciso tanto de ir para o mar e ter uma navegação saudável, sem cancros nem esquizofrénicos, bipolares ou dementes em geral.
Vamos a isto…. “Enquanto houver ventos e mares a gente não vai parar”.
Para a semana largamos. A ver.
Ok. Encaro isto como mais um investimento. Espero aprender bastante com ele e esta viagem. Fica bem no meu CV este transporte mais profissional.

Agora estamos aqui. O barco está praticamente pronto. Andámos a forrar as paneleirices todas para não estragar nem riscar. Hoje mudámos os cabos de amarração, vimos o mastro e instrumentos. Fizemos já três rondas de compras, comprei o meu colete e (mais um) frontal e basicamente a qualquer momento temos o barco pronto para largar em poucas horas.
O tempo até há poucos dias estava totalmente favorável. Virou entretanto. Anteontem fazia sol, hoje chove e estão uns 20 a 35 nós de vento. Pela proa do nosso rumo. Vai ser assim e pior até ao fim do fim de semana.

Para já é saborear o facto de estar viver num barco como deve ser, longe das tempestades em terra.




M.