segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Shelter Bay - Bocas del toro I

Ainda em Shelter Bay, tive o prazer de conhecer a Nike.
Uma alemã de trinta e picos que achou boa ideia deixar o trabalho, comprar um chasso de um veleiro de aço por tuta e meia que estava meio ao abandono aqui no Panamá, formar-se como marinheira, pôr o barco navegável e navegar em solitário algures até ao Chile e depois Pacifico.

No processo arranjou uns patrocinios, faz um video semanal para publicar e angariar mais patrocinios. O projecto chama-se "white spot pirates" e a série de videos "Untie the lines".
Ainda que não me reveja no conceito e exposição pessoal, com as questões menos perfeitas de marketing que lhe estão associadas,  fascina-me sempre assistir a alguém a concretizar sonhos. E este é bonito e bastante ambicioso.

O Luís trouxe a Nike a bordo para jantar com mais uma malta convidada que andava por ali perdida (em Shelter Bay) que se bem me recordo consistia em um casal de irmãos que viajavam de mota desde o Canadá, um outro motoqueiro também ali perdido todos a ver se encontravam barco para chegar a Cartagena (não há estrada entre o Panamá e a Colombia, só avião ou barco), o Chris e eu e mais não sei quem. Foi o tal do arroz de polvo. Ou pensando bem foi o jantar antes desse, só nós e ela. Já não me lembro.
Nesse mesmo jantar, mais tarde e depois de uma conversa animada e regada de pessoas que têm em comum o mar e o facto de estarem ali perdidas, conheci o Dimitrios. Amigo de longa data da Nike de descendência grega e que resolveu vir passar umas férias a ajudar na recuperação e preparação do barco, acabado de chegar da alemanha a tempo de comer os restos e beber uns copos .
Estes dois cromos passaram a fazer parte dos jantares a bordo do Arctic. Não tinham fogão a funcionar e nós precisávamos de pessoas de fora que nos quebrassem a rotina e intensidade de convivio e trabalho. Era um bom acordo. E foram mais importantes para mim do que alguma vez iria supor.
Foram horas e horas de conversas e palhaçada. Copos e descontração. Partilha de projectos. Dois iniciantes de skipper.

Quando finalmente consegui ter tudo pronto e o OK para saír de Shelter Bay, combinámos ir juntos, os dois barcos, Arctic e Karl, eu e o Chris e a Nike e o Dimitrios. Eles anteciparam a partida para terem a segurança de navegarem com apoio. Nós tinhamos de estar em Bocas o mais tardar no dia 20. São 140 milhas. Contra vento, mar e corrente. Era dia 14 de Setembro.

Foi a minha primeira viagem como Skipper. Portei-me bem. Tomei decisões correctas. Fiz bordos longos completamente fora de rumo para encontrar o vento. Encontrei-o e aproveitei-o. É a vantagem de navegar com outro barco. Percebemos se arriscámos bem enquanto eles mantêm o rumo certo e quando nos reencontramos eu estou mais à frente. Aqui pesam a escola e milhas que tive de regata e entregas de veleiros.
O Arctic, apesar de ser um chaço (ou chasso nunca sei), surpreende-me a navegar à vela.

M.