domingo, 22 de dezembro de 2013

A limpar o pó aqui acumulado - Bocas del Toro

Estou na esplanada do El Pirata.  É o meu sitio nas manhãs em Bocas. Tem internet, expresso que por vezes até é razoável e uma vista que adoro.

6ª feira foi o meu último dia como Skipper do Helena S.
A última vez que aqui escrevi foi em Setembro, ainda estava em Shelter Bay e cheio de ganas para fazer isto resultar. Nestes mais de 3 mêses que passam entretanto muito pó acumulou-se aqui e aconteram muito mais coisas do que eu tenho capacidade de sintetizar neste espaço. A um ritmo que não quis acompanhar. Há  processos que são intimos.

Talvez depois consiga sintetizar aqui o mais importante destes meses mas para já o mais importante é que fui skipper pela primeira vez quando naveguei de Shelter Bay para aqui, a primeira tentativa foi abortada mas correu muito bem, a segunda foi bem sucedida e correu de forma perfeita só faltando um pouco mais de vento por mais tempo, fui algumas vezes skipper entretanto, ainda que teóricamente o tenha sido desde esse dia, fiz os possíveis para criar um negócio e preparar o catamarã para a temporada alta que começa algures nesta semana que vem, me despedi há umas semanas atrás, fez ontem uma semana que chegou o meu substituto e na 6ª feira tive o meu primeiro dia de folga (dos para aí 10 ou 15 ou sei lá que tive nestes 5 mêses de Panamá) sem estar preocupado com o volume de coisas a fazer no barco.
Este fim de semana foi de festa, não dormi no barco e encerrei um capitulo.

Fico mais uma semana a ajudar na transição para o novo skipper. Passar o posto na 6ª feira foi uma decisão necessária porque como me disseram neste processo "um barco só conhece um skipper" e estavam ali dois. E foi uma excelente decisão.

Estou livre.
Depois dessa semana, quero acabar o Divemaster que entretanto comecei e interrompi porque era impossível ter tempo para tudo.

Depois disso não faço puto de ideia. Há uma hipótese algo remota de ajudar a levar um veleiro para as British Virgin Islands e de ir no mesmo barco atravessar o oceano algures em Maio. Mas é muito remota e os timmings do dono não são muito compativeis com os meus. Pelo menos no que toca à data de largada daqui.
Há outra hipótese remota de ficar uns tempos no Centro de Mergulho mas suspeito que essa não será sustentável.

Ando a ver o que há.
E para onde me leva o vento.

M.



domingo, 8 de setembro de 2013

Ainda aqui estamos

Papeis. Peças encomendadas que chegaram trocadas. Coisas que aparecem.
Ainda aqui estamos. Agora a data de partida mais optimista é 3ª feira que vem. As peças para o motor do Arctic supostamente na 2ª.
Originalmente a ideia era estarmos aqui cerca de 3 dias. O Arctic teve problemas de motor. O Helena é um bicho com carácter, no minimo.

Esta empresa não se devia chamar Make Fast. É uma espécie de Stª Casa da Misericórdia dos barcos. Os barcos são velhos, negligenciados e abandonados. A precisar de carinho e cuidado. Make fast tanto quanto possível.
Exemplo: Um gajo tem a missão de fim de tarde de prender a bomba do chuveiro exterior. Coisa simples: Quatro furos numa placa de madeira para prender a bomba e outros dois para prender o conjunto na parede do compartimento onde vai ser pendurada, mais sicaflex e 6 parafusos para o efeito. A meio do processo percebe-se que a mangueira pinga numa união. Quando se desmonta a mangueira sai a água do depósito com bocados de uma espécie de alface a flutuar. Tira-se o tanque para esvaziar, lavar, e deixar uma noite em água com lixivia para estar em condições de ser usado. Nisto a bomba, o tal trabalho simples, não é montada no sitio.
Os dinghys (ambos os dois) metem água. Hoje esvaziei-os enquanto para sentir que algo de util estava feito.
A verdade é que nada está feito até os tirar da água e remendar a entrada de água.
Chris, o tal mago do barcos e nosso Robert Redford particular, é mesmo um mago. Faz tudo e quase tudo de uma forma impecável. A pedido do Luís ele está a ensinar-me tanto quanto pode. Ou melhor, tanto quanto consigo.Faço mais asneiras do que coisas certas. E sinto que ele gosta de mim. Temk uma certa atitude paternal no meio de um certo mau feito que eu gosto.

Hoje baldei-me bastante ao trabalho. A noite foi longa.
Estou cansado e eternamente dividido entre a necessidade de parar um dia ou dois e saber que o barco tem que estar pronto. E quanto menos fizer mais tarde saimos daqui. Pensei mais um a vez ir a Panamá City. Mais uma vez não consegui porque sabia que não ía estar descansado lá a pensar no que há para fazer. Dois dias de trabalho são muitos dias aqui.
Por outro lado há a questão da produtividade.Se parar um dia ou dois, sei que vou produzir muito mais. É complicado.

Entretanto a estadia aqui melhorou. Os miudos seguiram o seu caminho. Estavam fartos e eu farto deles. Era altura e as coias não estavam a funcionar.
Graças ao Luís, encontrámos gente que nos trouxe um novo folego de ar fresco. Ontem cozinhei um arroz de polvo manhoso para 7 pessoas que por 5 delas nunca o terem comido acharam bom. E ainda fiz o meu primeiro mergulho neste lado. No meio da marina, à noite, para encontrar 4 garrafas de vinho tinto que cairam na água por um saco de plástico ainda mais manhoso que o arroz que se rompeu quando o Luís punhas as compras a bordo. Tentei ir inicialmente, à tarde, sem garrafa. São cerca de 9m de profundidade e 1m de visibilidade com o lodo que se transforma em 10cm assim que se levanta o sedimento do fundo. Já com o equipamento manhoso do Helena, encontrei duas à noite, suficientes para completar as que sobreviveram. As outras duas hoje à hora do almoço. Ontem demorei bastante. Hoje demorei uns 20 minutos ou mais no total. A primeira (ou terceira) foi rápido. a 2ª (ou 4ª) estive quase a desistir. Sou teimoso. Ainda não percebi se é uma boa ou má qualidade.

O resto, Luis explica melhor que eu.

M.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Correcção

A lua Nova ainda não passou. Mas só faltam 7%.
A partida parece que afinal não é amanhã. Papeladas e coisas assim que estão em falta. Fica para depois de amanhã.
É sempre dificil sair dos sitios aqui no Panamá. Nunca me tinha acontecido isto. Já em Balboa foi o mesmo. Parece que nos querem prender e não deixar ir.

Entretanto começo a fazer as pazes com esta marina, o que deve ser sinónimo de algo parecido ao Sindrome de Estocolmo.

Falta só um molinete. É dos complicados e para variar há um parafuso que é teimoso.
Vou tratar dele agora.

M.

Optimismos moderados


Se tudo correr como esperado depois de amanhã largamos para Bocas del Toro. De preferência com o nascer do sol. Estamos a precisar tanto que seja uma boa viagem como de sair desta marina. O L. vai ao comando do catamarã, ex-Kiki renomeado Helena S. em homenagem à sua filha, com os dois miúdos.

Hoje ficaram as velas prontas. Os 5 molinetes do cockpit foram desmontados e limpos, um do mastro está desmontado e faltam outros dois. Estavam num estado lastimável. Estão agora aceitáveis. São quase todos diferentes. Para os dois primeiros, os maiores, precisei de procurar na internet o esquema para conseguir voltar a montá-los. Demorei dois dias para isso. Os restantes demoraram tempo entre parafusos que não queriam sair e imundice que também não queria sair. Hoje tive uma hora para tirar um parafuso teimoso. Eu sou mais teimoso.
O último que desmontei é o mais complicado. Tem rolamentos e uma data de pecinhas. Ìa perdendo um rolamento.
 O Helena S. ainda está com aspecto de estaleiro mas tirando os molinetes falta só pôr óleo na caixa, arrumar a tralha e fazer o teste de mar amanhã.

O Arctic Front vai sob o meu comando com o Chris, o tal mago dos barcos. É mesmo um mago e damo-nos bem. Só tenho pena de não o estar a ajudar para ir aprendendo com ele alguma coisa. Paciência.

A viagem será de cerca de 140 milhas. O Helena faz facilmente mais uns 2 a 5 nós que o Arctic, suspeito. Como vamos em frota imagino que o L. andará às voltas do Artic para ocupar o tempo e divertir-se. É um cromo.
 Entretandto os espíritos melhoraram. Estamos em modo partida. No fundo é só mais um dia.

A ver se a maré muda e começam a acontecer coisas boas. Muito boas já agora.
A lua cheia e nova passou. Estamos noutra lua a crescer.


M.

Faz toda a diferença



Um bom jantar, um bom vinho, um bom rum, um bom charuto e uma boa conversa.
Muda tudo.

M.


sábado, 31 de agosto de 2013

Squall

A strong wind with sudden onset and more gradual decline, lasting for several minutes. Wind speeds in squalls commonly reach 30–60 mi/h (13–27 m/s), with a succession of brief gusts of 80–100 mi/h (36–45 m/s) in the more violent squalls. Squalls may be local in nature, as with isolated thunderstorms, or may occur over a wide area in the vicinity of a well-developed cyclone, where the squalls locally reinforce already strong winds. Because of their sudden violent onset, and the heavy rain, snow, or hail showers which often accompany them, squalls cause heavy damage to structures and crops and present severe hazards to transportation. The most common type of squall is the thundersquall or rain squall associated with heavy convective clouds, frequently of the cumulonimbus type. Such a squall usually sets in shortly before onset of the thunderstorm rain, blowing outward from the storm and generally lasting for only a short time. It is formed when cold air, descending in the core of the thunderstorm rain area, reaches the Earth's surface and spreads out. Particularly in desert areas, the thunderstorm rain may largely or wholly evaporate before reaching the ground, and the squall may be dry, often associated with dust storms. 
Squalls of a different type result from cold air drainage down steep slopes. The force of the squall is derived from gravity and depends on the descending air which is colder and more dense than the air it replaces. So-called fall winds of this kind are common on mountainous coasts of high latitudes, where cold air forms on elevated plateaus and drains down fiords or deep valleys. 

A minha irmã faz hoje anos. Mais um momento em que não estou presente. Ando a coleccioná-los bastante estes últimos anos.
A minha mãe telefonou-me de manhã quando estavam todos na casa entretanto reformada a lanchar. Apetecia-me estar lá. Vai haver festa da boa.

Acabei há pouco de almoçar. Quando bebia café e via mails apareceu um squall. Bruto ao som de Rokia Traoré que um amigo tinha publicado na sua página de Facebook o que me pareceu bastante adequado já que isto é mesmo um sitio estranho. Apanho uns 3 ou 4 por semana mais ou menos. Mais para mais do que para menos.

Tinha pensado ir hoje ao Panamá (cidade) desanuviar. Não é possível. há que terminar os veleiros e tentar arrancar no máximo na 3ª feira. Os humores aqui estão como o tempo. Aparece um Squall de vez em quando, sendo esse de vez em quando algo frequente. Está tudo farto de estar aqui, com pouca paciência e vontade. Somos 4 a dormir num veleiro algo caótico numa convivência intensa tipo Big Brother e cada com um com as suas questões e razões de queixa. Os dois miúdos querem arrancar e seguir viagem. Estão só à espera de levar a os veleiros a Bocas. Entretanto a disponibilidade e vontade diminui a cada dia que passa. Já passou o tempo de estarem aqui.

As coisas não vão sendo fáceis. Estou aqui há um mês mais ou menos. Práticamente ainda não naveguei, as vezes que naveguei mais valia não o ter feito e mal posso esperar o momento de meter no mar e ir parar a algum lado que possa gostar. O trabalho ée feito a ritmo de caracol, desorganizado e descoordenado. Não sou dono do meu tempo e o isolamento a que estou habituado não existe nem é possível aqui. Não estou habituado a isso.

Ontem no banho dei por mim a cantar "e depois do adeus".. "Quis saber quem sou, o que faço aqui..." o que é tão estranho como os squall's e humores que aparecem de vez em quando aqui.

M.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Magias

Ontem o Artic Front serviu de cenário para a gravação de um video de um cantor local de reagge. Parece que o gajo é conhecido e assim que o video tiver terminado ponho-o aqui.

O catamarã (kiki que provavelmente passará a chamar-se Helena S.) já tem motores a funcionar e estamos em arrumações/organização/limpeza. Tem material que nunca mais acaba e vê-se que foi um barco de marinheiros. Hoje vamos por-lhe o verdadeiro motor: as velas.

Amanhã chega aqui um gajo que me foi descrito como um mago dos barcos, vindo de flórida. Vai ficar umas duas semanas connosco a tratar dos barcos e principalmente o renascimento do motor do Artic. O catamarã arranca com o Luís e os miudos para Bocas del Toro assim que tiver pronto.

Eu fico aqui nesta baía estranha com o mago a tratar do artic e seguimos os dois viagem para Bocas espero que antes do fim de semana.
Estou a precisar.

M.

domingo, 25 de agosto de 2013

O tal canal demoniaco

O barco foi para a água já não sei dizer quando. Não correu bem. Ficou um cabo solto na água que se enrolou na hélice ou no veio e dobrou o varandim onde estava preso. Aquilo ficou com mau aspecto.
O L. ficou furioso com aquela saída. Acho que a culpa foi da malta de terra que lançou mal o cabo.
Estivemos ali uns dias fundeados. Mais reparações e uma to do list que a cada item riscado apareciam dois novos itens.
Rick, o gajo que veio arranjar os metais é complicado. Quando começa com conversas de adiar o prazo que tinhamos combinado temos um ligeiro stress intenso que mais tarde foi resolvido. Às vezes tem de ser assim.
Uns jantares e copos de descontração no Casco Antiguo.

O dono da empresa, Mike, vem ter ao Panamá dois dias antes da partida para o canal. Não consigo afinar com ele. Acontecem cenas foleiras que caem mal e que não interessa estar aqui desenvolver mas a titulo de exemplo acordar-me às 6 da manhã para pedir emprestados 60 dólares para pagar o táxi porque não consegue levantar dinheiro não é bom.
Em compensação foi antecedido de um jantar de despedida fabuloso com todos no Finca del Mar.

Vamos para o canal depois de uma maratona de preparativos descoordenados que envolveram duas viagens de táxi com o Alexis com os colchões exteriores para o barco mais uma alcativa que me implica com os nervos e um sem fim, de coisas.
Vem connosco para além do obrigatório adviser que se revelou um bacano, um local, o winston, como line handler para dar uma ajuda. Também não consigo afinar com ele. Tem a mania.

O motor aquece assim que começamos a travessia. Há uma velocidade minima a manter de 5 nós. Paramos duas vezes para meter água e deixar o bicho arrefecer. Passamos uma comporta. Duas. Manobras complicadas de um barco pesado com um motor fraco e em esforço e personalidade própria. Sempre a aquecer. No caminho para o lago que fica a meio já não nos deixam parar para além de uma vez. Deviamos por agua de 20 em 20 minutos. O motor vai na versão motor de vapor até onde pudemos fundear metendo-se água em andamento. Quando paramos já sai água pela cabeça de motor.

Fundeamos no Lago Gatun por 3 noites à espera que nos arranjem um reboque. O dono stressa com os imprevistos e os gastos. amua.
Eu e o L. saímos do barco para arranjar provisões, gelo e combustivel para o bote. Supostamente é proibido mas somos portugueses e temos este dom. Os guardas simpatizam connosco.
No último dia vou com os putos no dinghy ver se encontramos crocodilos. Não vi nada mas eles fartaram-se de ver, segundo eles. A grande distância.

Entretanto arranjamos também em terra um gajo para nos vender combustivel e rebocar que não é aceite pela autoridade. O nosso agente, Pete, um cromo deslocado aqui não sei há quanto tempo, finalmente nos safa. Acordamos às 6 da manhã com um rebocador a acordar-nos. Passamos mais duas ou três comportas de braço dado. Entramos no mar. São brutos. Mais danos nos varandins, Eram para nos levar até à boca da marina de Shelter Bay, onde nos espera o catamarã entretanto comprado e que visitamos cerca de uma semana antes. As autoridades não deixaram. Ficamos mais uma noite fundeados na baía do lado oposto do canal.
O dono tem um xelique (nunca soube como se escreve isto se com x ou ch mas tem uma coisa dessas). L tem cada vez menos paciência para ele. Eu também. Ele resolve que quer ir passar a noite à marina, num quarto de hotel para sossegar o pito.  Vou levá-lo ao outro lado da baía de dinghy em silêncio porque não me apetecem mais lamechices para as quais estou pouco tolerante. Paro para deixar passar um navio que vem do canal. Continuo e tenho que me despachar porque tenho de voltar antes de anoitecer. Pelo sim pelo não levo comigo lanterna e o meu GPS e vou pensando pelo caminho que não fui contractado para este filme. Deixo-o e venho-me embora sem trazer cervejas para a malta porque não quero mais nada com ele. o barco é apertado para 5 pessoas que não estejam em formato casal. Os putos dormem no camarote de proa, o L na cama de piloto, o dono na suite de popa e eu umas vezes cá fora, outras na mesa. Só dormi bem cá fora tapado pela vela grande para proteger da humidade e chuva na ultma noite. Estou cansado.

De volta ao Artic Front (chama-se assim o bicho) L espera-me com algum cuidado/preocupação. Jantamos os quatro descontraídamente.
De manhã levantamos o ferro à mão (mais uma vez porque sem motor não há guincho para o puxar). É fundo e por isso há muita corrente para içar. içamos velas e finalmente navegamos com vento. A manhã está escura. O vento está bom para nos levar para Shelter Bay. Vêm dois navios ao longe. As autoridades não nos permitem passar e dizem que temos de esperar mais 20 minutos. Andamos ali ás voltas entre navios, à vela, a fazer tempo. A visibilidade piora, o vento entra nos 20a 30 n´so com refregas fortes. Uma passagem mais apertada e uma refrega bruta associada a um veleiro de aço com vontade própria levam-nos a albarroar um navio que estava fundeado. Mais danos. L. passa-se com o erro. Eu só penso que se fosse eu ao leme, no dia seguinte estava a apanhar um avião para Portugal.
São menos danos do que esperavamos.

O vento começa a caír quando nos autorizam atravessar. A visibilidade com a chuva diminui. Chove muito aqui no Panamá. Praticamente todos os dias, várias vezes ao dia. Pior que os Açores acho eu.
Vamos a navegar quando olho para trás e vejo o dinghy a ficar para trás. Soltou-se. Duas tentativas de manobra de homem ao mar versão bote. O veleiro continua teimoso e com vontade própria. Falharam. Atiro-me à água para ir buscá-lo a nado. Nao há tempo a perder. A nadar penso em crocodilos e tubarões. Chove desalmadamente. Regresso com o bote. Atravessamos finalmente para o outro lado da baía. Vêm ter connosco duas lanchas para nos rebocarem para a marina. Uma delas começa a falhar.
Chegamos.
Ainda não percebi se sou que trago estes azares e filmes mas começo a achar que sim.

O dono trás-nos umas cervejas, vem boa onda e pede desculpa pela atitude dele. Bebemos as cervejas e limpamos e organizamos minimamente o barco.

À noite estou a jantar com o L a tentar descontrair e o Mike a embebedar-se no bar com uns locals que basicamente lhe estão a chular os dolares. Quando o bar fecha e ele sai com os locals, L levanta-se e vai lá sugerir que ele se vá deitar. ele está com mau vinho e assuntos mal resolvidos. Exalta-se e altera-se. Despede-o. Passa por mim e diz: M., L is fired, you are in charge. Digo-lhe que não, Sou despedido no momento com um colérico e frustado Get your shit of my boat now!
Para além do salário deve me dinheiro que avancei por causa dos problemas a levantar dinheiro que tiveram. Passei-me. Poucas pessoas me irritaram assim. dei de mais para estar a aturar estas merdas. Torno-me bruto. Vamos ao barco buscar tudo o que temos. Os putos resolvem seguir-nos. Ele fica sózinho no barco e nós os quatro no quarto de hotel onde ele esteve. Nunca tinha sido despedido.
Estou feliz por ver-me livre deste filme. Já há algum tempo que sabia que isto não ía correr bem.
Noite má com calor melgas e mosquitos.

No dia seguinte o dono da empresa está profundamente arrependido do que filme que se passou. Quando acordo L. diz-me que vai ficar com a empresa, os dois barcos e o Mike sai de cena com um bom acordo de pagamento por cinco anos.
Numa noite sou despedido, na manhã seguinte sou contratado pelo novo patrão que também tinha sido despedido.
Uns dias mais tarde sou sócio da empresa.

Entretanto esteve lua cheia. Vou acreditar que foi uma lua estranha que causou isto tudo.

A vida no Panamá tem sido monótona.

M.

domingo, 11 de agosto de 2013

No Panamá

No Panamá. Vivo e muito bem.
 Há muito para contar e pouco tempo para o fazer. a ver se mais tarde compenso.

Andei cerca de 38 horas em aeroportos e aviões, passei uma noite a dormir numa bancada do aeroporto de Santo Domingo porque o check in era às 5 da manhã e não valia a pena ir para um hotel. o vôo foi cancelado e fiquei no aeroporto até à tarde. Há um filme com o Tom Hanks em que ele vive uns tempos num aeroporto. Comecei a ponderar em também começar a construir um fonte mas não encontrei material nem sitio para isso.

Fui bastante bem recebido aqui. Já conheço o barco. Estava na doca seca para pintar o casco quando cheguei. Dois dias depois foi para a água. Tenho dois miudos a trabalhar comigo. Uma espécie de itenerantes que andam a viajar pela américa do sul com pouco dinheiro. Um, o Nano, vem da Argentina outro, Gaston, do méxico e cruzaram-se aqui no Panamá. São duas figurinhas de cromos de platina. Muito boa onda e boa gente. Temos vindo a preparar o barco para navegar, sempre a contra-relógio e com mais listas de coisas para fazer do que tempo. Ainda não estou inteirado de tudo nem sequer com metade do ritmo que gostaria de estar. Passo mais tempo a tentar perceber o que hei de fazer do que a fazer coisas própriamente.
Ainda estou longe de me considerar Skipper (ou Captain ou Capitan ou capi como insistem em chamar-me) mas hei de chegar lá. Em qualquer dos casos o barco tem que estar pronto na 3ª feira. Impreterivelmente. 4ª feira cruzamos o Canal do Panamá e rumamos a Bocas del toro. Depois navego uns dias com o Luís. A ver se aí ganho confiança suficiente para assumir o posto. Até lá sou imediato.

Para ser original o meu telemóvel não funciona aqui. O Luís arranjou-me um daqueles que não têm botões e são de massajar com o dedo. Há uns cerca de 60% de dificuldade derivada da estupidez que me assiste há longo tempo e uns 40% de resistência do meu subconsciente. Isto vai demorar.

 No café do clube onde estamos fundeados não há café nem internet desde há dois dias. A falta de um é tão grave como a falta de outro e só falta dizerem que se acabou a cerveja. Mas sempre incentiva à utilização do telemóvel sem botões.

 Estamos fundeados na boca do Canal num sitio que não é totalmente mau mas tem o inconveniente de estar separada do centro da cidade por El Chorrillo, o bairro cabeludo da cidade o que me obriga a apanhar um táxi cada vez que quero ir lá. Não tem piada.
 Bom. Depois continuo. Começo a ficar de consciencia pesada por ter deixado o Nano sózinho a bordo a trabalhar. Há uma lista grande de coisas a fazer até 3ª feira.

M.

sábado, 27 de julho de 2013

Daqui a pouco

Chego a Portugal.
Estou no aeroporto de Colonha (não sei se isto se escreve assim) a fazer tempo para o meu vôo.
Passei parte da manhã no estranho, pequeno e quente aeroporto de Split, com um atraso de 40 minutos do meu vôo e uma data de camonesdeitados em cada cm2 possível do chão.

Em Vis arranjaram-me um quarto no outro lado da baía mesmo em cima do mar. Dei incontáveis mergulhos sempre que me apeteceu. Deixei o quarto-sala da sr-ª idosa viuva de um Capitão da Marinha que canta no coro. Já me fazia panquecas e ficou com pena que eu fosse. Paguei a totalidade dos dias que tinhamos acordado. Deixei a ela e à Svletelana vasos com flores como forma de agradecimento. À Svletelana deixei ainda 100 kn que me valeram um piparote na testa como forma de protesto.
Emprestaram-me um VW de 1990 de côr amarela para ir a Komiza e dar umas voltas. Cozinharam para mim no último dia numa saboroso almoço sobre um terraço de sombra sobre o mar.

3ª feira voltei para Split para estar num certo estado de prontidão e partir a qualquer momento. O dinheiro começa a acabar e estava mesmo a precisar de ter esta proposta concretizada ou em alternativa definir novos rumos.
No dia que cheguei  a Split levaram-me ao concerto de Roger Waters e the wall. Se fosse em Lisboa não sei se iria. sou um bocado preguiçoso nestas coisas. No fim do concerto recebo a msg do Luís S. a confirmar que as coisas iam mesmo para a frente e que a compra do barco foi efectuada. Vou ser skipper.
Arranjaram -me outro quarto, limpo e simpático para dormir. Fiz amigos, conheci amigos e familia de amigos e trocaram-se contactos para um encontro futuro

Fui muito bem tratado na Croácia e dificilmente me esquecerei destas semanas que passaram. Saí de Portugal há cerca de um mês.
Se os próximos mêses correrem como este correu não me posso queixar.

E começo a ganhar consciência que daqui a uns dias estou a arrancar para o panamá.
A mala está mentalmente feita. É só chegar a casa, tirar coisas superfulas como um saco cama e um casaco polar que duvida que façam falta nas caraíbas, decidir se levo a mochila de montanha ou continuo a arrastar esta espécie de caixão com rodas de um lado para o outro.

M.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Passo de Gigante

Então isto vai ser assim:
dia 27 à noite chego a Faro. 
Dia 28 arranco para Lisboa.
Dia 30 para Madrid e Santo Domingo. 
Dia 31 para o Panamá. Não faço ideia de quando volto. 
Isto chega a assustar

M.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Entretanto ando aqui

Esqueci-me de dizer que deixei o apartamento hoje e me mudei provisóriamente para Vis. Tenho qualquer coisa com  esta ilha.
E a Svletelana, a mulher estranha que nos serviu umas 40 bicas e um não sei qual numero de imperiais e trevariscas nas vezes que aqui estivemos e nas horas longas de descontração no café à frente do fundeadoro, tinha ficado de me arranjar um quarto baratinho. tipo 100 ou 150 kunas (1 € - 7,5 KN)
E cumpriu. Liguei ontem a avisar que sempre ia hoje (depois de algumas duvidas por motivos externos circunstanciais e de proposta). Ela disse que só tinha que mandar msg a dizer quando viesse no ferry que o quarto estava pronto.

É a sala de estar de uma velhota.
Não fala inglês. Ainda não percebi se o marido ainda é vivo. Mas está no andar de cima e o wc é cá em baixo. Tenho a esperança que haja outro lá em cima.
Acabei de tomar banho e sair. O veleiro numa mais ou menos coincidência combinada está aqui. As senhoras foram passear e jantar- Eu estive a ajudar o P. a arranjar a bomba de água.

Entretanto tive noticias. A proposta é cada vez mais uma realidade.

Estou à espera que ele as arrume (entretanto voltaram) para irmos comer e celebrar.
A ver o que dá esta conjugação estranha.

M.

Cagliari - Vis - Split - Brac - Vis - Split

Lamento não andar a registar tudo o que acontece para além da muito falivel memoria e umas poucas fotos. Estou em Split. Deixei o barco e o skipper no sábado passado  desde então sou mais um desempregado a viver uns dias em Split do que um turista ou viajante a visitar uma cidade durante as férias. Tem a ver com o baixo valor que recebi pelo trabalho e o pouco dinheiro na conta.

Estou optimista e confesso que a adorar esta sensação de estar meio abandonado aqui.

A viagem foi na essência boa. Com histórias que agora não tenho vagar nem vontade de escrever e que não podem deixar de acontecer quando um veleiro destes é transportado por duas pessoas. Envolveu vários mares e, para ser original, ficamos sem piloto automático algures no salto alto da bota que calça a itália, sendo eu o seu substituto mais frequente.
Chegámos a Vis por acaso, numa decisão de vamos parar ali para descansar fundeados e poupamos uns trocos ao armador ao não pagar uns dias de marina de Split. Apaixonei-me pela baia de Vis naqueles dois ou três dias que ali ficámos e sem muita dificuldade consego imaginar-me a viver ali uns tempos.
Os Croatas são duros e quase rudes ao primeiro contacto. Se não se ligar a isso e se se fizer um sorriso que diz deixa lá essa cena do mau feitio... queres colo? eles derretem-se todos e mostram que são uns corações moles com cara de mau.
Fomos para Split buscar os vernizes e umas peças que foram encomendadas entretanto. Seguimos para uma marina num sitio que não me lembro do nome numa Baia a norte de Split para passar a noite. Não nos deixaram atracar porque não demos entrada na alfandega. Voltamos para Split. Mais duas horas ou três. Também não nos deixam entrar na marina. Temos de ir ao porto. Depois de 3 tentativas falhadas lá encontramos o sitio no cais dos navios e ferrys. Já é noite. O skipper vai tratar da papelada. É multado porque tinhamos de ter dado entrada logo em Vis. Não nos apetece voltar para lá e perder mais 5 ou 6 horas de navegação para cada lado. Só nos passam os papeis depois de ser paga a multa. Tem que ser em dinheiro. O cartão de Multibanco do Armador não permite levantar essa quantidade. Avaançamos com o dinheiro que temos e não temos no dia seguinte. Passamos a noite ali no cais numa espécie de prisão com a animação da cidade ali ao lado. só podemos sair à vez porque tem de estar alguem no barco. Mudamos o barco 3 vezes de sitio para os diferentes ferrys poderem atracar. Resolvida a logistica skipper não faz questão de sair. Eu vou ali perder-me um bocado e já volto.
Nos outros dias ainda há papelada para resolver. Lava-se o barco na marina e carrega-se de alimentos e combustivel. Vamos procurar uma baia para fazer os trabalhos de lixar e envernizar uma quantidade enorme de madeiras. A escolha é um sitio surreal com uma estrutura em tunel da 2ª guerra para esconder um submarino, num cenário de encostas secas e árvores ardias. Teve de  ser. Já tinhamos perdido muito tempo e havia ntrabalho para acabar. Passamos ali perto de uma semana. Acordar às 5 ou 6 da manhã, lixar até ser calor demais para isso. Mergulho no mar. Comer. Dormir. Ler. Quando o calor baixa volta-se a a lixar. Depois enverniza-se. Depois emenda-se. Vão polindo os metais.
Ficou bastante razoável mas longe de perfeito. Isto pedia mãos mais habilidosas e experientes que as nossas. Há barcos que não merecem os donos que têm. Isto é uma coisa um bocado cruel de se dizer e pode ser injusta porque não conheço pessoalmente o homem. Pode estar a fazer o melhor que pode.
Mas o barco, ela, merecia mais. Fico menos zangado com ele quando fico a saber que ele comprou-o numa estado de abandono de 3 anos.
Acabamos os trabalhos. Voltamos duas noites para Vis. Voltamos para Split. Passamos a noite de sábado para Domingo na marina.
Ultimas limpezas. por dentro e por fora. Chegam os primeiros viajantes. A mulher do dono e uma amigas. Vamos ao cais de combustivel busca-las. Entram, são recebidas. Ajudo com as malas, digo olá, agarro na minha sacaria e digo adeus. Troca por troca. Elas começam eu acabo. São cerca de 5 da tarde e vou andando pela baia de Split a falar ao telemovel com o empregado do restaurante barato e local onde temos ido jantar muito bem fora do Centro e turistas. Ficou de falar com um amigo a ver se me arranjava alojamento. Às 7 da tarde tenho os meus sacos lá metidos e estou a beber uma imperial com eles os dois na esplanada do tasco. Sou um gajo com sorte e as coisas com frequência acontecem-me sem me preocupar muito.

Entretanto ando aqui. Tenho uma possível proposta sobre a qual não quero pensar muito enquanto não souber se é uma proposta efectiva ou não. Devos saber algures até 6ª feira. Se for para a frente, é um salto de gigante que chega a meter medo.
Logo se vê.

M.


sexta-feira, 21 de junho de 2013

...E

... e a lua está quase cheia.
O que me agrada.

M.

Cagliari - Croácia

Já tenho os bilhetes e tudo confirmado.
Domingo de manhã estou a apanhar um avião para Cagliari, Sardenha via Barcelona.
Vou lá ter com o skipper que me ensinou bastante do (pouco) que sei sobre mar e vela e com quem já tive o prazer de partilhar umas quantas milhas.
Ficamos lá até ao fim da semana a preparar o veleiro, um 65 pés de luxo de construção holandesa com bastante madeira para lixar e envernizar, e daí partimos rumo à Croácia, onde ela vai estar em Charter durante o resto do verão.
Não vou ganhar práticamente nada de dinheiro com isto. Pagam as despesas todas e mais uns trocos que devem dar para o tabaco, copos e um jantar. Se não abusar das noites de copos, claro.
Mas não interessa. É este skipper. Tenho uma viagem à borla para os lados onde as coisas acontecem e o proprietário fica contente se o trabalho for bem feito. Há sempre hipótese de continuar nos charters ou aparecer um outro veleiro que precise de um marinheiro. Logo descubro.

Levo a carta de Day Skipper que tirei entretanto e interrompo o curso de Patrão local que estava a tirar.
Felizmente. 
Tenho boas memórias de Cagliari da vez que lá estive naquela quase maldita viagem a Malta. Desta vez vou com mais estilo. E com uma bagagem de conhecimentos bastante maior. 
Há coisas boas a acontecer. É o que interessa.

M.


quarta-feira, 8 de maio de 2013

quinta-feira, 25 de abril de 2013

E...

... de volta.

M.


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

12 horas

Afinal é daqui a 12 horas.
Acabei de chegar a Aveiro e fazer o check in no hotel. Amanhã embarco de novo por mais uns meses. Vai ser mais mar e provavelmente mais tempo. Pelo menos espero.

Está tudo pronto. Agora é altura de testar se ainda me recordo do caminho para aquele maravilhoso bife que comi da última vez que aqui estive, há uns meses atrás. O taxista falou-me de um restaurante supostamente ainda melhor.
Não sei se me apetece ser assim tão ganacioso. Excelente parece-me suficiente.
Já vejo

M.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Ainda cá estou.

À espera que me confirmem se o embarque é dia 7 ou dia. Ou outro dia.
Só não tenho é ligado nenhuma a isto.


M.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Ainda não o li...

A Tempestade do Destino

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar. (...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros. E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido. 

 Haruki Murakami, in 'Kafka à Beira-Mar'

 ... Mas parece-me um bom título para levar caso decida aceitar o embarque de novo para aqueles mares que me propuseram. Este prevê-se a dia 26 de Dezembro. Desta vez e se correr tudo como previsto será uma viagem mais próxima dos 5 meses do que dos 3. E com mar de inverno. A sério.

 O dinheiro está a acabar-se a bom ritmo, sempre disse que a embarcar de novo que fosse no inverno para sentir a coisa em pleno e não perder o verão, quanto mais cedo embarcar mais cedo estou de volta, quanto mais cedo regressar mais fácilmente arranjo trabalho na vela e transportes na primavera e verão, fujo ao caos que está instalado em terra e na minha vida e acrescento ao curriculo mais uma passagem de ano estranha, coisa a que já vou estando habituado e não me choca particularmente. Faz todo o sentido.

 Tenho até ao fim desta semana para decidir.

M.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Momento


E depois do adeus

Uma semana atrás estava a cerca de 20 milhas da barra. Entraríamos no dia seguinte depois de uma noite a fazer tempo e a ver as luzes de terra e do farol, com rede para os sms mais importantes.

Hoje, em Lisboa, uma semana depois, ainda estou a tentar gerir a overdose de civilização que me inundou entretanto e evitar ser contagiado por esta agressividade e depressão colectiva que neste período se instalou por terra. A melhor expressão que encontro é overwhelming.

Este ano houve um número invulgar de furacões que passaram por aqueles mares e, para além desse número, tiveram trajectórias e fenómenos ainda mais invulgares. Leslie, Michael e a imprevisível Nadine andaram por aí. Estou convencido que ambas depressões estão associadas.

De qualquer maneira, estou de volta.

M.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

76 dias depois


St.John para um dia e uma noite de desforra.
Depois mais um mês e qualquer coisa.

Aproveitem o que é bom.
Até já.

M.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Amanhã às 9

... Estou a largar.
Se tudo correr bem, volto daqui a 3 a 5 meses.

Sigo hoje para Aveiro.

Levo uma mala cheia de livros, filmes, material de desenho, algumas ideias e projectos para fazer a bordo e alguma roupa. Levo alguns receios porque nunca fiz este trabalho e quero que corra bem. Sei que de ínicio não vai ser fácil e vou ter que conquistar o meu espaço no meio de uma tripulação de homens do mar experientes e de outra escola diferente da minha.

Tenho a esperança de pararmos uns dias em St. John mas sei que pode não acontecer e ser sempre no mar sem escalas.

Estou preparado para o pior mas à espera do melhor. Como sempre.

Não tive tempo para escrever mais sobre o processo porque isto tem andado uma loucura.
A ver se na viagem o faço.

De qualquer maneira, até já e aproveitem o que é bom.

M.

terça-feira, 5 de junho de 2012

!






M.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A confirmar-se

... embarco na 4ª feira da semana que vem.
Caraças!

Isto veio precipitar as coisas.

M.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Tenho à minha frente a chávena de café que trago sempre do bar da dona C. para a minha secretária, a largar o aroma de café pelo corredor e sala de baixo que me separam daquele espaço. É um ritual que faço duas vezes ao dia desde que me mudei para este gabinete. De manhã e de tarde entro no edifício, pico o ponto, dirijo-me a aquela divisão que insistem chamar bar da Dona C., peço-lhe o café ao que ela, com mais de 80 anos, pergunta quase sempre se quero “curta ou normal?” porque sabe que gosto de baralhar rotinas. Ponho o açúcar, pago e trago o café para aqui deixando para trás o papaguear de quem ali está. Atravesso o corredor, entro na sala, cumprimento quem cá está, subo as escadas em caracol para a mezanine, Pouso a chávena no lado esquerdo da mesa, largo as tralhas e ligo o computador enquanto mexo lentamente com a colher. Desde que faço isto deixei de beber café a escaldar. É o tempo perfeito para diluir o açúcar e ficar à temperatura perfeita para ser saboreado. Enquanto o bebo, vejo os mails, no caso de ser de manhã vou acordando, organizo as coisas e dou uma vista de olhos nos meus Google readers. É também um tempo bom para aguentar e esperar pelo segundo café (bebido algures na hora seguinte e já ao balcão) para fumar um cigarro, quase sempre sentado ou encostado ao murete de baixo da laranjeira em frente à igreja. Sou um gajo de rituais. Gosto destes rituais.


Mas o que gosto mais dos rituais é o ritual de mudar de rituais quando já os saboreei. E revivê-los de vez em quando. Os meus rituais marcam épocas e estados de espírito concretos. E raramente são os mesmos ao longo dos tempos.


Hoje foi a última vez deste ritual. A Dona C. lamenta a minha saída, diz que gostava que eu ficasse e pergunta se volto. Está morta por saber o que vou fazer quando sair daqui. Pouca gente sabe e já ouvi dizer que andam a fazer apostas. Digo-lhe que não sei mas que ainda nos vemos porque venho visitá-la e beber um café. Ao balcão. Ela diz que se eu voltar daqui a um ano pode já não estar cá. Que é assim mesmo. Mais dia, menos dia deixa de cá estar e que vai servindo os cafés durante o dia e vendendo o pão no mercado ao fim de semana para se manter ocupada e animada enquanto a morte não vem.

Penso nisso enquanto bebo o café. Sei que daqui a um ano pode estar tudo diferente. Sei também que, há semelhança do que se passou nos últimos anos, poderá estar tudo mais ou menos na mesma. E que, há semelhança do que tem acontecido, a haver mudanças aqui, estas raramente são para melhor.

Não quero pensar muito nisso do como serão as coisas daqui a um ano. Logo se vê. Daqui a pouco, antes de fumar e quando o bar estiver vazio vou lá beber mais um café, ao balcão, despedir-me da Dona C. com dois beijos e dizer-lhe um até já. Sendo que esse até já poderá ser até sempre.

Vou despedir-me de algumas pessoas. Outras se as encontrar pelo caminho também me despeço e desejo boa sorte. Outras nem isso porque não me interessam e aqui há demasiada gente para estar a meter tudo no mesmo saco. Há pessoas aqui das quais não me despeço. Sei que farão sempre parte de mim e da minha vida e que mais semana menos semana, mais mês menos mês, ou mais ano menos ano, estaremos a almoçar ou a beber café algures fora daqui. Ou trocar mails sobre o que mudou e não mudou e se a dona C. continua do alto do seu metro e meio e 80 e tal anos, a servir cafés entre protestos e semi-rabugisses.

Logo se vê.



sexta-feira, 25 de maio de 2012

Em forma de equilibrio de dois posts gigantes, densos e desgastantes



... tenho a dizer que daqui a uma semana já não estarei a trabalhar aqui.


Ainda não estou em mim.
 
M.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Malta - O resto.


O resto, bom. Foi estranho.

O mar manteve-se partido da tempestade mais um dia. Ondas desencontradas, incertas e mal humoradas mas a acalmarem com o passar do tempo.

Percebemos entretanto o que se passava com o piloto automático e leme. Uma cena qualquer do hidráulico que não sei explicar muito bem mas que se resumia a não compensar para um dos lados. E o piloto não sabia lidar com isso. Nós sabíamos um pouco mais mas não muito mais. Era uma questão de tentar levar o mais a direito possível. O motor deu-lhe um chelique qualquer e não voltou a funcionar como deve ser. Começou a falhar depois da tempestade e essencialmente em cada 5 segundos ia quase a baixo e voltava a tentar acelerar, o que garantia a fabulosa velocidade de 3 ou, nos momentos de loucura, 4 nós. Para se ter uma ideia 3 nós é a velocidade máxima em que se navega nas marinas. E o vento caiu. Demasiado.

O P. passou uma data de horas enfiado no buraco do motor, sempre que havia um pouco de vento para irmos à vela, a desmontar aquilo tudo para ver se descobria o problema. Fiquei a perceber um pouco de mecânica com estes exercícios práticos. Como havia pouco vento e motor, o piloto não respondia bem por isso fiz também uma data de horas de leme e navegação à reagata, ou seja atentamente a aproveitar o melhor possível as bufas de vento, enquanto só via os pés do P. que estava enfiado no buraco do motor.

De resto, ia-se naquele tuc tuc tuc podre e arrítmico por ali fora. Valeu um número infinito de golfinhos que inúmeras vezes nos visitaram e acompanharam. Pode ser que estivessem a gozar connosco e espalharam pelas redondezas que valia a pena visitar-nos. Prefiro pensar que estavam solidários. Ou sentiram-se atraídos pelos barulhos estranhos do veleiro no qual, para além do motor, se incluía o baque-baque do patilhão (rebatível) que acontecia porque na doca seca alguém se esqueceu de pôr os calços de madeira que evitariam que balançasse.

Não se descobriu o problema no motor nem se conseguiu arranjar o leme. Rumámos a Cagliari, Sardenha para reparações. A dado momento conseguimos ter rede para darmos notícias para casa e o dono do barco. Percebemos que estava tudo um bocado em pânico por já terem passado demasiados dias sem notícias. Achavam que estaríamos a chegar a Malta por aquela altura. O dono do barco já tinha um mail preparado para enviar às diferentes capitanias e lançar um alerta à nossa procura.

Serenadas as hostes lá na terra, dei um mergulho retemperador no mediterrâneo que ainda não tinha a temperatura quente que conheço mas que soube pela vida. Bebemos uma cerveja para celebrar o fim daquele etapa, depois outra e mais umas quantas e fizemos um belo jantar que comemos cá fora, com a uma garrafa de tinto que fez todo o sentido abrir naquele momento. Ao anoitecer estávamos a umas 20 milhas de cagliari. Ou menos. Atracámos na marina já dia alto, para o que ajudou ter desaparecido o vento (um cliché quando chegamos a algum lado à vela) e passada a barra, por ser noite, nos termos enganado e ido para o lado do porto em vez da marina. É que a plotter não tinha as cartas do mediterrâneo, as cartas em papel não têm esse nível de detalhe e não sacámos essa informação da net quando saímos. Não é fácil entrar num porto desconhecido à noite. O motor parecia que ia dar o peido mestre a qualquer momento e chegámos a pensar fazer turnos dentro da barra. Mantinha-se mesmo assim o sentido de humor. A alternativa era desatar à chapada um com o outro ou amarrar aquela barco amaldiçoado a qualquer coisa e lixarmo-nos para aquilo tudo.

O armador tinha marcado um lugar na marina para nós e pedido um mecânico. Fomos a terra beber um café e tratar das formalidades. Depois descansar enquanto o mecânico não vinha. O P. ficou a dormir. Eu dormi um pouco, calcei o chinelo e fui perder-me para o centro da cidade. Voltei ao barco à hora marcada. O mecânico só podia no dia a seguir. Duche retemperador, jantar obscenamente caro que achámos que o armador nos devia num restaurante ali perto. Um dono de restaurante impecável que nos acolheu e serviu uma data de rodadas por conta da casa. Cafés e limoncello’s uns atrás dos outros na esplanada. Apresentam-me algo ainda melhor que limoncello: o Mirto. Fico fã e insisto em provar várias vezes para confirmar. Combinamos voltar na manhã seguinte para levarmos pão fresco na viagem, água e duas garrafas do que andámos a beber.

O capitão volta para o barco. Não consegue descontrair enquanto não tiver o motor arranjado e perceber o que é. Lembra-se de numa situação semelhante um mecânico uma vez lhe dizer que o problema era falta de juntas. Ele pergunta: juntas? O mecânico confirma: Sim. Juntas essa merda toda e jogas fora.

Eu vou perder-me nos cantos escuros e imprevistos da noite de Cagliari. Volto de manhã. Satisfeito e cansado.

O mecânico no dia a seguir também não vem à hora marcada. Diz que só á tarde. O P. irrita-se e reinicia pela enésima vez desmontar o motor. Quando acordo acha que conseguiu resolver o problema. Trabalha certinho e manso. Óptimo. Vou buscar as provisões ao restaurante, beber um último café, despedir-me daquela malta que nos acolheu bem, tomar um duche e voltar para o barco. Largamos com optimismo. É 6ª feira ainda com bastante dia pela frente. Com sorte, a motor, chegamos no sábado à noite a Malta. Nada mau.

O vento está bom, 20 nós de popa. O motor também. Içamos velas e voltamos a ter o prazer de fazer médias acima de 5 nós. Durou pouco. Umas duas ou 3 horas. Ainda com terra à vista o motor falha. Depois o tal vau que nunca mais nos lembrámos partiu-se de vez. O brandal estava solto e o vau ali pendurado. Desanimamos. Decidimos voltar para trás. O vento carrega só para chatear. 25 nós vento pela proa mais corrente, só de genoa e motor soluçante. Ah, e a plotter deixou de marcar a posição de GPS. Atracamos na marina a passar das 8 da noite. Jantamos a bordo. O capitão fica a bordo. Eu volto às ruas de cagliari, desta vez num registo mais calmo. Volto a um bar onde tinha estado na véspera. O dono, um porreiro, vê-me e pergunta-me: hey! Não devias estar a caminho de Malta? Sorri e disse que pelos vistos Cagliari quer-me aqui mais uma noite. Coisa que não me chateia nada. Não me deixou pagar nada e isso soube bem. Ficou prometido que se tivesse lá na noite de sábado, pagaria eu as rodadas.

Voltei a horas decentes ao barco. Não só por vontade mas porque estava na época de uma qualquer coisa religiosa importante na ilha que envolvia passear um santo pelas terras, sendo que 6ª feira era o último dia e o dia de regresso do mesmo a Cagliari. Havia um certo aroma de conservadorismo no ar e a noite estava calma. Era uma boa noite para dormir.

De manhã cedo disseram-nos: “não há mecânicos ao sábado”. Olhámos um para o outro e pensamos… ok. Sábado e domingo aqui, 2ª feira sabemos lá se o mecânico aparece ou se existe mesmo essa figura mítica. Decidimos arranjar o brandal e vau e partir. Ao som de Bandarra e depois Jorge Palma que berram do meu portátil sobe-se ao mastro, desmonta-se aquilo, o P., que é uma espécie de Macgiver, inventa ali uma peça de encaixe elaborada e eficaz, volta-se a montar a coisa e dá-se carga como deve ser nos brandais, coisa que devíamos ter feito antes de sairmos de Portugal, culpa e negligência tanto de quem fez a manutenção do barco e nossa por não o termos confirmado. Aproveitamos e fazemos outros arranjos secundários. O motor nem lhe mexemos.

Estamos o dia todo naquilo. Comemos, tomamos banho, bebemos de novo o último café e ao fim da tarde de sábado largamos com a chuva a cair. O motor não demora a voltar ao seu ritmo mas agora ao menos podiamos ir á vela. O piloto automático também mostra má cara a maior parte do tempo

Chegamos a Malta a meio da manhã de 4ª feira, já com o nosso vôo de regresso perdido.
 Depois de duas noites de relâmpagos e trovoada, uma das quais em cima de nós onde amaldiçoei o leme de cada vez que tinha de vir cá fora ajustar o rumo e irritei-me a sério com o barco. Borrei-me um bocado e a dado momento não queria saber se íamos na direcção da Tunísia ou China enquanto os relâmpagos não saíssem dali.
Depois de um momento surreal em que ía eu ao leme com 4 nós de vento, começam a entrar 7 a 10 nós de vento, vou todo contente içar a vela grande e abrir a genoa a pensar: agora é que é! O vento vinha com uma nuvem baixa com aspecto de poucos amigos. E agora é que era: Em menos de 10 minutos instalam-se confortavelmente 40 nós. Chamo skipper e rizamos as velas. Dura uma hora naquilo, depois acalma e fica-se pelos 20 a 25.
Depois de uma manhã inteira a percorrer a costa com 1 a 2 nós de vento para chegarmos à marina.

Foi um transporte pouco descontraído. Com pouco descanso. Com poucos momentos de descontração e leitura, fosse pelo vento em excesso ou pela falta dele. Foi uma viagem estranha. Aprendi bastante. Venho com calos nas mãos de tantas horas ao leme.Acho que cresci.

É um texto demasiado longo, eu sei. Mas a viagem também o foi.
Ainda não sei se o faria de novo. Acho que sim.

M.