quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Cartas



Adoro cartas e postais. Daqueles que é preciso pôr selo e tudo.

Nunca perdi esse hábito e tenho um historial de troca de cartas bastante vincado. Lembro-me dos serões em casa quando recebíamos a carta semanal do meu pai que desde que me lembro vivia longe, em África, e a minha mãe lia-nos em voz alta, calma e pausadamente as noticias mais recentes. Estranhava sempre não haverem muitas histórias de leões e elefantes na selva como nos filmes e achava que ele omitia algumas aventuras. As respostas eram ditadas. Mais tarde cada um de nós respondia à sua carta. Começavam invariavelmente com algo do género “querido Pai, espero que esteja tudo bem. Nós por cá tudo bem”.

Mais tarde deixámos de trocar correspondência e ficamo-nos pelos telefonemas. Coisas de adultos sem tempo e demasiadas cartas repetidas trocadas entre nós.

Quando comecei a viajar sozinho tive o habito de enviar postais dos sítios onde estava, idealmente era um ou dois para casa, outro para os meus tios e primos, outro para a minha avó e outro para uma amiga minha que sempre fez o mesmo nas muitas viagens e meses que viveu fora de Portugal. Muitas vezes os postais que eu enviava não diziam mais que “Olá! um beijo”, um desenho ou uma qualquer parvoíce. Era essencialmente para dizer que me tinha lembrado dessa pessoa e surpreende-la um pouco. Confesso que apesar de continuar a adorar esse hábito, tenho andado um bocado desleixado de há uns anos para cá e nas últimas viagens praticamente não enviei nada a ninguém. Tenho que corrigir isso.

Gosto também de enviar de vez em quando um postal ou uma carta sem qualquer motivo específico. Só para dar o prazer a alguém de chegar ao correio e haver lá algo minimamente simpático para além das contas, circulares e folhetos de publicidade da treta do costume. Adoro essa sensação. Abrir a caixa do correio e haver algo simpático para quando se chega a casa. Sabe especialmente bem depois de um dia mais complicado. Hoje em dia recebo cartas de vez em quando. Poucas vezes. Para além das que a minha mãe envia semanalmente não são muitas. Recebo de vez em quando uma carta com coisas fixes dessa amiga que está a viver em Amesterdão. À minha mãe agora deu-lhe para começar a escrever e enviar postais da colecção de postais que tínhamos. Adoro. Trás sempre uma palavra simpática. Tenho um amigo que muito de vez em quando manda um postal desenhado por ele.

No Peter-café há um espaço dedicado a cartas. Cartas que muitas vezes não chegam pelo correio. Por vezes são deixadas por gente que anda a viajar pelo mar para outros que também andam a viajar pelo mar e sabem que ali vão passar. Porque quem anda a viajar não tem uma morada onde possa vir a receber noticias. Só podem dar notícias a quem ficou em casa. Claro que com a net, mails as coisas mudaram bastante mas ainda não perdi a esperança de um dia lá chegar e ter uma carta à minha espera.

E se não o fazem, porque não mandarem uma carta ou um postal a alguém? Nem que seja para alguém que mora na vossa própria casa. É simpático. E não custa nada. Hoje em dia basta ir aos correis, comprar um pack de envelopes de correio azul ou selo, meter no marco do correio e no dia seguinte está no destino. Ou na próxima vez que estiverem ou passarem por um sítio que não é a vossa casa, mesmo que seja em trabalho, porque não comprarem um postal, sentarem-se numa esplanada qualquer a beber um café e saborear o momento e escreverem um Olá para enviar de seguida para casa? Mesmo que chegue depois de vocês, é bom. E não demora nada.

Experimentem.

M.