terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Ainda não o li...

A Tempestade do Destino

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar. (...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros. E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido. 

 Haruki Murakami, in 'Kafka à Beira-Mar'

 ... Mas parece-me um bom título para levar caso decida aceitar o embarque de novo para aqueles mares que me propuseram. Este prevê-se a dia 26 de Dezembro. Desta vez e se correr tudo como previsto será uma viagem mais próxima dos 5 meses do que dos 3. E com mar de inverno. A sério.

 O dinheiro está a acabar-se a bom ritmo, sempre disse que a embarcar de novo que fosse no inverno para sentir a coisa em pleno e não perder o verão, quanto mais cedo embarcar mais cedo estou de volta, quanto mais cedo regressar mais fácilmente arranjo trabalho na vela e transportes na primavera e verão, fujo ao caos que está instalado em terra e na minha vida e acrescento ao curriculo mais uma passagem de ano estranha, coisa a que já vou estando habituado e não me choca particularmente. Faz todo o sentido.

 Tenho até ao fim desta semana para decidir.

M.