sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Acho

Acho que nunca tinha escrito deste lado.
Faço-o agora.

Hoje não saio de casa. Não quero nem posso.
Depois dá nisto.

M.

Pare, escute e olhe









M.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Realismo

O pessimista queixa-se do vento,
o optimista espera que ele mude,
e o realista ajusta as velas


M.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Momentos bons

Chegar ontem a meio da tarde de viagem, depois de uma paragem para um banho retemperador de despedida da malta que continuava viagem, vir a casa largar a trouxa, esperar por um outro amigo que me convidou para uma mini-festa na casa de um amigo dele junto à praia.

Não conhecia práticamente ninguém mas foi um jantar descontraído, ao ar livre, com gente boa onda, bom vinho, boa companhia, ambiente sereno, velas e uma guitarra que a partir de uma certa hora da noite não se calou até sairmos dali.







Chegar a casa e dormir por estes 3 dias já que hoje o dia não era de trabalho.

M.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Cartas



Adoro cartas e postais. Daqueles que é preciso pôr selo e tudo.

Nunca perdi esse hábito e tenho um historial de troca de cartas bastante vincado. Lembro-me dos serões em casa quando recebíamos a carta semanal do meu pai que desde que me lembro vivia longe, em África, e a minha mãe lia-nos em voz alta, calma e pausadamente as noticias mais recentes. Estranhava sempre não haverem muitas histórias de leões e elefantes na selva como nos filmes e achava que ele omitia algumas aventuras. As respostas eram ditadas. Mais tarde cada um de nós respondia à sua carta. Começavam invariavelmente com algo do género “querido Pai, espero que esteja tudo bem. Nós por cá tudo bem”.

Mais tarde deixámos de trocar correspondência e ficamo-nos pelos telefonemas. Coisas de adultos sem tempo e demasiadas cartas repetidas trocadas entre nós.

Quando comecei a viajar sozinho tive o habito de enviar postais dos sítios onde estava, idealmente era um ou dois para casa, outro para os meus tios e primos, outro para a minha avó e outro para uma amiga minha que sempre fez o mesmo nas muitas viagens e meses que viveu fora de Portugal. Muitas vezes os postais que eu enviava não diziam mais que “Olá! um beijo”, um desenho ou uma qualquer parvoíce. Era essencialmente para dizer que me tinha lembrado dessa pessoa e surpreende-la um pouco. Confesso que apesar de continuar a adorar esse hábito, tenho andado um bocado desleixado de há uns anos para cá e nas últimas viagens praticamente não enviei nada a ninguém. Tenho que corrigir isso.

Gosto também de enviar de vez em quando um postal ou uma carta sem qualquer motivo específico. Só para dar o prazer a alguém de chegar ao correio e haver lá algo minimamente simpático para além das contas, circulares e folhetos de publicidade da treta do costume. Adoro essa sensação. Abrir a caixa do correio e haver algo simpático para quando se chega a casa. Sabe especialmente bem depois de um dia mais complicado. Hoje em dia recebo cartas de vez em quando. Poucas vezes. Para além das que a minha mãe envia semanalmente não são muitas. Recebo de vez em quando uma carta com coisas fixes dessa amiga que está a viver em Amesterdão. À minha mãe agora deu-lhe para começar a escrever e enviar postais da colecção de postais que tínhamos. Adoro. Trás sempre uma palavra simpática. Tenho um amigo que muito de vez em quando manda um postal desenhado por ele.

No Peter-café há um espaço dedicado a cartas. Cartas que muitas vezes não chegam pelo correio. Por vezes são deixadas por gente que anda a viajar pelo mar para outros que também andam a viajar pelo mar e sabem que ali vão passar. Porque quem anda a viajar não tem uma morada onde possa vir a receber noticias. Só podem dar notícias a quem ficou em casa. Claro que com a net, mails as coisas mudaram bastante mas ainda não perdi a esperança de um dia lá chegar e ter uma carta à minha espera.

E se não o fazem, porque não mandarem uma carta ou um postal a alguém? Nem que seja para alguém que mora na vossa própria casa. É simpático. E não custa nada. Hoje em dia basta ir aos correis, comprar um pack de envelopes de correio azul ou selo, meter no marco do correio e no dia seguinte está no destino. Ou na próxima vez que estiverem ou passarem por um sítio que não é a vossa casa, mesmo que seja em trabalho, porque não comprarem um postal, sentarem-se numa esplanada qualquer a beber um café e saborear o momento e escreverem um Olá para enviar de seguida para casa? Mesmo que chegue depois de vocês, é bom. E não demora nada.

Experimentem.

M.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Comecei anteontem a despedir-me do verão

Os dias estão mais curtos. Estou naquele momento em que quando o sol se põe penso sempre que é mais tarde do que efectivamente é.

As marés vivas de Agosto começam a chegar, o mar muda de cor, as ondas de forma e, coincidência ou não a 2ª feira começou com uma brisa que se transforma num vento fresco que confesso que já tinha algumas saudades.

Assim, comecei anteontem a despedir-me do verão. Tive o que foi para mim o último grande fim de semana de verão e celebrei-o como tal. O auge. Agora é sempre a descer.

Claro que ainda haverão dias de calor, praia e mar e noites quentes para me perder. Mas serão dias curtos e diferentes e noites que apesar de serem mais longas não tornarão a noite mais longa.

Mas as minhas despedidas do verão são lentas e a saborear. Despeço-me lentamente do verão como se despedem lentamente aquelas paixões de férias de verão que têm um fim anunciado que se apróxima sempre mais depressa do que os apaixonados querem.

É a maneira que encontrei de lidar bem com isto até começar a chegar a vontade de Inverno.

M.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Hoje



... e ontem vim aqui tomar banho num mar ameno, nadar, ler, dormir, escrever, conversar um pouco, ver o por do sol e descontrair. Organizar-me e renascer um bocado.

O por de sol de ontem estava vermelho mas não tinha a máquina comigo.

O de hoje estava assim. Mais timido.


M.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Just one moment





Diria que tenho a tendência de coleccionar momentos destes. Acontece-me isto com alguma regularidade.
Tem a haver com a intensidade eventualmente excessiva com que vivo as coisas. Tenho dificuldade em estar mais ou menos. Cansei-me disso, ainda que tenha a noção que isso possa ser um defeito. Cada vez mais tenho consciência que voltei a viver nos extremos que já tinha de certa forma abandonado do "ou tudo ou nada", sendo que o que define o tudo e o nada são momentos.

Porque sim, é verdade. Um momento, só um único momento, pode mudar tudo.
Para o bom e para o mau.

M.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Notas de viagem - Ida

Dias de bom convivio, com excelentes jantares, muita serenidade e bom ambiente. Mares batidos e intensos sem ser em demasia. Mares calmos e serenos sem ser em demasia. Houve de tudo. Navegou-se sempre que possível à vela e aprendi mais do que esperava. Venci alguns medos e receios do leme mas não todos.

Noites de luar intenso com turnos solitários que amo fazer, passadas deitado no convés a ouvir música, a ouvir o mar, a pensar e sonhar. A brincar com o leme e fazer competições de eficácia com o piloto automático que ligava e desligava alternadamente e que gosto de acreditar que venci por não deixar o barco bater tantas vezes na ondas maiores e conseguir atingir maiores velocidades. Rir-me por saber que no fundo ele vence ao manter infléxivelmente e precisamente o rumo certo. Sorrir por dentro ao ponto de ficar emocionado. Visitas de seres apaixonantes que avisam a sua chegada ao meu lado com saltos ao luar e expirações sonoras. O momento alto foi numa noite serena em que deixei o piloto automático brincar sózinho. Sentei-me à proa com os pés sobre a água, a fumar um cigarro e sentir aquele doce embalo: Eles aparecem num número que não consego contar e acompanham-me por um tempo que me pareceu infinito. Assobiei-lhes enquanto ali estiveram e quis acreditar que eles respondiam quando ouvia os seus sons debaixo de água.

Lua que se põe e deixa aparecer um céu esmagador carregado de estrelas. Um número sem fim de estrelas cadentes que riscam o céu às quais inicialmente peço alguns desejos e que desisto de o fazer porque os desejos que peço são poucos e alguns deles tenho dúvidas que seja boa ideia vê-los concretizados. Resumi a coisa a ser feliz e viver intensamente, sendo que um está dependente do outro e ambos dependentes de outras coisas que não faço ideia quais são.

Momento estranhos e algo tensos com uma visita ao cair da noite de um semi-rigido preto, com 2 brutos motores, três marroquinos bebados e um convés totalmente preenchido por jerricans de combustivel no meio do nada, a 40 ou 50 milhas da costa ao largo do Golfo de Cádiz. Foi uma noite de vigia passada a olhar para cima do ombro e à espera de a qualquer momento ouvir o som dos motores a aproximarem-se, com dois longos cabos ao meu lado, preparados para serem atirados à proa do mesmo se tal acontecesse conforme instruções do skipper e a perceber porque é que até pode ser válido haverem armas de fogo a bordo, ainda que por norma seja totalmente contra esse tipo de coisas e tenha uma aversão quase repulsiva às mesmas.

Momento igualmente estranho com a passagem de um submarino a meio da noite perto de nós.

Um balão (spi - aquela vela colorida que vai à proa) novinho em folha rebentado ou melhor desintegrado com uma refrega um pouco mais entusiasmada a seguir a bater duas vezes. Para informação futura ficámos a saber que o mesmo é para ser arreado aos 20 nós de vento ou, em alternativa, há que haver sempre alguém junto ao molinete para o caçar e folgar. Caíu à água mas felizmente não se enfiou debaixo do veleiro, pelo que em pouco tempo foi recolhido sem grandes stresses. Sem querer ser maldoso acredito que a culpa foi do piloto automático. Mas isso é só a minha opinião.

Passágem junto a Tarifa, a fazer um bordo rasante à Punta Marroqui,que são para mim dois locais mágicos. Amo aquele sítio e já tive o privilégio de mergulhar nos naufrágios que ali há numas mini-férias que simplesmente adorei e que quero reviver assim que puder. Tenho saudades de me perder ali e de reencontrar os meus cantos onde em dados momentos fui genuinamente feliz.

Passagem por Gibraltar à vela, com vento e corrente a favor, a toda a velocidade e no meio de um tráfego de navios gigantes... indescritivel.

A opção de perder a noite de sábado em Ibiza em favor de continuar a navegar à vela e fazer o rumo necessário para o efeito, o qual era mais longo, para além de não me preocupar minimamente mereceu toda a minha aprovação e satisfação ainda que tenha lido nos olhos de P. uma certa tristeza por perder uma qualquer festa da espuma prometida pela qual ansiava. Não faz mal. Já lá esteve 4 vezes e certamente irá umas outras tantas. E quem sabe se eu ainda o acompanho.

M.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Nota

É complicado, mas muito complicado mesmo, voltar a passar um dia inteiro com os pés calçados com "peúgos" e sapatos depois de andar não sei quantos dias descalço.

Perto da tortura.

M.

Coisas e momentos que não consigo descrever










Nota: neste vídeo o mar é azul... ainda que a partir de certo momento e graças às manias estranhas da minha máquina passe a ser verde.

M.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Voltei

... Mais ou menos.
E como neste momento não tenho muito para dizer ou mesmo em condições de o fazer, deixo estas imagens: a última imagem tirada e uma filmagem manhosa dos meus apaixonantes e fiéis companheiros de viagem e dos turnos solitários da noite.












Lindos.

Agora vou ver como me dou a regressar a uma cama normal que não se mexe nem me embala com o som doce da água a passar ali ao lado do ouvido.

M.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Hasta

Está tudo preparado.
O trabalho ficou arrumado, cheguei há bocado das arrumações do barco, com direito a uma mini pit-stop para um copo em jeito de despedida e a trouxa está praticamente pronta.

A viagem de ida será acompanhada de uma lua crescente que à chegada não estará propriamente cheia mas sim composta. À partida, entre a chegada e o regresso, haverá uma lua cheia para iluminar melhor os caminhos das noites em terra e no mar.

Como disse este destino não seria definitivamente a minha primeira escolha. Estaria provavelmente perto do fim da lista de destinos possíveis e certamente fora do meu top 40 ou 50. Acredito que seja preconceito da minha parte mas a única coisa que associo a Ibiza é a loucura da noite, com a agravante de ter ideia que essa noite já teve melhores dias. Ou noites.

Gosto de noite. Gosto de noitadas. Mas sinceramente não acho particularmente apelativo este conceito de destino de férias essencialmente vocacionado para a noite. Já imagino uma horda mesclada de nórdicos, latinos e pseudo-latinos absurdamente histéricos numa histeria colectiva descontrolada e excessivamente efusiva.

A noite, para mim pelo menos, torna-se mais interessante e quere-se em meios urbanos e essencialmente preenchida e passada com os nativos e residentes. Nova Iorque, Barcelona, Madrid, Berlim ou Sidney já seriam destinos de noite (e dia) bem mais apelativos para mim. Fora do contexto do mar, claro está.

Tirando os casos de portos de abrigo que são pontos de passagem obrigatórios, o facto de a grande maioria ser outsiders não me motiva por aí além. Já passei por isso numa full moon party numa ilha na Tailândia há uns anos atrás. É a loucura. É engraçado e divertido. Ponto. Só isso. E aí, tenho ideia que o ambiente e tema eram bem mais o meu género do o que vou encontrar nos próximos dias.

Mas estou a divagar. Até parece que estou com uma postura um bocado mete-nojo.
Como disse antes, a cavalo dado não se olha o dente e mar é mar por isso o destino não me interessa particularmente, desde que implique uns dias de navegação à vela e fora de terra. A ir a Ibiza, não consigo imaginar melhor maneira para o fazer senão à vela e em grande estilo. Há que saber aproveitar ao máximo quando se tropeça em coisas destas.
Depois, apesar de não ser uma travessia oceanica, tem a vantagem de ser no mediterrâneo e eu nunca ter atravessado o estreito de Gibraltar ou mesmo navegado aí à vela. Estou curioso.

Por outro lado, bem vistas as coisas, não consigo imaginar altura mais adequada da minha vida para ir a Ibiza e conseguir aproveitar o que aquilo tiver para me dar. Boa vida, copos, dolce fare niente, águas quentes e transparentes e uma série de coisas desagradáveis esperam-me. Com a grande vantagem de ir com as expectativas bem baixas.
Deixo cá o material de mergulho mas pelo sim pelo não levo o essencial (mascara, barbatanas, computador e livro de registo) para o caso de dar.

Soube há bocado que o principal objectivo desta viagem é ensinar e pôr o patrão do Skipper a navegar à vela o que me agrada bastante já que o que ele aprender eu vou aprender em dobro. E com um bom mestre.

O dia vai começar com a ida ao mercado para comprar os produtos frescos e mais umas coisas que estão em falta enquanto o P. vai buscar o patrão dele ao Aeroporto.

Se tudo correr como previsto, zarpamos amanha pelo meio da manhã, com rumo directo a Gibraltar onda pararemos para abastecer caso o vento se mostre envorganhado e obrigue a levar os motores ligados. Caso contrário, se o vento estiver boa onda e se tudo correr bem só paramos em terra daqui a 3 ou 4 dias. Ou seja, no mínimo apanha-se a noite de sábado. Não está mal. Com sorte ainda se chega a tempo da noite de 6ª.
Logo se vê.

... O que interessa é que mal posso esperar pela chegada do primeiro por do sol e céu estrelado no meio do mar. Sinto falta.

Hasta e aproveitem o que é bom.

M.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Agudezas











Agudezas em exposição na Praça do Comércio.

M.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

E outras alturas

... que parece que o tempo é curto.


Life Magazine: Ralph Morse



A mochila deste fim de semana foi agora esvaziada para voltar a ser enchida com algumas das coisas que vou levar para a viagem. Ver o que é preciso lavar para arrumar amanhã, lavar a roupa, procurar o passaporte no meio da tralha do quarto do caos, ver que contas é que tenho para pagar antes de partir, desmarcar o café combinado com o C. e fazer o check list mental do que preciso e quero.

A roupa de mar está pronta. É o saco amarelo estanque. E é o mais importante.
O resto são as coisas mais pipis para usar em terra. Não é tão importante na medida em que se faltar algo há sempre uma loja onde comprar.

Ainda a mochila não está pronta e já me parecem coisas a mais. Amanhã à noite, há que esvaziar, por tudo em cima da cama e por de lado o que é superfulo. Ou excessivamente superfulo.
Não que haja limite para o peso do que se leva. Afinal de contas não é uma regata por isso não há problema. E para o tamanho do barco que é não vai ser esse peso que vai fazer alguma diferença. É mais uma questão de principio e postura.

Desde que decidi ir ainda não tive tempo para absorver e ganhar consciência de tudo. Acho que isso só vai acontecer quando embarcar. Ou quando tiver tudo pronto. O que não é de todo mau.

No meio disto há que arranjar concentração para acabar o que ainda há para fazer no trabalho que hoje o dia não rendeu o que devia ter rendido. Andei um bocado a atirar para o preguiçoso e distraído.

Sem stress. À semelhança de ontem, ainda que por outros motivos, rouba-se umas horas de sono desta noite.

Para amanhã: Trabalhar o mais cedo possível, sair do trabalho o mais cedo possível e ir comprar o que falta, ir ao barco fazer os últimos preparativos e combinar as coisas com o skipper, arranjar um tempo para jantar ou beber um café com a malta daqui, acabar de preparar as minhas tralhas, mandar os mails e fazer os telefonemas de despedida e tentar dormir alguma coisa.

Mai nada.

M.

Sailor's cliché - Mulheres Liberais





M.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Gostei

Gostei de ler isto.

Escrito pelas mãos do Almagrande do "Navegar é preciso".
Dois nomes tão bons quanto o conteúdo do blog.

M.

Lindo!

Para variar, o convite foi feito à última da hora.
O tipo que ia ajudar o skipper nesta viagem teve uma situação imprevista e não pode ir. O skipper ligou-me a perguntar se eu podia.
Como a partida estava prevista para domingo, disse-lhe que não dava. Era demasiado apertado. Passado um bocado voltou a ligar-me: “ e se partirmos na 4ª feira? Podes ir?”

Umas contas rápidas, uma conversa com as chefias que não ia admitir uma resposta negativa, uns momentos de indecisão porque é correcto fazer isso e ligo-lhe: “Conta comigo”.

Uma semana antes ou uma semana mais tarde já não poderia dizer que sim. Lindo.

E assim, de improviso e vindo do nada, daqui a uns dias embarco como tripulante num veleiro de 54 pés que já conheço de uma outra viagem com o homem do mar que eu mais respeito e o patrão dele. Esperam-nos cerca de 500 milhas a navegar calmamente para lá e outras tantas para cá mais uns 3 ou 4 dias de estadia com tudo pago.

A viagem que eu tinha pensado fazer e para a qual tinha sido convidado foi cancelada. A partida era para ter sido há 2 semanas pelo que a chegada ao Faial à vela terá que ser adiada para outra altura. Sem stress. Há de acontecer.

Este não seria o destino por mim escolhido, mas a cavalo dado não se olha o dente e há propostas que simplesmente não se pode recusar.
E mar é mar. Neste momento não me interessa muito o destino.

De qualquer maneira, sei que pelo menos a fama das noites em terra não é de desprezar. O que já não é mau.

Este fim de semana vou à terra ver uma familia e uns amigos que já não vejo e abraço há demasiado tempo, e no regresso tenho dois dias de trabalho intenso e preparação das coisas para poder partir descansado.

Ou cansado mas descontraído.

Lindo!

O primeiro turno é meu.

M.

Quedas


Há coisas que caem do céu que nem sabemos de onde elas vêm nem como nos vêm parar ao colo.

Correcção: Há coisas que caem do céu que nem sei de onde elas vêm nem como me vêm parar ao colo.

É que é sem mexer uma palha.

E de repente, aparece uma proposta daquelas que não se pode recusar e alteram-se radicalmente os planos das próximas semanas para poder aceitar a proposta.


... Lançam-se os dados e acontece isto.

Impressionante.

Às vezes sou tão sortudo que até mete nojo.


M.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Estimação

Tenho um animal de estimação voluntário. É este:



Apelidei-o de Osgar.
É uma visita muito assidua ao tecto da minha varanda, quase residente, e uma silênciosa e atenta companhia de algumas noites.
Todos os anos aparece. Ou eu gosto de acreditar que é sempre o mesmo.
Também gosto de acreditar que é ele que contribui para a redução do número de melgas que entra na minha casa.
Que eu saiba nunca entrou aqui em casa. É sinal que respeita o espaço dos outros e não quer incomodar.

Ando meio preocupado com ele porque já não o vejo há alguns dias. Espero que esteja tudo bem.

Entretanto tenho tido a visita regular deste casal:





Esta casa já foi testemunha e responsável pelo ínicio de duas relações (em nenhuma das quais a minha pessoa esteve directamente envolvida ou melhor, foi protagonista)que até ver estão a correr bem. Pode ser que corra bem também para eles.

Ainda não são residentes. Acho que gostam do som do espanta espiritos e andam a ver o que há no mercado. Mas simpatizei com eles e a avaliar pelo número de vezes que os encontro ali plantados na varanda Á hora de almoço, poderão vir a tornar-se outros animais de estimação voluntários.

Não me importava. Cantam bem.

Logo se vê.

M.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Gostava

...gostava mesmo de ter escrito isto.

Entre muitas outras coisas que ali estão.

M.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Velhos guerreiros adormecidos




Temos dentro de nós velhos guerreiros adormecidos.
Espíritos de velhos guerreiros de rosto duro e marcado, cheios de cicatrizes e sabedoria. De armaduras pesadas e gastas de batalhas que já perderam a conta. São calmos e serenos. Não gostam de ser incomodados com questões menores e não lutam nem aparecem quando queremos. São velhos guerreiros que estão a descansar de longas batalhas. Não querem lutar mais.

Muitas vezes estão adormecidos há tanto tempo que não sabemos como os evocar. Muitas vezes. Mas eles estão lá.

E quando os evocamos no momento certo para as causas certas, aparecem. Às vezes e só às vezes acordam e aparecem quando é preciso. Sem os chamarmos e quando menos esperamos.

Mas quando aparecem, meus caros. Quando aparecem somos invencíveis. Segredam-nos palavras silenciosas de sabedoria, apoiam a mão no nosso ombro, sossegam-nos e dizem: Segue em frente. Não tenhas medo. Nós estamos aqui.

Aí, nem os demónios nem os fantasmas que habitam dentro de nós têm coragem de os e nos enfrentar. Ao som dos tambores de guerra que anunciam a chegada dos velhos guerreiros, refugiam-se covardemente nos recantos mais recondidos de nós e esperam em segurança que eles voltem a adormecer.

E aí, sem demónios nem fantasmas a enfraquecer-nos, meus caros, somos donos do mundo. Crescemos perante os outros e nada, mas mesmo nada, tem coragem de nos fazer frente. Porque os nosso olhar e postura é sem medo. É um olhar e postura pacífico mas disposto a qualquer luta se for necessário. Sem medo de nada. Afinal de contas são velhos guerreiros. Não têm medo de morrer.
Mostram-se e preferem não ter que desembainhar as espadas. Preferem mostrar que a luta não vale a pena.

Como velhos guerreiros sábios que são nunca se confrontam com os velhos guerreiros que habitam dentro de outras pessoas.. Afinal de contas nenhum velho guerreiro luta por prazer. E como são sábios, sabem que os confrontos são basicamente estúpidos e desnecessários.

Desembainhar a espada e retesar os arcos só para golpes certeiros e tiros mortais. A partir do momento em que a lâmina da espada fica à vista, só volta a recolher-se depois de saciada numa orgia e festim de sangue.
É melhor que não saia. Os sábios sabem disso.









Gosto quando eles aparecem, os velhos guerreiros. Sinto-me protegido.
Até porque a maioria das batalhas não são com os outros. São com os nossos próprios demónios e fantasmas.

Às vezes chego a esquecer-me que eles existem.

M.

Fotos do filme "os sete samurais" de Akira Kurosawa e ilustração daqui.

domingo, 5 de julho de 2009

Momentos que não se esquecem

ontem, eu e os meus 3 favoritos da equipa, saímos do porto de abrigo com o fim da tarde para fazermos o transporte do veleiro para o porto de abrigo onde será a próxima regata. Ainda nos esperavam umas horas de navegação e queríamos chegar a horas de beber um copo ou outro.

Enquanto nos afastamos da costa, assistimos ao por do sol e ao nascer de um luar lindo, está um mar sereno com aquela ondulação que embala e acalma e um ambiente a bordo muito boa onda. Intimo e divertido.

O P., o homem do mar que conheço que mais respeito, desliga o piloto automático e vai ao leme. Gosto muito da postura dele, tanto no mar como em terra, mas o facto é que quando está ao leme, o olhar dele transforma-se. Cresce. É sem dúvida o meio dele.

Pergunto-lhe se se importa que vá um pouco ao leme, coisa que, ao contrário deles, não tenho muita experiência e faço poucas vezes. Normalmente evito fazê-lo com mar muito batido ou quando há muita gente a bordo. Ou gente com a qual não me identifico tanto.

Enquanto eles conversam, vou ali inicialmente muito concentrado e pouco descontraído a tentar manter o rumo o melhor possível e a ganhar sensibilidade. Antecipar o desvio provocado pelas ondas e encontrar o equlibrio de não mexer a roda do leme nem a mais nem a menos.

O P. dá de vez em quando umas dicas.

Deixo de ter os olhos fixos na agulha da bússola e fixo um ponto que me dá o rumo apróximado. Começo a descontrair e saborear. Começo a sentir o veleiro, as ondas, a ver o luar e absorver o ambiente e momento que estou a viver. Começo a sentir-me feliz.

O R. testa-me algumas vezes para perceber se estou descontraído. Sente o que sinto, vai à cabine, tira a música que estava a tocar e põe outra. Vem cá fora, distribui 4 cervejas e diz: M., esta é para ti.

Homem do Leme

Sozinho na noite
um barco ruma para onde vai.
Uma luz no escuro brilha a direito
ofusca as demais.

E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

No fundo do mar
jazem os outros, os que lá ficaram.
Em dias cinzentos
descanso eterno lá encontraram.

E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

No fundo horizonte
sopra o murmúrio para onde vai.
No fundo do tempo
foge o futuro, é tarde demais...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder


Há coisas que se sentem que não dá para descrever. Ouvir isto, sentir isto e ver isto é uma delas.



M.














domingo, 28 de junho de 2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Jo sóc ...


Daqui


... tropecei nisto. E gostei.
Não pela fotografia ou composição gráfica. Foi essencialmente pela ideia.
É uma mensagem poderosa. Intensa.

Questiono-me quem escreve uma frase assim e para quem escreve.
Se quem fez esta composição tinha alguém em mente, se sente mesmo isso ou se é só uma boa ideia que fica bem e impressiona. Esse tipo de coisas.

Aparentemente é retirado de uma letra de uma canção. Chama-se "no hi ha ningú com tu".
Infelizmente não gostei nem da letra, nem da música ou do video. Tirou bastante o encanto a uma frase interessante. De qualquer maneira fica aqui o link se alguém estiver interessado (Menaix a truà - No hi ha ningú com tu).

Sempre tiveram o mérito de me inspirar para mais um texto por escrever.

M.

terça-feira, 16 de junho de 2009

La mar


"... Sempre pensava no mar como la mar, que é o que o povo lhe chama em espanhol, quando o ama. Às vezes, aqueles que gostam do mar dizem mal dele, mas sempre o dizem como se ele fosse mulher. Alguns dos pescadores mais novos, os que usam bóias por fultuadores e têm barcos a motor, (...) dizem el mar, que é masculino. Falam dele como de um antagonista, um lugar, até um inimigo. Mas o velho sempre pensava no mar como feminino, como algo que entrega ou recusa favores supremos, e, se trevariava ou fazia maldades era porque não podia deixar de as fazer. A lua influi no mar como as mulheres, pensava ele."

O Velho e o Mar - Ernest Hemingway

O livro que já li e reli mais vezes até hoje.




M.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Tollan




... ou Tollens. Não faço ideia. Uma coisa dessas.

O que sei é que havia um navio enorme virado de barriga para o ar no Tejo que fez parte da minha infância.

Curiosamente a imagem que guardo não é a vista do terreiro do paço, ou de qualquer outro ponto de terra, mas sim do ar. A vista da Ponte sobre o tejo.
Nas expedições familiares a Sesimbra, Costa, Troia ou Algarve, a passagem sobre a ponte era um momento alto. Isso e a travessia de barco de e para Setúbal quando o chefe de familia assim o entendia. A contar alforrecas e preservativos nas águas do Sado. Adiante.
A passagem da ponte era um momento de excitação a bordo da viatura familiar. Espetávamo-nos à janela a ver tudo. O Tolan era um elemento estranho mas que me lembro desde sempre. Adorava.

Dizem as pesquisas no Google que era um porta-contentores Inglês que afundou-se a 16 de Fevereiro de 1980, após ter colidido com o cargueiro Sueco Baranduna no rio Tejo. Após várias tentativas, foi finalmente voltado e afastado do Terreiro do Paço a 2 de Dezembro de 1983.

Pelos vistos só lá esteve 3 anos. A memória e a percepção do tempo nas diferentes idades tem destas coisas. Diria que esteve lá uma eternidade. E digo também que nunca mais me esqueço do dia em que íamos a atravessar a ponte, me estico para a janela para o ver e ele não estava lá. Pelos vistos tinha 9 anos.

Cheguei a escrever composições na escola sobre isso. Duas mais precisamente. Numa punha o Tolan a falar na primeira pessoa. Noutra, já no secundário, era o Tejo o narrador.
Acho que ainda as tenho algures.

Tenho que as procurar.

M.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Filosofias de vida




... nem mais, nem menos.
E diria eu que até não ando muito longe disto.

A ver.

M.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Sailor's cliché - Partir




... Ter um saco sempre pronto para partir a qualquer momento. Mantendo ou não uma base fixa. Seja uma partida definitiva ou não.

No passado e durante uns bons anos já estive bem mais perto desta postura do que estou hoje em dia. Ou já tive condições bem mais favoráveis a esta postura. Mas também já estive bem mais longe.
Muito mais longe.

O importante é que o horizonte esteja lá.
E o saco esteja pronto. Ou pelo menos que se saiba exactamente o que levar e como o concretizar.

M.