sábado, 21 de novembro de 2015

Say Shelles

Shelles.
A cerveja daqui é seybrew. Cada vez que bebo uma digo mentalmente Brew porque ela diz Say Brew. É uma piada parva mas eu gosto. Ontem à noite disse algumas vezes brew. Até tarde. O ambiente no boardwalk estava divertido e já sei que nas Maldivas, por ser um país mulçumano, o alcool e noites não são das actividades mais praticadas, pelo que me pareceu boa ideia celebrar ontem a largada e a futura chegada.

Saí de lá na hora certa. Aquela em que o ambiente começa a ficar pesado e já nada de bom vai sair dali. Acordei antes das 8, tomei pequeno-almoço, um banho e lavei a minha roupa.
Bebo agora um café, vou ao super comprar mais umas coisas para gastar as últimas rupias que temos e daqui a uma meia hora deve chegar a emigração com os nossos passaportes para largarmos.

O catamaran é um Leopard de 38 pés. São cerca 1200 milhas. Qualquer coisa entre 10 e 15 dias de mar com direito a cruzar pela primeira vez o a linha do Ecuador à vela. E o desejo secreto de fer um tubarão baleia algures nestes dias. Se pudesse mergulhar com ele era um homem muito feliz.

Até já.
M.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O espaço de tempo desde a Croácia às Seychelles.

Estou aqui. Nas Seychelles.

Entretanto voltei a Portugal. O regresso foi bom. Passei o verão todo a trabalhar num centro de mergulho em Lagos como Divemaster e Skipper ocasional dos semi-rigidos.
Foi um período duro com muito trabalho, dias longos e pouco descanso e ainda menos salário. Mas o saldo foi positivo. Tinha alojamento e alimentação incluidas e parei a sangria de dinheiro a que me estava a custar imenso livrar.Fiz um ou outro amigo e aprofundei outras amizades mais antigas de Lagos. Tirei a primeira parte do curso de instrutor. Sou agora Assistente de Instrutor. Não sei muito bem para o que isso me vai servir mas há de servir para alguma coisa. Eventualmente. Vamos a ver.

Saí de lá algures em Outubro.
Fui para Lisboa. Voltei a Lagos umas semanas depois para tirar a teoria de Yachtmaster/Coastal Skipper e a prática de Coastal Skipper. Ainda não foi desta que fiz o exame de Yachtmaster. Tenho que dominar melhor a teoria e praticar algumas manobras mais cabeludas para me sentir preparado para o fazer. Espero fazê-lo em breve. Vamos a ver.

Entretanto fui contractado como Imediato pelo Jorge, o skipper com quem fui da última vez à Croácia para fazer o transporte de um catamaran das Seychelles às Maldivas. Fez-me um bem desmedido ao ego ele contractar-me. A pagar um salário decente para o que ando habituado. É um voto de confiança que não sei ainda muito bem como agradecer mas que estava a precisar imenso. Vamos três a bordo. Ele, eu e o atrick, um francês mais senior que toda a vida trabalhou em barcos e claramente tem muito mais experiência que eu. Logo, imediatamente portanto, não me sinto tão Imediato assim. Logo se vê. Ou vamos a ver.

Chegámos na 4ª feira. O barco está quase pronto. E tivemos um dia absurdamente excelente ontem. Fomos convidados para passar a tarde em casa de um sul-africano mais ou menos muito milionário numa ilha aqui ao lado. Envolveu um excelente almoço com ele, dois amigos e uma russa mais a tripulação do outro barco que vai fazer a viagem connosco, uma ida de semi-rigido a um excelente spot noutra ilha que é uma reserva e que me permitiu espreitar estas águas. Não vi nenhum tubarão mas vi peixe com fartura, alguns gigantes e o maior tropetfish da minha vida. Vi também muito coral morto mas a isso não vou ligar.
Há uma relação directa entre os mangais e a saude dos corais. Se se constroi demasiado na ilha, sobre os mangais, a proporção fica desequilibrada e os corais queixam-se. Não depende de mim e encaro isso como a evolução das coisas.
À parte desses detalhes a ilha é linda, obscenamente cara e discretamente luxuosa. Nunca tinha visto tanta modelo russa por hectare e deve ser um dos produtos de importação preferidos dos money makers daqui. Isso e barcos.
 Sinceramente não me importava nada de ser contractado por uma temporada para trabalhar num sitio destes para um gajo como o sul-africano.

Mas agora o que interessa é a viagem. Largamos amanhã. A Alba, a minha marinheira dos tempos de skipper do Panamá e entretanto excelente amiga, esta a trabalhar nas Maldivas e à minha espera.

Espero que continue a correr assim.
Vamos a ver.



 M.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Aqui estamos

E um mês depois, com demasiadas paragens em sitios não muito interesantes mas que se tornam interessantes por isso mesmo, estamos em Split. A cidade carinhosa e acolhedora onde já fui e continuo a ser mimado. Gosto muito disto.

Desde a útima vez que aqui escrevi tivemos uma tentativa falha para sair de Adra e mais uma paragem, Rocella Ionica, em Itália, depois de uma abordagem estranha e também falhada a Messina e a seguir a Regio Calabria que nos fez seguir viagem até esse porto. Mais ou menos o mesmo registo das paragens anteriores. Agradável de uma maneira estranha e sem delumbramentos.

Aqui, o barco foi limpo, organizado esvaziado e preparado em tempo record.
Chegámos domingo com o nascer do sol e no dia seguinte foi formalmente entregue à hora do almoço, depois de umas boas horas a esfregar aquilo.
Estava praticamente impecável com danos minimos para uma viagem destas, por isso estou satisfeito. Trabalho feito e mais 3000 milhas bastante decentes já cá cantam.
Os gajos que receberam o barco nem um obrigado disseram mas deram uma avalição ao inquérito de satisfação ao cliente excelente, por isso assume-se que é uma questão cultural e segue-se caminho.

Instalámo-nos num apartamento no centro e temos andando por aqui a com os meus contactos a ser bem tratados.

Amanhã o skipper regressa a casa e eu decido decido se aqui fico e continuo a saborear Split mais um dia, se vou para uma ilha chamada Brac com esses contactos ou se vou descobrir mais a Croácia. Tenho vôo marcado para a semana a partir de Zagreb a um preço fantástisco. Entre aqui e lá, logo se vê.
Ouvi coisas boas de lá. E de Zadar que até fica de caminho.
 Em qualquer dos casos para a semana volto a casa.

 M.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Saltos

Andamos a navegar entre tempestades/mau tempo. Sempre ou quase sempre de proa.
Uns dias de espera em Les Sables e pulamos para outros em Cascais à espera. Pára-se em Ayamonte para uns pequenos arranjos. Em Gibraltar para abastecer.

No último dia de navegação, acabei o meu quarto às 12 com 3 nós de vento na popa e mar quase estanhado, rumo Almeiria (cerca de 50 milhas) onde iriamos parar para deixar passar o mau tempo que aí vinha. Acordei duas horas depois com 30 nós de vento na proa e porrada qb.
Adra pareceu assim de repente uma excelente localidade para visitar.

Aqui dão uma tapa por cada cerveja. Podia ser pior.

Levante. Já se dizia: “De Espanha, nem bons ventos nem bons casamentos”.
Quanto aos casamentos não sei, mas a parte do vento confirma-se.

Parece que largamos daqui a uma hora. O levante continua mas deve cair mais logo ou amanhã. Passamos o Cabo de Gata e logo se vê. Estamos sensivelmente a meio da viagem, com 1350 milhas pela frente.
Vamos a ver quanto dura o próximo pulo. Idealmente seria até Split. Ou pelo menos até Itália já com boa parte da navegação feita.

M.

terça-feira, 31 de março de 2015

Tudo pronto



Estivemos à espera que isto passasse. 30 nós de proa não é simpático.
Parece que hoje à tarde o vento roda e cai. O sol já apareceu. Fizemos os últimos preparativos e compras. Mangueirada no barco e estamos prontos.
Já chega de Les Sables Dolonne. O dinheiro escasseia, tudo é caro e tem aquele ambiente estranho de estância balnear em época baixa. Com frio, chuva e vento todos os dias.
Mesmo assim não me posso queixar. Há aqui em frente o Joy’s cafe (joie de Vivre) e seu dinâmico dono Alan que teve uns momentos interessantes.  Excluindo a intensidade do odor desta malta. O mito de os franceses não tomarem banho… não é mito. Depois de uma hora de danças, cheira melhor na casa de banho do que no bar (skipper). Não entendo.
Depois é terra marinheira a sério. A malta da vela é respeitada e toda a gente aqui percebe a complexidade da coisa e não se surpreendem nada com estas esperas e imprevistos. Acarinha os marinheiros. E acontecem coisas improváveis como conhecer um homem enquanto fumava um cigarro à porta do bar, conversa de circunstância sem grandes coisas e vai-se a ver é o big shot da marca e fábrica dos veleiros J. No dia a seguir voltamos a encontrarmo-nos no bar e ele e um amigo levam-me de carro a um bar/casino para um ultimo copo. “É a hospitalidade de Les Sbles” (em francês mas não me lembro como é porque o meu francês está para lá de perro e esquecido depois de 10 anos sem uso). Estive para ir ontem visitar a fábrica mas não deu. Next time.
Fico com pena de também de não ter ido a La Rochelle. Mas é caro lá ir e certamente ia querer uma noite por lá. É uma questão de voltar cá para outro transporte que parta de lá. Fico à espera calmamente.
Até já.
M

sexta-feira, 27 de março de 2015

Les Sables Dolonne



Estou há três dias em Les Sables Dolonne. Com um skipper que respeito muito e com quem já há muito tempo queria navegar.
Convidou-me para o transporte de um Catamaran Lagoon 45 novinho a estrear para Split, Croácia. A última vez que lá estive a minha vida era quase outra. Encarava tudo como um desafio e tudo cheirava a folhas brancas de um caderno por escrever. Coisas boas.
Dali fui para o Panamá trabalhar pela primeira vez como skipper e passado quase dois anos as folhas brancas foram escritas com algumas tareias valentes, coisas e momentos muito bons e um regresso a portugal no mínimo mau. Nestes últimos meses tenho me entretido a sobreviver e resolver mil problemas que não fui eu que os criei, a acumular uma dívida à família porque enquanto não tivesse as coisas minimamente resolvidas não podia sair para trabalhar e a tentar não desanimar demasiado nem descarregar este acumular de tensões nas pessoas erradas.

Aumentei a minha dívida e investi numas formações. Tirei o STCW95 com o módulo de segurança e pirataria. E só há coisa de umas semanas consegui ter as coisas minimamente organizadas para procurar trabalho a sério.
Se quando voltei estava preocupado em arranjar um trabalho minimamente bem pago e que gostasse, agora o minimamente bem pago passou a ser verdadeiramente bem pago e o gostar não é assim tão relevante. Tenho dividas para pagar e não quero prolongar a coisa.
Assim, quando este skipper me convidou  para este transporte, um pouco a medo porque não me podia pagar nada mais para além das deslocações e despesas, hesitei. São cerca de 2.500 milhas. Isto vai ser por volta de um mês. Tinha prometido a mim mesmo não voltar a fazer estas coisas sem receber.

Mas é este gajo. E eu queria muito navegar com ele. E é de Les Sables dolonne. E eu nunca atravessei o golfo das Biscaia. E é Croácia. E eu gosto muito da Croácia. E é um barco novo em vez dos cancros cheios de tumores onde tenho navegado nestes últimos embarques. E tudo é clean e cheira a novo. E tudo funciona sem remendos nem invenções. E eu preciso tanto de ir para o mar e ter uma navegação saudável, sem cancros nem esquizofrénicos, bipolares ou dementes em geral.
Vamos a isto…. “Enquanto houver ventos e mares a gente não vai parar”.
Para a semana largamos. A ver.
Ok. Encaro isto como mais um investimento. Espero aprender bastante com ele e esta viagem. Fica bem no meu CV este transporte mais profissional.

Agora estamos aqui. O barco está praticamente pronto. Andámos a forrar as paneleirices todas para não estragar nem riscar. Hoje mudámos os cabos de amarração, vimos o mastro e instrumentos. Fizemos já três rondas de compras, comprei o meu colete e (mais um) frontal e basicamente a qualquer momento temos o barco pronto para largar em poucas horas.
O tempo até há poucos dias estava totalmente favorável. Virou entretanto. Anteontem fazia sol, hoje chove e estão uns 20 a 35 nós de vento. Pela proa do nosso rumo. Vai ser assim e pior até ao fim do fim de semana.

Para já é saborear o facto de estar viver num barco como deve ser, longe das tempestades em terra.




M.



quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Emigrante regressa em Agosto

Entre falta de acesso a internet e um portátil defunto isto deixou mais uma vez de ser escrito. E mais uma vez aconteceram demasiadas coisas para escrever aqui.
Demasiadas para tentar sequer um resumo agora.

Fica só um voltei a Portugal um ano após ir para o Panamá, quase atravessei o oceano atlântico todo e agora tenho um portátil de novo por isso já posso manter isto.

Até já.

M.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Shelter Bay - Bocas del toro II

O motor do Arctic aquecia se muito tempo acima das 2000 Rpm. Foi isso que o fez estoirar naquela maldita travessia do canal. Chris o tal mago não estava seguro da capacidade de ele aguentar. A junta da cabeça foi subsituída e a deformação que houve do sobreaquecimento estava muito perto do limite máximo da Yanmar.
Depois era preciso acrescentar água com regularidade. Não me preocupei muito. Há velas e tempo. Fomos andando.

Numa noite, acho que na primeira apanhamos uma squal bruta. De dia dá para as ver chegar. De noite, sei agora, sente-se. Iamos com todo o pano içado. Vou ao leme e estamos sem piloto automático. O Chris a lutar entre ir lá a baixo verificar o nível de água e tentar não enjoar. É duro. Sempre enjoou intensamente e mesmo assim aceita vir neste tipo de coisas. Não pode baixar mais que o estritamente necessário. Tudo o que é refeições, vhf ou o que implique entrar no interior do barco, faço eu.

Sinto o vento a rodar 90 e depois 180º. A temperatura baixa e o vento sobe. Percebo institamente que algo vem aí. Digo ao Chris: Vem aí uma squal. Vamos baixar já as velas. Ele não acredita em mim. Tarda em fazer as coisas. Lentamente. Recolhemos a genoa. Quando termina a squal está em cima de nós. Chove brutalmente, o vento carrega cada vez mais e começam os relâmpagos em cima de nós. Sempre a crescer. Ele está num misto de confuso e surpreendido. Passo a ser capitão. Ordeno que venha logo para o leme e aproe ao vento que não tem direcção precisa. Vou ao mastro baixar a vela grande. Não consegue aproar. a vela tarda em baixar. Um relampago que ainda hoje não sei se acertou ligeiramente ou totalmente o barco ou não, cai em cima de nós. Estava no momento a olhar para cima. Deixo de ver e fica tudo escuro. Ponho-me de joelhos para não perder o equilibrio a pensar "estou fodido".
Tarda muito tempo (talvez minutos talvez segundos) até voltar a ver alguma coisa. Só oiço o Chris a perguntar o que se passa naquele seu estranho brasileiro de suiço que vive nos states. Não lhe quero dizer até eu próprio perceber. Só digo Não vejo nada. Espera. Mantem rumo, está tudo bem. Tem atenção ao Karl.
Volto a ver. Sinto alivio e tenho as pernas a querer tremer. Acabo de baixar a vela. Subo os dois apoios do mastro para agarrar a adriça, com medo que venha outro relâmpago.Não param de cair ali ao lado. Prendo a vela o melhor que posso. Luto entre a vontade de a deixar mais ou menos presa e a consciência que isso pode implicar mais tarde ter de voltar a fazê-lo se se soltar.

Volto para o leme. Tento encontrar o rumo naquele caos. A agulha roda como uma louca. Com a chuva a visibilidade é perto de zero. Felizmente naquele momento estava a fazer um dos meus bordos para terra e não estavamos em cima do Karl. Mas andámos muito tempo não sei em que rumo e às voltas. Não fazia ideia se nos tinhamos aproximado dele ou não. Tento ver as suas luzes na escuridão e no meio da cortina de chuva. Não consigo. O Chris está a tremer. De frio e descarga de adrenalina. Estavamos os dois encharcados como se tivessemos saido do mar. E a squal continua, o mar cresce, a chuva, vento e relâmpagos não param.
 Apercebo que sou eu que tenho que mostrar segurança no que faço e manter a calma. E faço-o. Não sei se pouco ou muito tempo depois passa. Para nós foi muito. Da mesma maneira que chegou foi-se embora. Fica alguma chuva enquanto o vento cai e os relâmpagos começam a afastar-se. Estou preocupado com a Nike e Dimitrius. Tenho ideia que iam também de pano içado a última vez que os tinha visto.Não são experientes neste tipo de coisas. O barco deles é mais velho. E há sempre os relâmpagos. Passo o leme ao Chris e vou ao VHF chamá-los. Não respondem. É normal as regras dizem para não se usar aquilo quando há relâmpagos. Quando tudo passa, oiço-os chamarem. Vejo as luzes ao longe. Afastámo-nos muito um do outro. Está tudo bem.

 Mudamos de roupa, faço um café e algo para comermos. Merecemos. Continuamos a navegar. Pouco depois o Karl contacta-nos. Está com problemas no motor. Falha e vai a baixo. Liga-se, aguenta um pouco e volta a morrer. Faço de ponte entre o Chris e a Nike e Dimitrius no VHF. Ele vai fazendo as perguntas e dando as sugestões de forma técnica, eu transmito-lhes o melhor possivel e tento transmitir-lhe a resposta. O melhor possível. De um lado um suiço americano a falar um brasileiro estranho que percebe tudo de mecânica, do outro uns alemães e falarem inglês bom mas sempre com aquele sotaque Allô, Allô que não percebem quase nada de mecânica e um português a tentar transmitir o que cada lado diz que ainda percebe menos de mecânica que os alemães. Interessante.

Continuamos a navegar mais umas horas a velocidade caracol. acompanhado-os enquanto eles desmontam coisas e voltam a montar. Regularmente ficam sem motor. Tentamos encontrar soluções. Nada serve. O depósito de combustivel do Karl deve estar sujo e os balanços da Squal fez levantar a sujidade. Tentam ir à vela. Não dá. O vento morre. Já não me lembro bem mas estamos entre 80 e 100 milhas de Bocas. A umas 40 ou 60 de Escudo de Veraguas, uma ilha deserta que fica mais ou menos no caminho, um pouco fora de rumo.
Há que tomar uma decisão: Voltar para Shelter Bay ou seguir caminho. Se estivessemos sózinhos não tinha duvida. Mesmo que o nosso motor morresse tinhamos tempo para ir à vela. Era uma questão de poupar motor para podermos entrar na boca. Já fiz umas 700 milhas com um motor a morrer e à vela comentre 0 e 7 nós de vento. Nada de novo aqui. Com eles a minha vontade mantém-se. No pior cenário reboco-os. Quanto mais não seja até Escudo de Veraguas onde ficariam fundeados.
O Luís devia estar a passar mais tarde ou mais cedo com o Helena S. Ele tem jerricans de combustivel que eles poderiam usar em alternativa ao depósito sujo. É uma questão de aguentar. O chris não acredita que o conseguiriamos encontrar no mar. Eu tenho quase a certeza que sim. O rumo é directo e a menos que haja vento suficiente para compensar a andar a fazer bordos longos, ele vai ter que passar ali perto. É uma linha recta. Volta a pesar a minha escola. Agradeço-a.

Não há segurança e eu não posso em consciência garantir que vai correr tudo bem. Nem no Arctic posso confiar que vai correr tudo bem e aguenta rebocar outro barco. Nem sequer temos a certeza que ele sózinho aguenta bem. Só experimentando.
Depois há os timmings de vôo. Chris com um vôo dali a uns dias. Dimitrius também. Ir em frente implica quase de certeza perderem os vôos.
Decidimos voltar para trás. É uma decisão dificil para todos. Há frustação. E responsabilidade.
Voltamos. Ao fim do dia, a cerca de 40 milhas de maldita Shelter Bay, o Karl morre totalmente. Não há vento nem motor.
Faço o primeiro reboque da minha vida. Vou lá a baixo ver os manuais, estudo com o Chris como fazemos a manobra e transmitimos a Nike o que há a fazer. Correu de forma exemplar.
Agora sou quase capitão de dois veleiros.
Antes de anoitecer vejo o que julgo ser Helena S. a passar no sentido contrário.Longe mas visivel. Julgo não, tenho quase a certeza. Podemos estar safos. Chamo insistentemente pelo VHF: Helena S., Kiki, Luís. Berro uma e outra vez. Nada do outro lado.
Imagino-o a ouvir musica alta, a fumar um charuto, a saborear o mar e a pensar nos seus textos ou livros ou mulheres, ou tudo, com o rádio desligado porque ali não há ninguém mesmo. Só nós.

Chegamos na madrugada seguinte. A fazer tempo para o nascer do sol. Contornamos o molhe, passamos a boca da barra, coloco o Dinghy na água, soltamos o Karl e eles tentma manter o motor a funcionar. O chris vai ao leme atrás no arctic. Eu acompanho-os até à marina de dinghy para ajudar nas manobras de atracar e estar ali para o caso de ficarem sem motor.
De novo tudo exemplar.
Volto para o Arctic. Atracamos.
Estou exausto. Estamos exaustos.
Realizados.
E depois vem a preocupação. Deviamos estar em Bocas dia 20.
O Chris tem de se ir embora e eu estou sem tripulação.
Agora há que lidar com isso.

M.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Shelter Bay - Bocas del toro I

Ainda em Shelter Bay, tive o prazer de conhecer a Nike.
Uma alemã de trinta e picos que achou boa ideia deixar o trabalho, comprar um chasso de um veleiro de aço por tuta e meia que estava meio ao abandono aqui no Panamá, formar-se como marinheira, pôr o barco navegável e navegar em solitário algures até ao Chile e depois Pacifico.

No processo arranjou uns patrocinios, faz um video semanal para publicar e angariar mais patrocinios. O projecto chama-se "white spot pirates" e a série de videos "Untie the lines".
Ainda que não me reveja no conceito e exposição pessoal, com as questões menos perfeitas de marketing que lhe estão associadas,  fascina-me sempre assistir a alguém a concretizar sonhos. E este é bonito e bastante ambicioso.

O Luís trouxe a Nike a bordo para jantar com mais uma malta convidada que andava por ali perdida (em Shelter Bay) que se bem me recordo consistia em um casal de irmãos que viajavam de mota desde o Canadá, um outro motoqueiro também ali perdido todos a ver se encontravam barco para chegar a Cartagena (não há estrada entre o Panamá e a Colombia, só avião ou barco), o Chris e eu e mais não sei quem. Foi o tal do arroz de polvo. Ou pensando bem foi o jantar antes desse, só nós e ela. Já não me lembro.
Nesse mesmo jantar, mais tarde e depois de uma conversa animada e regada de pessoas que têm em comum o mar e o facto de estarem ali perdidas, conheci o Dimitrios. Amigo de longa data da Nike de descendência grega e que resolveu vir passar umas férias a ajudar na recuperação e preparação do barco, acabado de chegar da alemanha a tempo de comer os restos e beber uns copos .
Estes dois cromos passaram a fazer parte dos jantares a bordo do Arctic. Não tinham fogão a funcionar e nós precisávamos de pessoas de fora que nos quebrassem a rotina e intensidade de convivio e trabalho. Era um bom acordo. E foram mais importantes para mim do que alguma vez iria supor.
Foram horas e horas de conversas e palhaçada. Copos e descontração. Partilha de projectos. Dois iniciantes de skipper.

Quando finalmente consegui ter tudo pronto e o OK para saír de Shelter Bay, combinámos ir juntos, os dois barcos, Arctic e Karl, eu e o Chris e a Nike e o Dimitrios. Eles anteciparam a partida para terem a segurança de navegarem com apoio. Nós tinhamos de estar em Bocas o mais tardar no dia 20. São 140 milhas. Contra vento, mar e corrente. Era dia 14 de Setembro.

Foi a minha primeira viagem como Skipper. Portei-me bem. Tomei decisões correctas. Fiz bordos longos completamente fora de rumo para encontrar o vento. Encontrei-o e aproveitei-o. É a vantagem de navegar com outro barco. Percebemos se arriscámos bem enquanto eles mantêm o rumo certo e quando nos reencontramos eu estou mais à frente. Aqui pesam a escola e milhas que tive de regata e entregas de veleiros.
O Arctic, apesar de ser um chaço (ou chasso nunca sei), surpreende-me a navegar à vela.

M.




domingo, 22 de dezembro de 2013

A limpar o pó aqui acumulado - Bocas del Toro

Estou na esplanada do El Pirata.  É o meu sitio nas manhãs em Bocas. Tem internet, expresso que por vezes até é razoável e uma vista que adoro.

6ª feira foi o meu último dia como Skipper do Helena S.
A última vez que aqui escrevi foi em Setembro, ainda estava em Shelter Bay e cheio de ganas para fazer isto resultar. Nestes mais de 3 mêses que passam entretanto muito pó acumulou-se aqui e aconteram muito mais coisas do que eu tenho capacidade de sintetizar neste espaço. A um ritmo que não quis acompanhar. Há  processos que são intimos.

Talvez depois consiga sintetizar aqui o mais importante destes meses mas para já o mais importante é que fui skipper pela primeira vez quando naveguei de Shelter Bay para aqui, a primeira tentativa foi abortada mas correu muito bem, a segunda foi bem sucedida e correu de forma perfeita só faltando um pouco mais de vento por mais tempo, fui algumas vezes skipper entretanto, ainda que teóricamente o tenha sido desde esse dia, fiz os possíveis para criar um negócio e preparar o catamarã para a temporada alta que começa algures nesta semana que vem, me despedi há umas semanas atrás, fez ontem uma semana que chegou o meu substituto e na 6ª feira tive o meu primeiro dia de folga (dos para aí 10 ou 15 ou sei lá que tive nestes 5 mêses de Panamá) sem estar preocupado com o volume de coisas a fazer no barco.
Este fim de semana foi de festa, não dormi no barco e encerrei um capitulo.

Fico mais uma semana a ajudar na transição para o novo skipper. Passar o posto na 6ª feira foi uma decisão necessária porque como me disseram neste processo "um barco só conhece um skipper" e estavam ali dois. E foi uma excelente decisão.

Estou livre.
Depois dessa semana, quero acabar o Divemaster que entretanto comecei e interrompi porque era impossível ter tempo para tudo.

Depois disso não faço puto de ideia. Há uma hipótese algo remota de ajudar a levar um veleiro para as British Virgin Islands e de ir no mesmo barco atravessar o oceano algures em Maio. Mas é muito remota e os timmings do dono não são muito compativeis com os meus. Pelo menos no que toca à data de largada daqui.
Há outra hipótese remota de ficar uns tempos no Centro de Mergulho mas suspeito que essa não será sustentável.

Ando a ver o que há.
E para onde me leva o vento.

M.



domingo, 8 de setembro de 2013

Ainda aqui estamos

Papeis. Peças encomendadas que chegaram trocadas. Coisas que aparecem.
Ainda aqui estamos. Agora a data de partida mais optimista é 3ª feira que vem. As peças para o motor do Arctic supostamente na 2ª.
Originalmente a ideia era estarmos aqui cerca de 3 dias. O Arctic teve problemas de motor. O Helena é um bicho com carácter, no minimo.

Esta empresa não se devia chamar Make Fast. É uma espécie de Stª Casa da Misericórdia dos barcos. Os barcos são velhos, negligenciados e abandonados. A precisar de carinho e cuidado. Make fast tanto quanto possível.
Exemplo: Um gajo tem a missão de fim de tarde de prender a bomba do chuveiro exterior. Coisa simples: Quatro furos numa placa de madeira para prender a bomba e outros dois para prender o conjunto na parede do compartimento onde vai ser pendurada, mais sicaflex e 6 parafusos para o efeito. A meio do processo percebe-se que a mangueira pinga numa união. Quando se desmonta a mangueira sai a água do depósito com bocados de uma espécie de alface a flutuar. Tira-se o tanque para esvaziar, lavar, e deixar uma noite em água com lixivia para estar em condições de ser usado. Nisto a bomba, o tal trabalho simples, não é montada no sitio.
Os dinghys (ambos os dois) metem água. Hoje esvaziei-os enquanto para sentir que algo de util estava feito.
A verdade é que nada está feito até os tirar da água e remendar a entrada de água.
Chris, o tal mago do barcos e nosso Robert Redford particular, é mesmo um mago. Faz tudo e quase tudo de uma forma impecável. A pedido do Luís ele está a ensinar-me tanto quanto pode. Ou melhor, tanto quanto consigo.Faço mais asneiras do que coisas certas. E sinto que ele gosta de mim. Temk uma certa atitude paternal no meio de um certo mau feito que eu gosto.

Hoje baldei-me bastante ao trabalho. A noite foi longa.
Estou cansado e eternamente dividido entre a necessidade de parar um dia ou dois e saber que o barco tem que estar pronto. E quanto menos fizer mais tarde saimos daqui. Pensei mais um a vez ir a Panamá City. Mais uma vez não consegui porque sabia que não ía estar descansado lá a pensar no que há para fazer. Dois dias de trabalho são muitos dias aqui.
Por outro lado há a questão da produtividade.Se parar um dia ou dois, sei que vou produzir muito mais. É complicado.

Entretanto a estadia aqui melhorou. Os miudos seguiram o seu caminho. Estavam fartos e eu farto deles. Era altura e as coias não estavam a funcionar.
Graças ao Luís, encontrámos gente que nos trouxe um novo folego de ar fresco. Ontem cozinhei um arroz de polvo manhoso para 7 pessoas que por 5 delas nunca o terem comido acharam bom. E ainda fiz o meu primeiro mergulho neste lado. No meio da marina, à noite, para encontrar 4 garrafas de vinho tinto que cairam na água por um saco de plástico ainda mais manhoso que o arroz que se rompeu quando o Luís punhas as compras a bordo. Tentei ir inicialmente, à tarde, sem garrafa. São cerca de 9m de profundidade e 1m de visibilidade com o lodo que se transforma em 10cm assim que se levanta o sedimento do fundo. Já com o equipamento manhoso do Helena, encontrei duas à noite, suficientes para completar as que sobreviveram. As outras duas hoje à hora do almoço. Ontem demorei bastante. Hoje demorei uns 20 minutos ou mais no total. A primeira (ou terceira) foi rápido. a 2ª (ou 4ª) estive quase a desistir. Sou teimoso. Ainda não percebi se é uma boa ou má qualidade.

O resto, Luis explica melhor que eu.

M.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Correcção

A lua Nova ainda não passou. Mas só faltam 7%.
A partida parece que afinal não é amanhã. Papeladas e coisas assim que estão em falta. Fica para depois de amanhã.
É sempre dificil sair dos sitios aqui no Panamá. Nunca me tinha acontecido isto. Já em Balboa foi o mesmo. Parece que nos querem prender e não deixar ir.

Entretanto começo a fazer as pazes com esta marina, o que deve ser sinónimo de algo parecido ao Sindrome de Estocolmo.

Falta só um molinete. É dos complicados e para variar há um parafuso que é teimoso.
Vou tratar dele agora.

M.

Optimismos moderados


Se tudo correr como esperado depois de amanhã largamos para Bocas del Toro. De preferência com o nascer do sol. Estamos a precisar tanto que seja uma boa viagem como de sair desta marina. O L. vai ao comando do catamarã, ex-Kiki renomeado Helena S. em homenagem à sua filha, com os dois miúdos.

Hoje ficaram as velas prontas. Os 5 molinetes do cockpit foram desmontados e limpos, um do mastro está desmontado e faltam outros dois. Estavam num estado lastimável. Estão agora aceitáveis. São quase todos diferentes. Para os dois primeiros, os maiores, precisei de procurar na internet o esquema para conseguir voltar a montá-los. Demorei dois dias para isso. Os restantes demoraram tempo entre parafusos que não queriam sair e imundice que também não queria sair. Hoje tive uma hora para tirar um parafuso teimoso. Eu sou mais teimoso.
O último que desmontei é o mais complicado. Tem rolamentos e uma data de pecinhas. Ìa perdendo um rolamento.
 O Helena S. ainda está com aspecto de estaleiro mas tirando os molinetes falta só pôr óleo na caixa, arrumar a tralha e fazer o teste de mar amanhã.

O Arctic Front vai sob o meu comando com o Chris, o tal mago dos barcos. É mesmo um mago e damo-nos bem. Só tenho pena de não o estar a ajudar para ir aprendendo com ele alguma coisa. Paciência.

A viagem será de cerca de 140 milhas. O Helena faz facilmente mais uns 2 a 5 nós que o Arctic, suspeito. Como vamos em frota imagino que o L. andará às voltas do Artic para ocupar o tempo e divertir-se. É um cromo.
 Entretandto os espíritos melhoraram. Estamos em modo partida. No fundo é só mais um dia.

A ver se a maré muda e começam a acontecer coisas boas. Muito boas já agora.
A lua cheia e nova passou. Estamos noutra lua a crescer.


M.

Faz toda a diferença



Um bom jantar, um bom vinho, um bom rum, um bom charuto e uma boa conversa.
Muda tudo.

M.


sábado, 31 de agosto de 2013

Squall

A strong wind with sudden onset and more gradual decline, lasting for several minutes. Wind speeds in squalls commonly reach 30–60 mi/h (13–27 m/s), with a succession of brief gusts of 80–100 mi/h (36–45 m/s) in the more violent squalls. Squalls may be local in nature, as with isolated thunderstorms, or may occur over a wide area in the vicinity of a well-developed cyclone, where the squalls locally reinforce already strong winds. Because of their sudden violent onset, and the heavy rain, snow, or hail showers which often accompany them, squalls cause heavy damage to structures and crops and present severe hazards to transportation. The most common type of squall is the thundersquall or rain squall associated with heavy convective clouds, frequently of the cumulonimbus type. Such a squall usually sets in shortly before onset of the thunderstorm rain, blowing outward from the storm and generally lasting for only a short time. It is formed when cold air, descending in the core of the thunderstorm rain area, reaches the Earth's surface and spreads out. Particularly in desert areas, the thunderstorm rain may largely or wholly evaporate before reaching the ground, and the squall may be dry, often associated with dust storms. 
Squalls of a different type result from cold air drainage down steep slopes. The force of the squall is derived from gravity and depends on the descending air which is colder and more dense than the air it replaces. So-called fall winds of this kind are common on mountainous coasts of high latitudes, where cold air forms on elevated plateaus and drains down fiords or deep valleys. 

A minha irmã faz hoje anos. Mais um momento em que não estou presente. Ando a coleccioná-los bastante estes últimos anos.
A minha mãe telefonou-me de manhã quando estavam todos na casa entretanto reformada a lanchar. Apetecia-me estar lá. Vai haver festa da boa.

Acabei há pouco de almoçar. Quando bebia café e via mails apareceu um squall. Bruto ao som de Rokia Traoré que um amigo tinha publicado na sua página de Facebook o que me pareceu bastante adequado já que isto é mesmo um sitio estranho. Apanho uns 3 ou 4 por semana mais ou menos. Mais para mais do que para menos.

Tinha pensado ir hoje ao Panamá (cidade) desanuviar. Não é possível. há que terminar os veleiros e tentar arrancar no máximo na 3ª feira. Os humores aqui estão como o tempo. Aparece um Squall de vez em quando, sendo esse de vez em quando algo frequente. Está tudo farto de estar aqui, com pouca paciência e vontade. Somos 4 a dormir num veleiro algo caótico numa convivência intensa tipo Big Brother e cada com um com as suas questões e razões de queixa. Os dois miúdos querem arrancar e seguir viagem. Estão só à espera de levar a os veleiros a Bocas. Entretanto a disponibilidade e vontade diminui a cada dia que passa. Já passou o tempo de estarem aqui.

As coisas não vão sendo fáceis. Estou aqui há um mês mais ou menos. Práticamente ainda não naveguei, as vezes que naveguei mais valia não o ter feito e mal posso esperar o momento de meter no mar e ir parar a algum lado que possa gostar. O trabalho ée feito a ritmo de caracol, desorganizado e descoordenado. Não sou dono do meu tempo e o isolamento a que estou habituado não existe nem é possível aqui. Não estou habituado a isso.

Ontem no banho dei por mim a cantar "e depois do adeus".. "Quis saber quem sou, o que faço aqui..." o que é tão estranho como os squall's e humores que aparecem de vez em quando aqui.

M.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Magias

Ontem o Artic Front serviu de cenário para a gravação de um video de um cantor local de reagge. Parece que o gajo é conhecido e assim que o video tiver terminado ponho-o aqui.

O catamarã (kiki que provavelmente passará a chamar-se Helena S.) já tem motores a funcionar e estamos em arrumações/organização/limpeza. Tem material que nunca mais acaba e vê-se que foi um barco de marinheiros. Hoje vamos por-lhe o verdadeiro motor: as velas.

Amanhã chega aqui um gajo que me foi descrito como um mago dos barcos, vindo de flórida. Vai ficar umas duas semanas connosco a tratar dos barcos e principalmente o renascimento do motor do Artic. O catamarã arranca com o Luís e os miudos para Bocas del Toro assim que tiver pronto.

Eu fico aqui nesta baía estranha com o mago a tratar do artic e seguimos os dois viagem para Bocas espero que antes do fim de semana.
Estou a precisar.

M.

domingo, 25 de agosto de 2013

O tal canal demoniaco

O barco foi para a água já não sei dizer quando. Não correu bem. Ficou um cabo solto na água que se enrolou na hélice ou no veio e dobrou o varandim onde estava preso. Aquilo ficou com mau aspecto.
O L. ficou furioso com aquela saída. Acho que a culpa foi da malta de terra que lançou mal o cabo.
Estivemos ali uns dias fundeados. Mais reparações e uma to do list que a cada item riscado apareciam dois novos itens.
Rick, o gajo que veio arranjar os metais é complicado. Quando começa com conversas de adiar o prazo que tinhamos combinado temos um ligeiro stress intenso que mais tarde foi resolvido. Às vezes tem de ser assim.
Uns jantares e copos de descontração no Casco Antiguo.

O dono da empresa, Mike, vem ter ao Panamá dois dias antes da partida para o canal. Não consigo afinar com ele. Acontecem cenas foleiras que caem mal e que não interessa estar aqui desenvolver mas a titulo de exemplo acordar-me às 6 da manhã para pedir emprestados 60 dólares para pagar o táxi porque não consegue levantar dinheiro não é bom.
Em compensação foi antecedido de um jantar de despedida fabuloso com todos no Finca del Mar.

Vamos para o canal depois de uma maratona de preparativos descoordenados que envolveram duas viagens de táxi com o Alexis com os colchões exteriores para o barco mais uma alcativa que me implica com os nervos e um sem fim, de coisas.
Vem connosco para além do obrigatório adviser que se revelou um bacano, um local, o winston, como line handler para dar uma ajuda. Também não consigo afinar com ele. Tem a mania.

O motor aquece assim que começamos a travessia. Há uma velocidade minima a manter de 5 nós. Paramos duas vezes para meter água e deixar o bicho arrefecer. Passamos uma comporta. Duas. Manobras complicadas de um barco pesado com um motor fraco e em esforço e personalidade própria. Sempre a aquecer. No caminho para o lago que fica a meio já não nos deixam parar para além de uma vez. Deviamos por agua de 20 em 20 minutos. O motor vai na versão motor de vapor até onde pudemos fundear metendo-se água em andamento. Quando paramos já sai água pela cabeça de motor.

Fundeamos no Lago Gatun por 3 noites à espera que nos arranjem um reboque. O dono stressa com os imprevistos e os gastos. amua.
Eu e o L. saímos do barco para arranjar provisões, gelo e combustivel para o bote. Supostamente é proibido mas somos portugueses e temos este dom. Os guardas simpatizam connosco.
No último dia vou com os putos no dinghy ver se encontramos crocodilos. Não vi nada mas eles fartaram-se de ver, segundo eles. A grande distância.

Entretanto arranjamos também em terra um gajo para nos vender combustivel e rebocar que não é aceite pela autoridade. O nosso agente, Pete, um cromo deslocado aqui não sei há quanto tempo, finalmente nos safa. Acordamos às 6 da manhã com um rebocador a acordar-nos. Passamos mais duas ou três comportas de braço dado. Entramos no mar. São brutos. Mais danos nos varandins, Eram para nos levar até à boca da marina de Shelter Bay, onde nos espera o catamarã entretanto comprado e que visitamos cerca de uma semana antes. As autoridades não deixaram. Ficamos mais uma noite fundeados na baía do lado oposto do canal.
O dono tem um xelique (nunca soube como se escreve isto se com x ou ch mas tem uma coisa dessas). L tem cada vez menos paciência para ele. Eu também. Ele resolve que quer ir passar a noite à marina, num quarto de hotel para sossegar o pito.  Vou levá-lo ao outro lado da baía de dinghy em silêncio porque não me apetecem mais lamechices para as quais estou pouco tolerante. Paro para deixar passar um navio que vem do canal. Continuo e tenho que me despachar porque tenho de voltar antes de anoitecer. Pelo sim pelo não levo comigo lanterna e o meu GPS e vou pensando pelo caminho que não fui contractado para este filme. Deixo-o e venho-me embora sem trazer cervejas para a malta porque não quero mais nada com ele. o barco é apertado para 5 pessoas que não estejam em formato casal. Os putos dormem no camarote de proa, o L na cama de piloto, o dono na suite de popa e eu umas vezes cá fora, outras na mesa. Só dormi bem cá fora tapado pela vela grande para proteger da humidade e chuva na ultma noite. Estou cansado.

De volta ao Artic Front (chama-se assim o bicho) L espera-me com algum cuidado/preocupação. Jantamos os quatro descontraídamente.
De manhã levantamos o ferro à mão (mais uma vez porque sem motor não há guincho para o puxar). É fundo e por isso há muita corrente para içar. içamos velas e finalmente navegamos com vento. A manhã está escura. O vento está bom para nos levar para Shelter Bay. Vêm dois navios ao longe. As autoridades não nos permitem passar e dizem que temos de esperar mais 20 minutos. Andamos ali ás voltas entre navios, à vela, a fazer tempo. A visibilidade piora, o vento entra nos 20a 30 n´so com refregas fortes. Uma passagem mais apertada e uma refrega bruta associada a um veleiro de aço com vontade própria levam-nos a albarroar um navio que estava fundeado. Mais danos. L. passa-se com o erro. Eu só penso que se fosse eu ao leme, no dia seguinte estava a apanhar um avião para Portugal.
São menos danos do que esperavamos.

O vento começa a caír quando nos autorizam atravessar. A visibilidade com a chuva diminui. Chove muito aqui no Panamá. Praticamente todos os dias, várias vezes ao dia. Pior que os Açores acho eu.
Vamos a navegar quando olho para trás e vejo o dinghy a ficar para trás. Soltou-se. Duas tentativas de manobra de homem ao mar versão bote. O veleiro continua teimoso e com vontade própria. Falharam. Atiro-me à água para ir buscá-lo a nado. Nao há tempo a perder. A nadar penso em crocodilos e tubarões. Chove desalmadamente. Regresso com o bote. Atravessamos finalmente para o outro lado da baía. Vêm ter connosco duas lanchas para nos rebocarem para a marina. Uma delas começa a falhar.
Chegamos.
Ainda não percebi se sou que trago estes azares e filmes mas começo a achar que sim.

O dono trás-nos umas cervejas, vem boa onda e pede desculpa pela atitude dele. Bebemos as cervejas e limpamos e organizamos minimamente o barco.

À noite estou a jantar com o L a tentar descontrair e o Mike a embebedar-se no bar com uns locals que basicamente lhe estão a chular os dolares. Quando o bar fecha e ele sai com os locals, L levanta-se e vai lá sugerir que ele se vá deitar. ele está com mau vinho e assuntos mal resolvidos. Exalta-se e altera-se. Despede-o. Passa por mim e diz: M., L is fired, you are in charge. Digo-lhe que não, Sou despedido no momento com um colérico e frustado Get your shit of my boat now!
Para além do salário deve me dinheiro que avancei por causa dos problemas a levantar dinheiro que tiveram. Passei-me. Poucas pessoas me irritaram assim. dei de mais para estar a aturar estas merdas. Torno-me bruto. Vamos ao barco buscar tudo o que temos. Os putos resolvem seguir-nos. Ele fica sózinho no barco e nós os quatro no quarto de hotel onde ele esteve. Nunca tinha sido despedido.
Estou feliz por ver-me livre deste filme. Já há algum tempo que sabia que isto não ía correr bem.
Noite má com calor melgas e mosquitos.

No dia seguinte o dono da empresa está profundamente arrependido do que filme que se passou. Quando acordo L. diz-me que vai ficar com a empresa, os dois barcos e o Mike sai de cena com um bom acordo de pagamento por cinco anos.
Numa noite sou despedido, na manhã seguinte sou contratado pelo novo patrão que também tinha sido despedido.
Uns dias mais tarde sou sócio da empresa.

Entretanto esteve lua cheia. Vou acreditar que foi uma lua estranha que causou isto tudo.

A vida no Panamá tem sido monótona.

M.

domingo, 11 de agosto de 2013

No Panamá

No Panamá. Vivo e muito bem.
 Há muito para contar e pouco tempo para o fazer. a ver se mais tarde compenso.

Andei cerca de 38 horas em aeroportos e aviões, passei uma noite a dormir numa bancada do aeroporto de Santo Domingo porque o check in era às 5 da manhã e não valia a pena ir para um hotel. o vôo foi cancelado e fiquei no aeroporto até à tarde. Há um filme com o Tom Hanks em que ele vive uns tempos num aeroporto. Comecei a ponderar em também começar a construir um fonte mas não encontrei material nem sitio para isso.

Fui bastante bem recebido aqui. Já conheço o barco. Estava na doca seca para pintar o casco quando cheguei. Dois dias depois foi para a água. Tenho dois miudos a trabalhar comigo. Uma espécie de itenerantes que andam a viajar pela américa do sul com pouco dinheiro. Um, o Nano, vem da Argentina outro, Gaston, do méxico e cruzaram-se aqui no Panamá. São duas figurinhas de cromos de platina. Muito boa onda e boa gente. Temos vindo a preparar o barco para navegar, sempre a contra-relógio e com mais listas de coisas para fazer do que tempo. Ainda não estou inteirado de tudo nem sequer com metade do ritmo que gostaria de estar. Passo mais tempo a tentar perceber o que hei de fazer do que a fazer coisas própriamente.
Ainda estou longe de me considerar Skipper (ou Captain ou Capitan ou capi como insistem em chamar-me) mas hei de chegar lá. Em qualquer dos casos o barco tem que estar pronto na 3ª feira. Impreterivelmente. 4ª feira cruzamos o Canal do Panamá e rumamos a Bocas del toro. Depois navego uns dias com o Luís. A ver se aí ganho confiança suficiente para assumir o posto. Até lá sou imediato.

Para ser original o meu telemóvel não funciona aqui. O Luís arranjou-me um daqueles que não têm botões e são de massajar com o dedo. Há uns cerca de 60% de dificuldade derivada da estupidez que me assiste há longo tempo e uns 40% de resistência do meu subconsciente. Isto vai demorar.

 No café do clube onde estamos fundeados não há café nem internet desde há dois dias. A falta de um é tão grave como a falta de outro e só falta dizerem que se acabou a cerveja. Mas sempre incentiva à utilização do telemóvel sem botões.

 Estamos fundeados na boca do Canal num sitio que não é totalmente mau mas tem o inconveniente de estar separada do centro da cidade por El Chorrillo, o bairro cabeludo da cidade o que me obriga a apanhar um táxi cada vez que quero ir lá. Não tem piada.
 Bom. Depois continuo. Começo a ficar de consciencia pesada por ter deixado o Nano sózinho a bordo a trabalhar. Há uma lista grande de coisas a fazer até 3ª feira.

M.

sábado, 27 de julho de 2013

Daqui a pouco

Chego a Portugal.
Estou no aeroporto de Colonha (não sei se isto se escreve assim) a fazer tempo para o meu vôo.
Passei parte da manhã no estranho, pequeno e quente aeroporto de Split, com um atraso de 40 minutos do meu vôo e uma data de camonesdeitados em cada cm2 possível do chão.

Em Vis arranjaram-me um quarto no outro lado da baía mesmo em cima do mar. Dei incontáveis mergulhos sempre que me apeteceu. Deixei o quarto-sala da sr-ª idosa viuva de um Capitão da Marinha que canta no coro. Já me fazia panquecas e ficou com pena que eu fosse. Paguei a totalidade dos dias que tinhamos acordado. Deixei a ela e à Svletelana vasos com flores como forma de agradecimento. À Svletelana deixei ainda 100 kn que me valeram um piparote na testa como forma de protesto.
Emprestaram-me um VW de 1990 de côr amarela para ir a Komiza e dar umas voltas. Cozinharam para mim no último dia numa saboroso almoço sobre um terraço de sombra sobre o mar.

3ª feira voltei para Split para estar num certo estado de prontidão e partir a qualquer momento. O dinheiro começa a acabar e estava mesmo a precisar de ter esta proposta concretizada ou em alternativa definir novos rumos.
No dia que cheguei  a Split levaram-me ao concerto de Roger Waters e the wall. Se fosse em Lisboa não sei se iria. sou um bocado preguiçoso nestas coisas. No fim do concerto recebo a msg do Luís S. a confirmar que as coisas iam mesmo para a frente e que a compra do barco foi efectuada. Vou ser skipper.
Arranjaram -me outro quarto, limpo e simpático para dormir. Fiz amigos, conheci amigos e familia de amigos e trocaram-se contactos para um encontro futuro

Fui muito bem tratado na Croácia e dificilmente me esquecerei destas semanas que passaram. Saí de Portugal há cerca de um mês.
Se os próximos mêses correrem como este correu não me posso queixar.

E começo a ganhar consciência que daqui a uns dias estou a arrancar para o panamá.
A mala está mentalmente feita. É só chegar a casa, tirar coisas superfulas como um saco cama e um casaco polar que duvida que façam falta nas caraíbas, decidir se levo a mochila de montanha ou continuo a arrastar esta espécie de caixão com rodas de um lado para o outro.

M.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Passo de Gigante

Então isto vai ser assim:
dia 27 à noite chego a Faro. 
Dia 28 arranco para Lisboa.
Dia 30 para Madrid e Santo Domingo. 
Dia 31 para o Panamá. Não faço ideia de quando volto. 
Isto chega a assustar

M.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Entretanto ando aqui

Esqueci-me de dizer que deixei o apartamento hoje e me mudei provisóriamente para Vis. Tenho qualquer coisa com  esta ilha.
E a Svletelana, a mulher estranha que nos serviu umas 40 bicas e um não sei qual numero de imperiais e trevariscas nas vezes que aqui estivemos e nas horas longas de descontração no café à frente do fundeadoro, tinha ficado de me arranjar um quarto baratinho. tipo 100 ou 150 kunas (1 € - 7,5 KN)
E cumpriu. Liguei ontem a avisar que sempre ia hoje (depois de algumas duvidas por motivos externos circunstanciais e de proposta). Ela disse que só tinha que mandar msg a dizer quando viesse no ferry que o quarto estava pronto.

É a sala de estar de uma velhota.
Não fala inglês. Ainda não percebi se o marido ainda é vivo. Mas está no andar de cima e o wc é cá em baixo. Tenho a esperança que haja outro lá em cima.
Acabei de tomar banho e sair. O veleiro numa mais ou menos coincidência combinada está aqui. As senhoras foram passear e jantar- Eu estive a ajudar o P. a arranjar a bomba de água.

Entretanto tive noticias. A proposta é cada vez mais uma realidade.

Estou à espera que ele as arrume (entretanto voltaram) para irmos comer e celebrar.
A ver o que dá esta conjugação estranha.

M.

Cagliari - Vis - Split - Brac - Vis - Split

Lamento não andar a registar tudo o que acontece para além da muito falivel memoria e umas poucas fotos. Estou em Split. Deixei o barco e o skipper no sábado passado  desde então sou mais um desempregado a viver uns dias em Split do que um turista ou viajante a visitar uma cidade durante as férias. Tem a ver com o baixo valor que recebi pelo trabalho e o pouco dinheiro na conta.

Estou optimista e confesso que a adorar esta sensação de estar meio abandonado aqui.

A viagem foi na essência boa. Com histórias que agora não tenho vagar nem vontade de escrever e que não podem deixar de acontecer quando um veleiro destes é transportado por duas pessoas. Envolveu vários mares e, para ser original, ficamos sem piloto automático algures no salto alto da bota que calça a itália, sendo eu o seu substituto mais frequente.
Chegámos a Vis por acaso, numa decisão de vamos parar ali para descansar fundeados e poupamos uns trocos ao armador ao não pagar uns dias de marina de Split. Apaixonei-me pela baia de Vis naqueles dois ou três dias que ali ficámos e sem muita dificuldade consego imaginar-me a viver ali uns tempos.
Os Croatas são duros e quase rudes ao primeiro contacto. Se não se ligar a isso e se se fizer um sorriso que diz deixa lá essa cena do mau feitio... queres colo? eles derretem-se todos e mostram que são uns corações moles com cara de mau.
Fomos para Split buscar os vernizes e umas peças que foram encomendadas entretanto. Seguimos para uma marina num sitio que não me lembro do nome numa Baia a norte de Split para passar a noite. Não nos deixaram atracar porque não demos entrada na alfandega. Voltamos para Split. Mais duas horas ou três. Também não nos deixam entrar na marina. Temos de ir ao porto. Depois de 3 tentativas falhadas lá encontramos o sitio no cais dos navios e ferrys. Já é noite. O skipper vai tratar da papelada. É multado porque tinhamos de ter dado entrada logo em Vis. Não nos apetece voltar para lá e perder mais 5 ou 6 horas de navegação para cada lado. Só nos passam os papeis depois de ser paga a multa. Tem que ser em dinheiro. O cartão de Multibanco do Armador não permite levantar essa quantidade. Avaançamos com o dinheiro que temos e não temos no dia seguinte. Passamos a noite ali no cais numa espécie de prisão com a animação da cidade ali ao lado. só podemos sair à vez porque tem de estar alguem no barco. Mudamos o barco 3 vezes de sitio para os diferentes ferrys poderem atracar. Resolvida a logistica skipper não faz questão de sair. Eu vou ali perder-me um bocado e já volto.
Nos outros dias ainda há papelada para resolver. Lava-se o barco na marina e carrega-se de alimentos e combustivel. Vamos procurar uma baia para fazer os trabalhos de lixar e envernizar uma quantidade enorme de madeiras. A escolha é um sitio surreal com uma estrutura em tunel da 2ª guerra para esconder um submarino, num cenário de encostas secas e árvores ardias. Teve de  ser. Já tinhamos perdido muito tempo e havia ntrabalho para acabar. Passamos ali perto de uma semana. Acordar às 5 ou 6 da manhã, lixar até ser calor demais para isso. Mergulho no mar. Comer. Dormir. Ler. Quando o calor baixa volta-se a a lixar. Depois enverniza-se. Depois emenda-se. Vão polindo os metais.
Ficou bastante razoável mas longe de perfeito. Isto pedia mãos mais habilidosas e experientes que as nossas. Há barcos que não merecem os donos que têm. Isto é uma coisa um bocado cruel de se dizer e pode ser injusta porque não conheço pessoalmente o homem. Pode estar a fazer o melhor que pode.
Mas o barco, ela, merecia mais. Fico menos zangado com ele quando fico a saber que ele comprou-o numa estado de abandono de 3 anos.
Acabamos os trabalhos. Voltamos duas noites para Vis. Voltamos para Split. Passamos a noite de sábado para Domingo na marina.
Ultimas limpezas. por dentro e por fora. Chegam os primeiros viajantes. A mulher do dono e uma amigas. Vamos ao cais de combustivel busca-las. Entram, são recebidas. Ajudo com as malas, digo olá, agarro na minha sacaria e digo adeus. Troca por troca. Elas começam eu acabo. São cerca de 5 da tarde e vou andando pela baia de Split a falar ao telemovel com o empregado do restaurante barato e local onde temos ido jantar muito bem fora do Centro e turistas. Ficou de falar com um amigo a ver se me arranjava alojamento. Às 7 da tarde tenho os meus sacos lá metidos e estou a beber uma imperial com eles os dois na esplanada do tasco. Sou um gajo com sorte e as coisas com frequência acontecem-me sem me preocupar muito.

Entretanto ando aqui. Tenho uma possível proposta sobre a qual não quero pensar muito enquanto não souber se é uma proposta efectiva ou não. Devos saber algures até 6ª feira. Se for para a frente, é um salto de gigante que chega a meter medo.
Logo se vê.

M.


sexta-feira, 21 de junho de 2013

...E

... e a lua está quase cheia.
O que me agrada.

M.

Cagliari - Croácia

Já tenho os bilhetes e tudo confirmado.
Domingo de manhã estou a apanhar um avião para Cagliari, Sardenha via Barcelona.
Vou lá ter com o skipper que me ensinou bastante do (pouco) que sei sobre mar e vela e com quem já tive o prazer de partilhar umas quantas milhas.
Ficamos lá até ao fim da semana a preparar o veleiro, um 65 pés de luxo de construção holandesa com bastante madeira para lixar e envernizar, e daí partimos rumo à Croácia, onde ela vai estar em Charter durante o resto do verão.
Não vou ganhar práticamente nada de dinheiro com isto. Pagam as despesas todas e mais uns trocos que devem dar para o tabaco, copos e um jantar. Se não abusar das noites de copos, claro.
Mas não interessa. É este skipper. Tenho uma viagem à borla para os lados onde as coisas acontecem e o proprietário fica contente se o trabalho for bem feito. Há sempre hipótese de continuar nos charters ou aparecer um outro veleiro que precise de um marinheiro. Logo descubro.

Levo a carta de Day Skipper que tirei entretanto e interrompo o curso de Patrão local que estava a tirar.
Felizmente. 
Tenho boas memórias de Cagliari da vez que lá estive naquela quase maldita viagem a Malta. Desta vez vou com mais estilo. E com uma bagagem de conhecimentos bastante maior. 
Há coisas boas a acontecer. É o que interessa.

M.


quarta-feira, 8 de maio de 2013

quinta-feira, 25 de abril de 2013

E...

... de volta.

M.


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

12 horas

Afinal é daqui a 12 horas.
Acabei de chegar a Aveiro e fazer o check in no hotel. Amanhã embarco de novo por mais uns meses. Vai ser mais mar e provavelmente mais tempo. Pelo menos espero.

Está tudo pronto. Agora é altura de testar se ainda me recordo do caminho para aquele maravilhoso bife que comi da última vez que aqui estive, há uns meses atrás. O taxista falou-me de um restaurante supostamente ainda melhor.
Não sei se me apetece ser assim tão ganacioso. Excelente parece-me suficiente.
Já vejo

M.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Ainda cá estou.

À espera que me confirmem se o embarque é dia 7 ou dia. Ou outro dia.
Só não tenho é ligado nenhuma a isto.


M.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Ainda não o li...

A Tempestade do Destino

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar. (...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros. E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido. 

 Haruki Murakami, in 'Kafka à Beira-Mar'

 ... Mas parece-me um bom título para levar caso decida aceitar o embarque de novo para aqueles mares que me propuseram. Este prevê-se a dia 26 de Dezembro. Desta vez e se correr tudo como previsto será uma viagem mais próxima dos 5 meses do que dos 3. E com mar de inverno. A sério.

 O dinheiro está a acabar-se a bom ritmo, sempre disse que a embarcar de novo que fosse no inverno para sentir a coisa em pleno e não perder o verão, quanto mais cedo embarcar mais cedo estou de volta, quanto mais cedo regressar mais fácilmente arranjo trabalho na vela e transportes na primavera e verão, fujo ao caos que está instalado em terra e na minha vida e acrescento ao curriculo mais uma passagem de ano estranha, coisa a que já vou estando habituado e não me choca particularmente. Faz todo o sentido.

 Tenho até ao fim desta semana para decidir.

M.

terça-feira, 9 de outubro de 2012