domingo, 5 de julho de 2009

Momentos que não se esquecem

ontem, eu e os meus 3 favoritos da equipa, saímos do porto de abrigo com o fim da tarde para fazermos o transporte do veleiro para o porto de abrigo onde será a próxima regata. Ainda nos esperavam umas horas de navegação e queríamos chegar a horas de beber um copo ou outro.

Enquanto nos afastamos da costa, assistimos ao por do sol e ao nascer de um luar lindo, está um mar sereno com aquela ondulação que embala e acalma e um ambiente a bordo muito boa onda. Intimo e divertido.

O P., o homem do mar que conheço que mais respeito, desliga o piloto automático e vai ao leme. Gosto muito da postura dele, tanto no mar como em terra, mas o facto é que quando está ao leme, o olhar dele transforma-se. Cresce. É sem dúvida o meio dele.

Pergunto-lhe se se importa que vá um pouco ao leme, coisa que, ao contrário deles, não tenho muita experiência e faço poucas vezes. Normalmente evito fazê-lo com mar muito batido ou quando há muita gente a bordo. Ou gente com a qual não me identifico tanto.

Enquanto eles conversam, vou ali inicialmente muito concentrado e pouco descontraído a tentar manter o rumo o melhor possível e a ganhar sensibilidade. Antecipar o desvio provocado pelas ondas e encontrar o equlibrio de não mexer a roda do leme nem a mais nem a menos.

O P. dá de vez em quando umas dicas.

Deixo de ter os olhos fixos na agulha da bússola e fixo um ponto que me dá o rumo apróximado. Começo a descontrair e saborear. Começo a sentir o veleiro, as ondas, a ver o luar e absorver o ambiente e momento que estou a viver. Começo a sentir-me feliz.

O R. testa-me algumas vezes para perceber se estou descontraído. Sente o que sinto, vai à cabine, tira a música que estava a tocar e põe outra. Vem cá fora, distribui 4 cervejas e diz: M., esta é para ti.

Homem do Leme

Sozinho na noite
um barco ruma para onde vai.
Uma luz no escuro brilha a direito
ofusca as demais.

E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

No fundo do mar
jazem os outros, os que lá ficaram.
Em dias cinzentos
descanso eterno lá encontraram.

E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

No fundo horizonte
sopra o murmúrio para onde vai.
No fundo do tempo
foge o futuro, é tarde demais...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder


Há coisas que se sentem que não dá para descrever. Ouvir isto, sentir isto e ver isto é uma delas.



M.