As coisas que vou levar. Tem direito a uma etiqueta nova.
Este é o primeiro da lista.
Tenho mais dois títulos. Há outros dois que um amigo faz questão de oferecer.
Os restantes dez ou doze ainda vou decidir.
M.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Além Mar
Estou no comboio a caminho de Lisboa. É 5ª feira, tirei o dia e vou aparecer de surpresa no dia de aniversário da minha mãe. E tia. São gémeas.
Como acontece frequentemente, aproveito estas viagens para sentir o pulso e pensar. E penso nisto. É uma ideia cada vez mais presente nestes últimos meses escrever estas palavras aqui. Voltar a escrever aqui. Agora, nesta cadeira, tenho tempo, começa quase a ser irresistível fazê-lo, não contrariar o impulso, e o post inaugural deste blog, escrito quando era quase outra pessoa, volta fazer sentido. Cada vez mais sentido.
Sei que é cedo demais. Há sempre o risco de nada do que eu espero que aconteça, aconteça.
Há aquela típica sensação de mau agoiro estar aqui falar sem ter as coisas seguras e confirmadas.
Mas é um processo que já começou há algum tempo e depois, sempre associei este espaço ao horizonte. Lá à frente. A caminhos, saltos e processos de travessia.
Fica este rascunho e logo vejo quando e se o publico.
Em Outubro de 2011 decidi que este ano sairia daqui, pelo menos deste trabalho. Disse a mim mesmo que se daí a um ano estivesse aqui, na mesma, seria sinal que algo de bastante errado se teria passado.
No dia 19 de Novembro fez 10 anos que cheguei a esta cidade.
Sempre gostei de números redondos, 10 é um bom número e nestes últimos tempos tudo se conjuga, de uma forma ligeiramente assustadora de tão evidente que é, para sair de cá.
A meio de Dezembro o acaso que não é tão acaso quanto isso, uma conversa com um amigo sobre rumos de vida, os contactos certos a menos de dois graus de distância, um mail, um telefonema e uma ida a Lisboa uns dias depois, abriram uma porta.
Espreitei por essa porta e gostei do que vi.
Assim, 2011, um dos piores e melhores anos da minha vida acabou com a firme convicção que este é um ano de mudança.
Em alta, portanto.
Tirei férias para dar às certezas o tempo politicamente correcto e no inicio de Janeiro comuniquei a quem interessava que antes do verão saía deste trabalho. Provavelmente em Março ou Abril. Para se organizarem.
Entretanto já chegou a pessoa que me vai substituir para lhe passar os assuntos que tenho em mãos com calma. Dei-lhe o meu lugar para não voltar a mudar daqui a uns meses.
Em Abril apresento a comunicação formal e algures em Maio saio.
Pode ser que seja antes ou pode ser só em Junho mas se tudo correr como espero, entre um momento e outro embarcarei durante uns 3 a 5 meses de mar alto.
As coisas atrasaram-se mais do que gostaria e já não partirei a tempo de regressar e apanhar um pouco do verão para ver o que o mar daqui tem para me oferecer mas à partida esse adiamento permite maior certeza e garante o meu lugar no embarque. É o que interessa.
De qualquer maneira fico com tempo para tratar com mais calma de alguns cancros que 2011 me presenteou e que gostaria de ver tratados ou pelo menos encaminhados antes de ficar uns meses incontactável.
Depois eventualmente volto e não faço ideia do que acontece.
Os rumos possíveis são aliciantes e muitos, demasiados para pensar em todos e vou ter tempo em sobra para o fazer no mar.
Para já, há um passaporte para tirar, livros para comprar e me acompanharem na viagem, ir buscar um atestado médico, tratar das logísticas, da casa, das plantas e mil e uma coisas que ainda não comecei a tratar por não querer começar já a pensar muito a sério nisso. Mas tenho que começar a despedir-me das coisas que definem a minha actual vida e saborear o processo de mudança.
Assim, passado todo este tempo e ultrapassadas as duvidas sobre manter ou não o endereço original ou reanimar ou não este espaço, retomo isto.
Depurado, sem os posts pessoais e de parvoíces (que básciamente eram a grande maioria) do passado e com os comentários desligados porque quero alterar para um formato de registo simples. E este registo eventualmente não será tão anónimo.
Não sei nem me preocupa particularmente. Logo se vê para onde vai.
É isto. Achei que fazia todo o sentido dizer pelo menos isto aqui.
O Além Mar?
O Além Mar começa hoje.
M.
Como acontece frequentemente, aproveito estas viagens para sentir o pulso e pensar. E penso nisto. É uma ideia cada vez mais presente nestes últimos meses escrever estas palavras aqui. Voltar a escrever aqui. Agora, nesta cadeira, tenho tempo, começa quase a ser irresistível fazê-lo, não contrariar o impulso, e o post inaugural deste blog, escrito quando era quase outra pessoa, volta fazer sentido. Cada vez mais sentido.
Sei que é cedo demais. Há sempre o risco de nada do que eu espero que aconteça, aconteça.
Há aquela típica sensação de mau agoiro estar aqui falar sem ter as coisas seguras e confirmadas.
Mas é um processo que já começou há algum tempo e depois, sempre associei este espaço ao horizonte. Lá à frente. A caminhos, saltos e processos de travessia.
Fica este rascunho e logo vejo quando e se o publico.
Em Outubro de 2011 decidi que este ano sairia daqui, pelo menos deste trabalho. Disse a mim mesmo que se daí a um ano estivesse aqui, na mesma, seria sinal que algo de bastante errado se teria passado.
No dia 19 de Novembro fez 10 anos que cheguei a esta cidade.
Sempre gostei de números redondos, 10 é um bom número e nestes últimos tempos tudo se conjuga, de uma forma ligeiramente assustadora de tão evidente que é, para sair de cá.
A meio de Dezembro o acaso que não é tão acaso quanto isso, uma conversa com um amigo sobre rumos de vida, os contactos certos a menos de dois graus de distância, um mail, um telefonema e uma ida a Lisboa uns dias depois, abriram uma porta.
Espreitei por essa porta e gostei do que vi.
Assim, 2011, um dos piores e melhores anos da minha vida acabou com a firme convicção que este é um ano de mudança.
Em alta, portanto.
Tirei férias para dar às certezas o tempo politicamente correcto e no inicio de Janeiro comuniquei a quem interessava que antes do verão saía deste trabalho. Provavelmente em Março ou Abril. Para se organizarem.
Entretanto já chegou a pessoa que me vai substituir para lhe passar os assuntos que tenho em mãos com calma. Dei-lhe o meu lugar para não voltar a mudar daqui a uns meses.
Em Abril apresento a comunicação formal e algures em Maio saio.
Pode ser que seja antes ou pode ser só em Junho mas se tudo correr como espero, entre um momento e outro embarcarei durante uns 3 a 5 meses de mar alto.
As coisas atrasaram-se mais do que gostaria e já não partirei a tempo de regressar e apanhar um pouco do verão para ver o que o mar daqui tem para me oferecer mas à partida esse adiamento permite maior certeza e garante o meu lugar no embarque. É o que interessa.
De qualquer maneira fico com tempo para tratar com mais calma de alguns cancros que 2011 me presenteou e que gostaria de ver tratados ou pelo menos encaminhados antes de ficar uns meses incontactável.
Depois eventualmente volto e não faço ideia do que acontece.
Os rumos possíveis são aliciantes e muitos, demasiados para pensar em todos e vou ter tempo em sobra para o fazer no mar.
Para já, há um passaporte para tirar, livros para comprar e me acompanharem na viagem, ir buscar um atestado médico, tratar das logísticas, da casa, das plantas e mil e uma coisas que ainda não comecei a tratar por não querer começar já a pensar muito a sério nisso. Mas tenho que começar a despedir-me das coisas que definem a minha actual vida e saborear o processo de mudança.
Assim, passado todo este tempo e ultrapassadas as duvidas sobre manter ou não o endereço original ou reanimar ou não este espaço, retomo isto.
Depurado, sem os posts pessoais e de parvoíces (que básciamente eram a grande maioria) do passado e com os comentários desligados porque quero alterar para um formato de registo simples. E este registo eventualmente não será tão anónimo.
Não sei nem me preocupa particularmente. Logo se vê para onde vai.
É isto. Achei que fazia todo o sentido dizer pelo menos isto aqui.
O Além Mar?
O Além Mar começa hoje.
M.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
Maio no mar
O mar do fim de Maio é o mais limpo de todos. Muda de cores todos os dias. Discutimos se foram mais bonitas ontem do que hoje. A água está quente, mas ninguém acredita. Pensam que a água do mar liga alguma coisa à temperatura do ar. O mar é dos ventos e da lua e do fogo de dentro da terra. O sol conta pouco. Estamos enganados.
Estamos no verão relativo, que ainda vai causar muitas desilusões e quedas na realidade. Anteontem nadei como um peixe, mais de uma hora, numa das praias que marcam o fim da paciência do Oceano Atlântico. O meu irmão Paulo, marinheiro e náufrago, diz-me que estas ondas são ecos das ondas sérias de alto mar. A mim assustam-me. Também Drácula não era um rapaz novo. As ondas do fim de Maio também não.
A verdade é que o mar não segue o tempo. Embravece consoante lhe apetece. Seja Agosto ou Dezembro; hoje ou anteontem; lua cheia ou lua nova. Falar no mar do fim de Maio é tão estúpido como falar nas mulheres na Terça-feira à tarde. Apesar de o mar ser mais parecido com as mulheres do que os homens. Pelo menos para os homens que gostam de mulheres. Ninguém sabe – isso já é sabido. O que é mais engraçado (está mais cheio de graça) é que ninguém se atreve a adivinhar.
Banhos de mar; banhos de vento; banhos de água doce. Meses; Maio; o mês mais enganadoramente primaveril de todos os que temos. Cada dia é uma sorte. Cada dia é uma morte. O nosso erro é pensarmos que estamos sempre a renascer.
Miguel Esteves Cardoso, Público, Domingo, 23 de Maio.
Não é um regresso. É uma adenda .
Para ficar mais completo.
... impulsos.
M.
Estamos no verão relativo, que ainda vai causar muitas desilusões e quedas na realidade. Anteontem nadei como um peixe, mais de uma hora, numa das praias que marcam o fim da paciência do Oceano Atlântico. O meu irmão Paulo, marinheiro e náufrago, diz-me que estas ondas são ecos das ondas sérias de alto mar. A mim assustam-me. Também Drácula não era um rapaz novo. As ondas do fim de Maio também não.
A verdade é que o mar não segue o tempo. Embravece consoante lhe apetece. Seja Agosto ou Dezembro; hoje ou anteontem; lua cheia ou lua nova. Falar no mar do fim de Maio é tão estúpido como falar nas mulheres na Terça-feira à tarde. Apesar de o mar ser mais parecido com as mulheres do que os homens. Pelo menos para os homens que gostam de mulheres. Ninguém sabe – isso já é sabido. O que é mais engraçado (está mais cheio de graça) é que ninguém se atreve a adivinhar.
Banhos de mar; banhos de vento; banhos de água doce. Meses; Maio; o mês mais enganadoramente primaveril de todos os que temos. Cada dia é uma sorte. Cada dia é uma morte. O nosso erro é pensarmos que estamos sempre a renascer.
Miguel Esteves Cardoso, Público, Domingo, 23 de Maio.
Não é um regresso. É uma adenda .
Para ficar mais completo.
... impulsos.
M.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
O post (re-editado)

Faz hoje um ano que este blog foi criado.
Teve os seus momentos. Esteve para ser encerrado por alguma vezes. Mas não era altura para o fazer.
Agora é. Já era há algum tempo mas sempre gostei de contas certas, sem casas decimais nem ciclos incompletos, e por esse motivo e por respeito a este espaço que gosto e fará parte de mim para sempre decidi fazer a coisa como deve ser. Um ano completo parece-me bem.
Espero que tenha servido para alguma coisa. A mim serviu. Para bastante.
Até um dia se for caso disso
...e aproveitem o que é bom.
Hasta siempre!
:)
M.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
domingo, 27 de setembro de 2009
Este blog encontra-se em vias de extinção
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Bom começo
Ainda que com alguns dias de atraso, fica aqui a notícia:
"Algumas horas de sono numa cama confortável, comida quente e um bom banho era tudo o que o velejador solitário Francisco Lobato precisava para se recuperar dos 6 dias de competição em que ligou, com o seu ROFF TMN, a vila de La Rochelle à cidade do Funchal, um total de 1157,4 milhas marítimas.
Francisco que foi vencedor da 1ª etapa que terminou em águas da Madeira numa primeira fase apanhou ventos muito fortes, alguma tempestade tendo no entanto a parte mais dura deste percurso sido os últimos dois dias com ventos de apenas 2 nós."
"O velejador luso cumpriu as 1157,4 milhas que ligam a costa francesa à ilha da Madeira, em apenas 6 dias, 2 horas, 31 minutos e 3 segundos, deixando para trás uma frota de 81 barcos que têm ao leme alguns dos melhores velejadores do mundo e com grande experiência."

"... A segunda etapa que partirá no dia 06 de outubro da Ilha de Madeira levará os marinheiros para o hemisfério Sul. Para esta, eles deverão descer em direção às Ilhas Canárias onde não haverá nenhum ponto de marcação imposto. Será necessário então, ver as opções de caminho em função das condições meteorológicas. Na rota ao Cabo-Verde, haverá um ponto de marcação na Ilha de Maio, à leste do arquipélago. Em seguida, cabe a eles de se posicionarem e entrarem no famoso " Pot au Noir ". Uma zona de convergência intertropical onde os ventos do hemisfério norte encontram os do hemisfério Sul. É uma zona particularmente delicada onde os barcos podem ficar longas horas sem vento e derrepente serem surpreendido por uma rajada de 50 nós. Uma atenção a mais é necessária para sair o mais rápido dessa zona.
Alguns concorrentes podem ser surpreendidos e terem grandes surpresas nesta passagem. "
Percurso : la Charente-Maritime / Funchal (Ilha da Madera-Portugal) / Salvador da Bahia (Brasil)
Número de milhas à percorrer : 1 100 milhas entre la Charente-Maritime e Ilha da Madera e 3 100 milhas entre Ilha da Madera e Salvador da Bahia sendo 4 200 milhas ao total. Essa Transat 6,50 Charente-Maritime/Bahia terá a maior distância já percorrida dentro da história da regata.
Número de quilômetros : 7 800 km
Data de largada : 13 de setembro de 2009
Estimativa de chegada à Funchal (Ilha da Madera) : 13 de setembro de 2009
Data de largata de Funchal (Ilha da Madera) : 3 de outubro de 2009
Estimativa de chegada à Salvador da Bahia (Brasil) : 20 de outubro de 2009. "
Quem estiver interessado em acompanhar esta pequena grande odisseia:
Site Oficial da prova
Site do Francisco Lobato
Ao Francisco Lobato, os parabéns e a melhor das sortes.
A ver se é desta que Portugal volta a voltar-se para o mar.
M.
"Algumas horas de sono numa cama confortável, comida quente e um bom banho era tudo o que o velejador solitário Francisco Lobato precisava para se recuperar dos 6 dias de competição em que ligou, com o seu ROFF TMN, a vila de La Rochelle à cidade do Funchal, um total de 1157,4 milhas marítimas.
Francisco que foi vencedor da 1ª etapa que terminou em águas da Madeira numa primeira fase apanhou ventos muito fortes, alguma tempestade tendo no entanto a parte mais dura deste percurso sido os últimos dois dias com ventos de apenas 2 nós."
"O velejador luso cumpriu as 1157,4 milhas que ligam a costa francesa à ilha da Madeira, em apenas 6 dias, 2 horas, 31 minutos e 3 segundos, deixando para trás uma frota de 81 barcos que têm ao leme alguns dos melhores velejadores do mundo e com grande experiência."

"... A segunda etapa que partirá no dia 06 de outubro da Ilha de Madeira levará os marinheiros para o hemisfério Sul. Para esta, eles deverão descer em direção às Ilhas Canárias onde não haverá nenhum ponto de marcação imposto. Será necessário então, ver as opções de caminho em função das condições meteorológicas. Na rota ao Cabo-Verde, haverá um ponto de marcação na Ilha de Maio, à leste do arquipélago. Em seguida, cabe a eles de se posicionarem e entrarem no famoso " Pot au Noir ". Uma zona de convergência intertropical onde os ventos do hemisfério norte encontram os do hemisfério Sul. É uma zona particularmente delicada onde os barcos podem ficar longas horas sem vento e derrepente serem surpreendido por uma rajada de 50 nós. Uma atenção a mais é necessária para sair o mais rápido dessa zona.
Alguns concorrentes podem ser surpreendidos e terem grandes surpresas nesta passagem. "
Percurso : la Charente-Maritime / Funchal (Ilha da Madera-Portugal) / Salvador da Bahia (Brasil)
Número de milhas à percorrer : 1 100 milhas entre la Charente-Maritime e Ilha da Madera e 3 100 milhas entre Ilha da Madera e Salvador da Bahia sendo 4 200 milhas ao total. Essa Transat 6,50 Charente-Maritime/Bahia terá a maior distância já percorrida dentro da história da regata.
Número de quilômetros : 7 800 km
Data de largada : 13 de setembro de 2009
Estimativa de chegada à Funchal (Ilha da Madera) : 13 de setembro de 2009
Data de largata de Funchal (Ilha da Madera) : 3 de outubro de 2009
Estimativa de chegada à Salvador da Bahia (Brasil) : 20 de outubro de 2009. "
Quem estiver interessado em acompanhar esta pequena grande odisseia:
Site Oficial da prova
Site do Francisco Lobato
Ao Francisco Lobato, os parabéns e a melhor das sortes.
A ver se é desta que Portugal volta a voltar-se para o mar.
M.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Períodos sabáticos
As grandes mudanças de rumo na minha vida ocorreram durante ou na sequência de períodos sabáticos. Períodos em que se pára e se questiona tudo.
Normalmente acontecem quando ando há demasiado tempo à deriva e sinto necessidade de definir uma espécie de rumo. Que me recorde tive três. Pelo menos principais. Houve outros menores e menos importantes
Na minha condição de simples e básico, para pensar como deve ser preciso de parar com todas as rotinas. É que senão é muita coisa ao mesmo tempo e as minhas limitadas capacidades não dão para tudo.
O último aconteceu antes de levar a vida que levo nestes últimos 7 ou 8 anos que entretanto passaram, ainda que as únicas constantes que se verificaram durante este período foram manter-me a viver na mesma localidade e manter o mesmo emprego. Tudo o resto foi mudando bastante.
Diria que estou a precisar de um novo período sabático.
Não sei é muito bem como o conseguir.
M.
Normalmente acontecem quando ando há demasiado tempo à deriva e sinto necessidade de definir uma espécie de rumo. Que me recorde tive três. Pelo menos principais. Houve outros menores e menos importantes
Na minha condição de simples e básico, para pensar como deve ser preciso de parar com todas as rotinas. É que senão é muita coisa ao mesmo tempo e as minhas limitadas capacidades não dão para tudo.
O último aconteceu antes de levar a vida que levo nestes últimos 7 ou 8 anos que entretanto passaram, ainda que as únicas constantes que se verificaram durante este período foram manter-me a viver na mesma localidade e manter o mesmo emprego. Tudo o resto foi mudando bastante.
Diria que estou a precisar de um novo período sabático.
Não sei é muito bem como o conseguir.
M.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Encontros - A White Fleet
Ainda pensei adaptar isto num texto meu.
Mas não o saberia fazer sem se perder algo ou haver qualquer acréscimo que significasse alguma coisa. Fica aqui (grande) parte da entrevista que falei.
Na Primavera de 1966,o canadiano Wayne Ralph fotografou um grupo de pescadores portugueses cujo navio bacalhoeiro estava atracado no porto de St. John’s,capital da Terra Nova.No final de 2008,essas fotografias foram publicadas na nm e um desses homens descobriu-se nelas com 18 anos.No Verão de 2009,Wayne Ralph veio a Portugal expor essas imagens a convite do Museu Marítimo de Ílhavo e no dia da inauguração reencontrou-se com o pescador.Aqui se narra esse reencontro,numa conversa em que foi também questão a história comum de dois países unidos pelo bacalhau.
Contámos parte desta história na NM de 14 de Dezembro de 2008, quando publicámos algumas das fotos que fez dos pescadores portugueses no porto de St. John’s, capital da Terra Nova, em 1966. Um deles foi reconhecido por um parente, que lhe ofereceu a revista pelo Natal, provocando uma vaga de memórias e emoções. Quer contar o que aconteceu entretanto?
Em Janeiro deste ano recebi um e-mail do filho desse ex-pescador dizendo-me que o pai se tinha visto na revista (nessas imagens ele tinha 17 anos) e chorado (o que o filho nunca o vira fazer). Nesse e-mail o pai agradecia-me por tê-lo fotografado. Eu ignorava até esse momento o nome desse pescador, como os dos outros que fotografei. O próprio nome do navio em que seguiam apenas o soube por essa altura, depois de digitalizar as imagens e de as ampliar de modo a tentar colher elementos identificativos. António (o pescador de que temos estado a falar) era o elemento mais novo da tripulação do Dom Denis nessa campanha.
Tínhamos sensivelmente a mesma idade quando o fotografei no porto de St. John’s. Eu morava perto do porto, e nesse dia andava por ali a passear.
(...)
Nessa altura, quando os portugueses faziam parte da paisagem humana de St. John’s, recorda- se ou não de ser capaz de distingui-los dos outros pescadores?
Os navios dos portugueses eram diferentes de todos os outros, eram os únicos que eram veleiros, de três ou quatro mastros, enormes, com aquelas velas lindíssimas e aquele charme que os outros não tinham. E eram brancos, por causa da Segunda Grande Guerra, o que eu não sabia à época [os navios bacalhoeiros portugueses foram mandados pintar de branco pelo Estado-Maior Naval na sequência de ataques alemães a lugres da nação «neutral» no alto-mar]. A White Fleet era única. Podíamos ver esses navios quando o tempo estava mau, pois eles procuravam abrigo no porto, onde ficavam até o tempo melhorar. Quando a White Fleet chegava íamos todos ver os seus navios. Da minha secretária da escola conseguia vê-los pela janela.
(...)
António, o ex-pescador que agora reencontrei, foi para o mar com 8 anos. Na Terra Nova há muitas pessoas como ele, pessoas da minha geração que não estudaram e que foram para o mar ainda quase crianças. Tal como os portugueses que eu via a jogar futebol em St. John’s, e que ganhavam sempre os jogos, eram muito bons jogadores.
Como os distinguia dos espanhóis ou dos marroquinos, que também jogavam futebol quando estavam atracados?
Os portugueses tinham roupas distintivas, feitas à mão, os pescadores da Frota Branca vestiam-se de maneira diferente dos outros.
E isso é visível também nas minhas fotos de 1966 – numa delas há um conjunto de homens vestidos com roupas compradas em lojas, blusões como os dos homens da marinha mercante. Os pescadores portugueses não vestiam roupas dessas. A probabilidade de esses homens serem portugueses era baixa.
Como explica as relações tão excepcionalmente amistosas entre os portugueses da Frota Branca e os seus conterrâneos?
Quando eu era miúdo e via os portugueses sempre por ali, no porto de St. John’s, eu sabia que tinham sido eles a encontrar-nos, na escola aprendi que o primeiro descobridor a encontrar a Terra Nova foi Gaspar Corte-Real, um português. Por outro lado, sempre foi muito claro para mim que os portugueses que paravam em St. John’s eram os mais pobres de todos. Eram sempre avistados a andar pelas ruas em grupos, olhando para as montras das lojas, hesitando em comprar.
Tal como o rapaz que eu descrevi na história publicada em Dezembro passado, que não tinha dinheiro para comer um banana-split e ficou a ver-me comer o meu. Os portugueses tinham quando muito dinheiro para beber uma cerveja, mas não para pagar uma refeição ou uma sobremesa cara. Penso que sempre houve um olhar compreensivo relativamente a esses constrangimentos dos portugueses, que de resto eram muito bem parecidos e tinham muito sucesso com as raparigas. Sabíamos, ainda, que os portugueses eram os que trabalhavam com menos condições. A pesca do bacalhau era dura para todos, mas para os portugueses era-o ainda mais. Isso fazia deles heróis absolutos, tal como vem explicitado no famoso livro de Alan Villiers [A Campanhado Argus, uma edição da Cavalo de Ferro].
(...)
Voltemos a esse encontro inacreditável entre si e o pescador que fotografou na Terra Nova em 1966. Quais são os seus significados, e os desta sua vinda a Portugal?
Posto de uma forma simples: passei anos e anos a pensar que devia ter enviado as fotografias a esse outro pescador, o homem que era de Aveiro e me deu a sua morada. Sempre me senti um pouco culpado por não o ter feito, senti remorsos por não ter sido mais consequente. Quando o filho de António me disse que o pai gostaria muito de me reencontrar, fiquei a pensar que também eu queria muito esse reencontro. Mas não sabia onde poderia vir a ter lugar. Foi então que em meados de Junho passado recebi um e-maildo director do Museu Marítimo de Ílhavo, Álvaro Garrido, a convidar-me para expor em Ílhavo essas fotografias tiradas em 1966. Decidi vir, não só para a inauguração da exposição, mas também para reencontrar esse antigo pescador, o que aconteceu no dia 8 de Agosto, no museu. António apareceu com toda a sua família. Foi um momento inesquecível. Até Janeiro passado eu nem sequer sabia o nome dele, ele era apenas alguém que eu fotografara 43 anos antes em St. John’s, mas que representava todos os portugueses que eu conhecera durante a minha infância e juventude na Terra Nova. Ele não fala inglês e eu não falo português, mas isso não teve importância alguma.
Sei que depois passou alguns dias no local onde vive o antigo pescador e a sua família.
Passei três dias com a família de António. Tive oportunidade de conhecer outras pessoas, antigos pescadores nomeadamente, (...) O que mais me impressionou foi ver o quanto guardam St. John’s no coração. Todos eles ficam muito sentimentais quando falam desses tempos na Terra Nova. Lembram de forma muito vívida e emotiva essa época em que passavam por vezes vários dias em St. John’s.
Para eles você é a representação da Terra Nova e do seu povo, que os acarinhou ao longo de todos esses anos de campanhas bacalhoeiras.
Exactamente. Alguns ficaram com os olhos cheios de lágrimas, e começaram a falar desses outros homens nas fotografias, indagando o que lhes teria acontecido, quem estaria ainda vivo.
Sei que alguns desses pescadores retratados nas suas fotografias de 1966 foram reconhecidos e que alguns são da mesma zona. Porque não os encontrou?
Creio que não estavam interessados nesse reencontro.
Talvez queiram esquecer. Há uma memória recalcada desses tempos, seguramente devido à sua dureza. Tal como acontece com combatentes da guerra colonial.
Penso que há traumas associados a essas longas viagens. Para António foi muito emotivo, houve uma quantidade impressionante de memórias que emergiram. Talvez esses outros homens não quisessem vivenciar isso. Talvez queiram esquecer, sim. Falei com um capitão aposentado, um homem com uma grande experiência, que começou nos dóris, e ele reafirmou-me a dureza dessas pescarias. António contou-me que quando estavam em St. John’s e chovia se lavavam debaixo dessa chuva. Nos navios, havia pouca água, e eles lavavam-se numa pequena quantidade de água, que servia também para fazerem a barba, e que no final bebiam! António contou-me que, quando estavam em St. John’s, por vezes iam ao Hotel Newfoundland, que era um hotel para homens de negócios, um lugar caro e onde havia um código de indumentária. Os portugueses por vezes iam lá beber uma cerveja, de gravata e com as suas melhores roupas, com os seus fatos a cheirar a naftalina, e bebiam uma cerveja que faziam durar o serão todo.
(...)
Essa questão identitária é um problema global. A questão hoje é a de tentar perceber de que modo vão sobreviver as diferentes culturas no mundo globalizado.
Sim, concordo, mas que cultura estamos entretanto a construir? Que mundo vai ser o dos nossos filhos e netos? Se a adversidade forma o carácter, que pessoas vão ser? Se as novas gerações não tiverem nada contra o que lutar, se não tiverem desafios, como poderão ter iniciativa? Como poderão ser capazes de improvisar? Conhecerão algum dia a satisfação de se verem capazes de se ultrapassarem e se surpreenderem a si mesmos? A geração de António cresceu a duvidar de tudo: do navio, do tempo, do mar, dos outros homens, a dureza da vida levava-os a duvidar sistematicamente de tudo, e daí os pescadores com quem me encontrei no outro dia duvidarem das minhas fotografias. António disse-me que pensa que há da parte deles uma espécie de cepticismo fundamental em relação a tudo.
(...)
Mas o vosso país surpreendeu- me, pensei que fosse mais rural, menos desenvolvido. Em 12 dias descobri por exemplo que vocês têm um sistema de telecomunicações muito mais sofisticado do que a nosso. Achei incrível poder comprar um telemóvel tão bom por tão pouco dinheiro. A rede de comboios também me surpreendeu, e a vossa nova arquitectura, um modernismo de que não estava à espera.
Não encontrei em Portugal o mundo que conhecia através da Frota Branca.
Há uma coisa que achei estranha: não vejo sinais do mar na vossa cultura, como se o mar tivesse deixado de interessar-vos. E não estou a falar das praias, que vi apinhadas de gente.«
In Notícias Magazine n.º 903 de 13.09.2009, Diário de Noticias n.º 51295
Reportagem original aqui
Entrevista completa, aqui
Exposição no Museu Marítimo de Ílhavo
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Há uma coisa que achei estranha: não vejo sinais do mar na vossa cultura, como se o mar tivesse deixado de interessar-vos. E não estou a falar das praias, que vi apinhadas de gente.
M.
Mas não o saberia fazer sem se perder algo ou haver qualquer acréscimo que significasse alguma coisa. Fica aqui (grande) parte da entrevista que falei.
Na Primavera de 1966,o canadiano Wayne Ralph fotografou um grupo de pescadores portugueses cujo navio bacalhoeiro estava atracado no porto de St. John’s,capital da Terra Nova.No final de 2008,essas fotografias foram publicadas na nm e um desses homens descobriu-se nelas com 18 anos.No Verão de 2009,Wayne Ralph veio a Portugal expor essas imagens a convite do Museu Marítimo de Ílhavo e no dia da inauguração reencontrou-se com o pescador.Aqui se narra esse reencontro,numa conversa em que foi também questão a história comum de dois países unidos pelo bacalhau.
Contámos parte desta história na NM de 14 de Dezembro de 2008, quando publicámos algumas das fotos que fez dos pescadores portugueses no porto de St. John’s, capital da Terra Nova, em 1966. Um deles foi reconhecido por um parente, que lhe ofereceu a revista pelo Natal, provocando uma vaga de memórias e emoções. Quer contar o que aconteceu entretanto?
Em Janeiro deste ano recebi um e-mail do filho desse ex-pescador dizendo-me que o pai se tinha visto na revista (nessas imagens ele tinha 17 anos) e chorado (o que o filho nunca o vira fazer). Nesse e-mail o pai agradecia-me por tê-lo fotografado. Eu ignorava até esse momento o nome desse pescador, como os dos outros que fotografei. O próprio nome do navio em que seguiam apenas o soube por essa altura, depois de digitalizar as imagens e de as ampliar de modo a tentar colher elementos identificativos. António (o pescador de que temos estado a falar) era o elemento mais novo da tripulação do Dom Denis nessa campanha.
Tínhamos sensivelmente a mesma idade quando o fotografei no porto de St. John’s. Eu morava perto do porto, e nesse dia andava por ali a passear.
(...)
Nessa altura, quando os portugueses faziam parte da paisagem humana de St. John’s, recorda- se ou não de ser capaz de distingui-los dos outros pescadores?
Os navios dos portugueses eram diferentes de todos os outros, eram os únicos que eram veleiros, de três ou quatro mastros, enormes, com aquelas velas lindíssimas e aquele charme que os outros não tinham. E eram brancos, por causa da Segunda Grande Guerra, o que eu não sabia à época [os navios bacalhoeiros portugueses foram mandados pintar de branco pelo Estado-Maior Naval na sequência de ataques alemães a lugres da nação «neutral» no alto-mar]. A White Fleet era única. Podíamos ver esses navios quando o tempo estava mau, pois eles procuravam abrigo no porto, onde ficavam até o tempo melhorar. Quando a White Fleet chegava íamos todos ver os seus navios. Da minha secretária da escola conseguia vê-los pela janela.
(...)
António, o ex-pescador que agora reencontrei, foi para o mar com 8 anos. Na Terra Nova há muitas pessoas como ele, pessoas da minha geração que não estudaram e que foram para o mar ainda quase crianças. Tal como os portugueses que eu via a jogar futebol em St. John’s, e que ganhavam sempre os jogos, eram muito bons jogadores.
Como os distinguia dos espanhóis ou dos marroquinos, que também jogavam futebol quando estavam atracados?
Os portugueses tinham roupas distintivas, feitas à mão, os pescadores da Frota Branca vestiam-se de maneira diferente dos outros.
E isso é visível também nas minhas fotos de 1966 – numa delas há um conjunto de homens vestidos com roupas compradas em lojas, blusões como os dos homens da marinha mercante. Os pescadores portugueses não vestiam roupas dessas. A probabilidade de esses homens serem portugueses era baixa.
Como explica as relações tão excepcionalmente amistosas entre os portugueses da Frota Branca e os seus conterrâneos?
Quando eu era miúdo e via os portugueses sempre por ali, no porto de St. John’s, eu sabia que tinham sido eles a encontrar-nos, na escola aprendi que o primeiro descobridor a encontrar a Terra Nova foi Gaspar Corte-Real, um português. Por outro lado, sempre foi muito claro para mim que os portugueses que paravam em St. John’s eram os mais pobres de todos. Eram sempre avistados a andar pelas ruas em grupos, olhando para as montras das lojas, hesitando em comprar.
Tal como o rapaz que eu descrevi na história publicada em Dezembro passado, que não tinha dinheiro para comer um banana-split e ficou a ver-me comer o meu. Os portugueses tinham quando muito dinheiro para beber uma cerveja, mas não para pagar uma refeição ou uma sobremesa cara. Penso que sempre houve um olhar compreensivo relativamente a esses constrangimentos dos portugueses, que de resto eram muito bem parecidos e tinham muito sucesso com as raparigas. Sabíamos, ainda, que os portugueses eram os que trabalhavam com menos condições. A pesca do bacalhau era dura para todos, mas para os portugueses era-o ainda mais. Isso fazia deles heróis absolutos, tal como vem explicitado no famoso livro de Alan Villiers [A Campanhado Argus, uma edição da Cavalo de Ferro].
(...)
Voltemos a esse encontro inacreditável entre si e o pescador que fotografou na Terra Nova em 1966. Quais são os seus significados, e os desta sua vinda a Portugal?
Posto de uma forma simples: passei anos e anos a pensar que devia ter enviado as fotografias a esse outro pescador, o homem que era de Aveiro e me deu a sua morada. Sempre me senti um pouco culpado por não o ter feito, senti remorsos por não ter sido mais consequente. Quando o filho de António me disse que o pai gostaria muito de me reencontrar, fiquei a pensar que também eu queria muito esse reencontro. Mas não sabia onde poderia vir a ter lugar. Foi então que em meados de Junho passado recebi um e-maildo director do Museu Marítimo de Ílhavo, Álvaro Garrido, a convidar-me para expor em Ílhavo essas fotografias tiradas em 1966. Decidi vir, não só para a inauguração da exposição, mas também para reencontrar esse antigo pescador, o que aconteceu no dia 8 de Agosto, no museu. António apareceu com toda a sua família. Foi um momento inesquecível. Até Janeiro passado eu nem sequer sabia o nome dele, ele era apenas alguém que eu fotografara 43 anos antes em St. John’s, mas que representava todos os portugueses que eu conhecera durante a minha infância e juventude na Terra Nova. Ele não fala inglês e eu não falo português, mas isso não teve importância alguma.
Sei que depois passou alguns dias no local onde vive o antigo pescador e a sua família.
Passei três dias com a família de António. Tive oportunidade de conhecer outras pessoas, antigos pescadores nomeadamente, (...) O que mais me impressionou foi ver o quanto guardam St. John’s no coração. Todos eles ficam muito sentimentais quando falam desses tempos na Terra Nova. Lembram de forma muito vívida e emotiva essa época em que passavam por vezes vários dias em St. John’s.
Para eles você é a representação da Terra Nova e do seu povo, que os acarinhou ao longo de todos esses anos de campanhas bacalhoeiras.
Exactamente. Alguns ficaram com os olhos cheios de lágrimas, e começaram a falar desses outros homens nas fotografias, indagando o que lhes teria acontecido, quem estaria ainda vivo.
Sei que alguns desses pescadores retratados nas suas fotografias de 1966 foram reconhecidos e que alguns são da mesma zona. Porque não os encontrou?
Creio que não estavam interessados nesse reencontro.
Talvez queiram esquecer. Há uma memória recalcada desses tempos, seguramente devido à sua dureza. Tal como acontece com combatentes da guerra colonial.
Penso que há traumas associados a essas longas viagens. Para António foi muito emotivo, houve uma quantidade impressionante de memórias que emergiram. Talvez esses outros homens não quisessem vivenciar isso. Talvez queiram esquecer, sim. Falei com um capitão aposentado, um homem com uma grande experiência, que começou nos dóris, e ele reafirmou-me a dureza dessas pescarias. António contou-me que quando estavam em St. John’s e chovia se lavavam debaixo dessa chuva. Nos navios, havia pouca água, e eles lavavam-se numa pequena quantidade de água, que servia também para fazerem a barba, e que no final bebiam! António contou-me que, quando estavam em St. John’s, por vezes iam ao Hotel Newfoundland, que era um hotel para homens de negócios, um lugar caro e onde havia um código de indumentária. Os portugueses por vezes iam lá beber uma cerveja, de gravata e com as suas melhores roupas, com os seus fatos a cheirar a naftalina, e bebiam uma cerveja que faziam durar o serão todo.
(...)
Essa questão identitária é um problema global. A questão hoje é a de tentar perceber de que modo vão sobreviver as diferentes culturas no mundo globalizado.
Sim, concordo, mas que cultura estamos entretanto a construir? Que mundo vai ser o dos nossos filhos e netos? Se a adversidade forma o carácter, que pessoas vão ser? Se as novas gerações não tiverem nada contra o que lutar, se não tiverem desafios, como poderão ter iniciativa? Como poderão ser capazes de improvisar? Conhecerão algum dia a satisfação de se verem capazes de se ultrapassarem e se surpreenderem a si mesmos? A geração de António cresceu a duvidar de tudo: do navio, do tempo, do mar, dos outros homens, a dureza da vida levava-os a duvidar sistematicamente de tudo, e daí os pescadores com quem me encontrei no outro dia duvidarem das minhas fotografias. António disse-me que pensa que há da parte deles uma espécie de cepticismo fundamental em relação a tudo.
(...)
Mas o vosso país surpreendeu- me, pensei que fosse mais rural, menos desenvolvido. Em 12 dias descobri por exemplo que vocês têm um sistema de telecomunicações muito mais sofisticado do que a nosso. Achei incrível poder comprar um telemóvel tão bom por tão pouco dinheiro. A rede de comboios também me surpreendeu, e a vossa nova arquitectura, um modernismo de que não estava à espera.
Não encontrei em Portugal o mundo que conhecia através da Frota Branca.
Há uma coisa que achei estranha: não vejo sinais do mar na vossa cultura, como se o mar tivesse deixado de interessar-vos. E não estou a falar das praias, que vi apinhadas de gente.«
In Notícias Magazine n.º 903 de 13.09.2009, Diário de Noticias n.º 51295
Reportagem original aqui
Entrevista completa, aqui
Exposição no Museu Marítimo de Ílhavo
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Há uma coisa que achei estranha: não vejo sinais do mar na vossa cultura, como se o mar tivesse deixado de interessar-vos. E não estou a falar das praias, que vi apinhadas de gente.
M.
Encontros - Drying the sail
Esta manhã, enquanto tomava café, folheava uma revista já com duas semanas.
Lá estava um artigo e entrevista que me prendeu mais tempo que o normal e recomendável dado o atraso das horas. Era sobre um canadiano que tinha tirado uma série de fotografias à White Fleet, uma frota de veleiros portugueses, enquanto essa mesma frota estava ancorada na sua terra natal. Não sei quantos anos, décadas, depois essas imagens foram publicadas na referida revista e um dos pescadores portugueses reconheceu-se nessas imagens.
È uma história de encontros e reencontros com o passado, assunto que confesso que me fascina. E o artigo é exactamente sobre esses reencontros.
Nunca tinha ouvido falar da White Fleet (pelo menos com atenção) e sei muito pouco sobre os percursos dos portugueses nesses mares e nessa época. Confesso que fiquei algo fascinado sobre o assunto. Vou investigar mais sobre isso e mais tarde voltarei com a história, explicações e um pouco de mais conteúdo. Para já fica esta imagem que encontrei. E gostei.
For centuries the Portuguese White Fleet came to St. John's Newfoundland to escape hurricanes and to replenish their food and water supply.
Their arrival each year draw crowd to see the famous fleet. Unfortunately, today they exist on photographs only. The dories had sails .
Picture taken in St.John's Harbor, early 1960s'
Daqui.
M.
Lá estava um artigo e entrevista que me prendeu mais tempo que o normal e recomendável dado o atraso das horas. Era sobre um canadiano que tinha tirado uma série de fotografias à White Fleet, uma frota de veleiros portugueses, enquanto essa mesma frota estava ancorada na sua terra natal. Não sei quantos anos, décadas, depois essas imagens foram publicadas na referida revista e um dos pescadores portugueses reconheceu-se nessas imagens.
È uma história de encontros e reencontros com o passado, assunto que confesso que me fascina. E o artigo é exactamente sobre esses reencontros.
Nunca tinha ouvido falar da White Fleet (pelo menos com atenção) e sei muito pouco sobre os percursos dos portugueses nesses mares e nessa época. Confesso que fiquei algo fascinado sobre o assunto. Vou investigar mais sobre isso e mais tarde voltarei com a história, explicações e um pouco de mais conteúdo. Para já fica esta imagem que encontrei. E gostei.

For centuries the Portuguese White Fleet came to St. John's Newfoundland to escape hurricanes and to replenish their food and water supply.
Their arrival each year draw crowd to see the famous fleet. Unfortunately, today they exist on photographs only. The dories had sails .
Picture taken in St.John's Harbor, early 1960s'
Daqui.
M.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
domingo, 20 de setembro de 2009
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
domingo, 13 de setembro de 2009
The meaning of life?
Fácil.
Noites com pessoas e momentos como os de ontem.
Manhãs e dias como o de hoje.
M.
Noites com pessoas e momentos como os de ontem.
Manhãs e dias como o de hoje.
M.
sábado, 12 de setembro de 2009
Um ano de destinos
Há um ano atrás, precisamente um ano atrás, nem mais nem menos, no dia 12 de Setembro de 2008, eu estava a esta hora no carro a dirigir-me ao restaurante de um casal amigo meu que fica a uns 60 km daqui, na praia.
Nessa noite, jantei lá com o P., o dono e meu amigo desde o primeiro ano da faculdade e o E. que com eles trabalha e que conheço desde os meus 16 anos e é neste momento o meu melhor amigo.
Fui eu quem os apresentou um ao outro há coisa de dois anos atrás ou algo do género e como resultado de uma generosidade única e desinteressada por parte do E., que inicialmente os ajudou a levantar aquilo partilhando os seus conhecimentos a troco de absolutamente nada senão o facto de ser um casal meu amigo, sendo que eles não percebiam nada daquilo, acabaram por acasos do destino a trabalhar juntos. Neste momento, para além de colegas são amigos.
Nessa noite, estavam os dois de rastos. Literalmente de rastos. Pálidos, com olheiras e as energias abaixo dos limites aceitáveis do cansaço extremo. Tinham sobrevivido aos meses de verão que tinham passado desde a abertura apressada daquele espaço, meses a trabalhar a um ritmo alucinante, com uma equipa reduzida e com imprevistos que obrigaram a bastante improviso, jogo de cintura e high spirit.
O pior já tinha passado. As coisas começavam a acalmar e eles estavam naquela fase de entrar em ressaca e tentar interiorizar tudo o que tinham vivido.
Foi um jantar calmo, sereno, íntimo e muito preenchido. A seguir ao jantar fomos os três beber um copo num sitio a uns quilómetros dali. Um bar mais ou menos banal, meio estranho e alucinante até mas simpático.
Conversámos muito. Rimo-nos. Descontraímos e falámos dos acasos do destino que nos tinham juntado aos três, ali, naquele sítio, naquela noite, tão longe de Lisboa. Falámos de coisas importantes. Das coisas que verdadeiramente interessam na relação entre as pessoas. Falámos de entrega e partilha. Falámos de partilhar momentos únicos como aquele.
Combinámos que daí a um ano nos juntariamos novamente, naquele bar estranho, meio alucinante mas simpático, para celebrar os acasos do destino que juntam as pessoas.
É para lá que me dirijo daqui a bocado. Já passou um ano e nenhum deles se esqueceu.
Ligaram-me ontem a perguntar a que horas eu chegava.
Por vezes, muitas vezes, apercebo-me que sou um sortudo.
M.
Nessa noite, jantei lá com o P., o dono e meu amigo desde o primeiro ano da faculdade e o E. que com eles trabalha e que conheço desde os meus 16 anos e é neste momento o meu melhor amigo.
Fui eu quem os apresentou um ao outro há coisa de dois anos atrás ou algo do género e como resultado de uma generosidade única e desinteressada por parte do E., que inicialmente os ajudou a levantar aquilo partilhando os seus conhecimentos a troco de absolutamente nada senão o facto de ser um casal meu amigo, sendo que eles não percebiam nada daquilo, acabaram por acasos do destino a trabalhar juntos. Neste momento, para além de colegas são amigos.
Nessa noite, estavam os dois de rastos. Literalmente de rastos. Pálidos, com olheiras e as energias abaixo dos limites aceitáveis do cansaço extremo. Tinham sobrevivido aos meses de verão que tinham passado desde a abertura apressada daquele espaço, meses a trabalhar a um ritmo alucinante, com uma equipa reduzida e com imprevistos que obrigaram a bastante improviso, jogo de cintura e high spirit.
O pior já tinha passado. As coisas começavam a acalmar e eles estavam naquela fase de entrar em ressaca e tentar interiorizar tudo o que tinham vivido.
Foi um jantar calmo, sereno, íntimo e muito preenchido. A seguir ao jantar fomos os três beber um copo num sitio a uns quilómetros dali. Um bar mais ou menos banal, meio estranho e alucinante até mas simpático.
Conversámos muito. Rimo-nos. Descontraímos e falámos dos acasos do destino que nos tinham juntado aos três, ali, naquele sítio, naquela noite, tão longe de Lisboa. Falámos de coisas importantes. Das coisas que verdadeiramente interessam na relação entre as pessoas. Falámos de entrega e partilha. Falámos de partilhar momentos únicos como aquele.
Combinámos que daí a um ano nos juntariamos novamente, naquele bar estranho, meio alucinante mas simpático, para celebrar os acasos do destino que juntam as pessoas.
É para lá que me dirijo daqui a bocado. Já passou um ano e nenhum deles se esqueceu.
Ligaram-me ontem a perguntar a que horas eu chegava.
Por vezes, muitas vezes, apercebo-me que sou um sortudo.
M.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Momentos bons
Chegar ontem a meio da tarde de viagem, depois de uma paragem para um banho retemperador de despedida da malta que continuava viagem, vir a casa largar a trouxa, esperar por um outro amigo que me convidou para uma mini-festa na casa de um amigo dele junto à praia.
Não conhecia práticamente ninguém mas foi um jantar descontraído, ao ar livre, com gente boa onda, bom vinho, boa companhia, ambiente sereno, velas e uma guitarra que a partir de uma certa hora da noite não se calou até sairmos dali.



Chegar a casa e dormir por estes 3 dias já que hoje o dia não era de trabalho.
M.
Não conhecia práticamente ninguém mas foi um jantar descontraído, ao ar livre, com gente boa onda, bom vinho, boa companhia, ambiente sereno, velas e uma guitarra que a partir de uma certa hora da noite não se calou até sairmos dali.



Chegar a casa e dormir por estes 3 dias já que hoje o dia não era de trabalho.
M.
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