terça-feira, 25 de agosto de 2009
Comecei anteontem a despedir-me do verão
As marés vivas de Agosto começam a chegar, o mar muda de cor, as ondas de forma e, coincidência ou não a 2ª feira começou com uma brisa que se transforma num vento fresco que confesso que já tinha algumas saudades.
Assim, comecei anteontem a despedir-me do verão. Tive o que foi para mim o último grande fim de semana de verão e celebrei-o como tal. O auge. Agora é sempre a descer.
Claro que ainda haverão dias de calor, praia e mar e noites quentes para me perder. Mas serão dias curtos e diferentes e noites que apesar de serem mais longas não tornarão a noite mais longa.
Mas as minhas despedidas do verão são lentas e a saborear. Despeço-me lentamente do verão como se despedem lentamente aquelas paixões de férias de verão que têm um fim anunciado que se apróxima sempre mais depressa do que os apaixonados querem.
É a maneira que encontrei de lidar bem com isto até começar a chegar a vontade de Inverno.
M.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Hoje
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Just one moment

Diria que tenho a tendência de coleccionar momentos destes. Acontece-me isto com alguma regularidade.
Tem a haver com a intensidade eventualmente excessiva com que vivo as coisas. Tenho dificuldade em estar mais ou menos. Cansei-me disso, ainda que tenha a noção que isso possa ser um defeito. Cada vez mais tenho consciência que voltei a viver nos extremos que já tinha de certa forma abandonado do "ou tudo ou nada", sendo que o que define o tudo e o nada são momentos.
Porque sim, é verdade. Um momento, só um único momento, pode mudar tudo.
Para o bom e para o mau.
M.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Notas de viagem - Ida
Noites de luar intenso com turnos solitários que amo fazer, passadas deitado no convés a ouvir música, a ouvir o mar, a pensar e sonhar. A brincar com o leme e fazer competições de eficácia com o piloto automático que ligava e desligava alternadamente e que gosto de acreditar que venci por não deixar o barco bater tantas vezes na ondas maiores e conseguir atingir maiores velocidades. Rir-me por saber que no fundo ele vence ao manter infléxivelmente e precisamente o rumo certo. Sorrir por dentro ao ponto de ficar emocionado. Visitas de seres apaixonantes que avisam a sua chegada ao meu lado com saltos ao luar e expirações sonoras. O momento alto foi numa noite serena em que deixei o piloto automático brincar sózinho. Sentei-me à proa com os pés sobre a água, a fumar um cigarro e sentir aquele doce embalo: Eles aparecem num número que não consego contar e acompanham-me por um tempo que me pareceu infinito. Assobiei-lhes enquanto ali estiveram e quis acreditar que eles respondiam quando ouvia os seus sons debaixo de água.
Lua que se põe e deixa aparecer um céu esmagador carregado de estrelas. Um número sem fim de estrelas cadentes que riscam o céu às quais inicialmente peço alguns desejos e que desisto de o fazer porque os desejos que peço são poucos e alguns deles tenho dúvidas que seja boa ideia vê-los concretizados. Resumi a coisa a ser feliz e viver intensamente, sendo que um está dependente do outro e ambos dependentes de outras coisas que não faço ideia quais são.
Momento estranhos e algo tensos com uma visita ao cair da noite de um semi-rigido preto, com 2 brutos motores, três marroquinos bebados e um convés totalmente preenchido por jerricans de combustivel no meio do nada, a 40 ou 50 milhas da costa ao largo do Golfo de Cádiz. Foi uma noite de vigia passada a olhar para cima do ombro e à espera de a qualquer momento ouvir o som dos motores a aproximarem-se, com dois longos cabos ao meu lado, preparados para serem atirados à proa do mesmo se tal acontecesse conforme instruções do skipper e a perceber porque é que até pode ser válido haverem armas de fogo a bordo, ainda que por norma seja totalmente contra esse tipo de coisas e tenha uma aversão quase repulsiva às mesmas.
Momento igualmente estranho com a passagem de um submarino a meio da noite perto de nós.
Um balão (spi - aquela vela colorida que vai à proa) novinho em folha rebentado ou melhor desintegrado com uma refrega um pouco mais entusiasmada a seguir a bater duas vezes. Para informação futura ficámos a saber que o mesmo é para ser arreado aos 20 nós de vento ou, em alternativa, há que haver sempre alguém junto ao molinete para o caçar e folgar. Caíu à água mas felizmente não se enfiou debaixo do veleiro, pelo que em pouco tempo foi recolhido sem grandes stresses. Sem querer ser maldoso acredito que a culpa foi do piloto automático. Mas isso é só a minha opinião.
Passágem junto a Tarifa, a fazer um bordo rasante à Punta Marroqui,que são para mim dois locais mágicos. Amo aquele sítio e já tive o privilégio de mergulhar nos naufrágios que ali há numas mini-férias que simplesmente adorei e que quero reviver assim que puder. Tenho saudades de me perder ali e de reencontrar os meus cantos onde em dados momentos fui genuinamente feliz.
Passagem por Gibraltar à vela, com vento e corrente a favor, a toda a velocidade e no meio de um tráfego de navios gigantes... indescritivel.
A opção de perder a noite de sábado em Ibiza em favor de continuar a navegar à vela e fazer o rumo necessário para o efeito, o qual era mais longo, para além de não me preocupar minimamente mereceu toda a minha aprovação e satisfação ainda que tenha lido nos olhos de P. uma certa tristeza por perder uma qualquer festa da espuma prometida pela qual ansiava. Não faz mal. Já lá esteve 4 vezes e certamente irá umas outras tantas. E quem sabe se eu ainda o acompanho.
M.
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Coisas e momentos que não consigo descrever
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Voltei
E como neste momento não tenho muito para dizer ou mesmo em condições de o fazer, deixo estas imagens: a última imagem tirada e uma filmagem manhosa dos meus apaixonantes e fiéis companheiros de viagem e dos turnos solitários da noite.
Lindos.
Agora vou ver como me dou a regressar a uma cama normal que não se mexe nem me embala com o som doce da água a passar ali ao lado do ouvido.
M.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Hasta
O trabalho ficou arrumado, cheguei há bocado das arrumações do barco, com direito a uma mini pit-stop para um copo em jeito de despedida e a trouxa está praticamente pronta.
A viagem de ida será acompanhada de uma lua crescente que à chegada não estará propriamente cheia mas sim composta. À partida, entre a chegada e o regresso, haverá uma lua cheia para iluminar melhor os caminhos das noites em terra e no mar.
Como disse este destino não seria definitivamente a minha primeira escolha. Estaria provavelmente perto do fim da lista de destinos possíveis e certamente fora do meu top 40 ou 50. Acredito que seja preconceito da minha parte mas a única coisa que associo a Ibiza é a loucura da noite, com a agravante de ter ideia que essa noite já teve melhores dias. Ou noites.
Gosto de noite. Gosto de noitadas. Mas sinceramente não acho particularmente apelativo este conceito de destino de férias essencialmente vocacionado para a noite. Já imagino uma horda mesclada de nórdicos, latinos e pseudo-latinos absurdamente histéricos numa histeria colectiva descontrolada e excessivamente efusiva.
A noite, para mim pelo menos, torna-se mais interessante e quere-se em meios urbanos e essencialmente preenchida e passada com os nativos e residentes. Nova Iorque, Barcelona, Madrid, Berlim ou Sidney já seriam destinos de noite (e dia) bem mais apelativos para mim. Fora do contexto do mar, claro está.
Tirando os casos de portos de abrigo que são pontos de passagem obrigatórios, o facto de a grande maioria ser outsiders não me motiva por aí além. Já passei por isso numa full moon party numa ilha na Tailândia há uns anos atrás. É a loucura. É engraçado e divertido. Ponto. Só isso. E aí, tenho ideia que o ambiente e tema eram bem mais o meu género do o que vou encontrar nos próximos dias.
Mas estou a divagar. Até parece que estou com uma postura um bocado mete-nojo.
Como disse antes, a cavalo dado não se olha o dente e mar é mar por isso o destino não me interessa particularmente, desde que implique uns dias de navegação à vela e fora de terra. A ir a Ibiza, não consigo imaginar melhor maneira para o fazer senão à vela e em grande estilo. Há que saber aproveitar ao máximo quando se tropeça em coisas destas.
Depois, apesar de não ser uma travessia oceanica, tem a vantagem de ser no mediterrâneo e eu nunca ter atravessado o estreito de Gibraltar ou mesmo navegado aí à vela. Estou curioso.
Por outro lado, bem vistas as coisas, não consigo imaginar altura mais adequada da minha vida para ir a Ibiza e conseguir aproveitar o que aquilo tiver para me dar. Boa vida, copos, dolce fare niente, águas quentes e transparentes e uma série de coisas desagradáveis esperam-me. Com a grande vantagem de ir com as expectativas bem baixas.
Deixo cá o material de mergulho mas pelo sim pelo não levo o essencial (mascara, barbatanas, computador e livro de registo) para o caso de dar.
Soube há bocado que o principal objectivo desta viagem é ensinar e pôr o patrão do Skipper a navegar à vela o que me agrada bastante já que o que ele aprender eu vou aprender em dobro. E com um bom mestre.
O dia vai começar com a ida ao mercado para comprar os produtos frescos e mais umas coisas que estão em falta enquanto o P. vai buscar o patrão dele ao Aeroporto.
Se tudo correr como previsto, zarpamos amanha pelo meio da manhã, com rumo directo a Gibraltar onda pararemos para abastecer caso o vento se mostre envorganhado e obrigue a levar os motores ligados. Caso contrário, se o vento estiver boa onda e se tudo correr bem só paramos em terra daqui a 3 ou 4 dias. Ou seja, no mínimo apanha-se a noite de sábado. Não está mal. Com sorte ainda se chega a tempo da noite de 6ª.
Logo se vê.
... O que interessa é que mal posso esperar pela chegada do primeiro por do sol e céu estrelado no meio do mar. Sinto falta.
Hasta e aproveitem o que é bom.
M.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
E outras alturas

A mochila deste fim de semana foi agora esvaziada para voltar a ser enchida com algumas das coisas que vou levar para a viagem. Ver o que é preciso lavar para arrumar amanhã, lavar a roupa, procurar o passaporte no meio da tralha do quarto do caos, ver que contas é que tenho para pagar antes de partir, desmarcar o café combinado com o C. e fazer o check list mental do que preciso e quero.
A roupa de mar está pronta. É o saco amarelo estanque. E é o mais importante.
O resto são as coisas mais pipis para usar em terra. Não é tão importante na medida em que se faltar algo há sempre uma loja onde comprar.
Ainda a mochila não está pronta e já me parecem coisas a mais. Amanhã à noite, há que esvaziar, por tudo em cima da cama e por de lado o que é superfulo. Ou excessivamente superfulo.
Não que haja limite para o peso do que se leva. Afinal de contas não é uma regata por isso não há problema. E para o tamanho do barco que é não vai ser esse peso que vai fazer alguma diferença. É mais uma questão de principio e postura.
Desde que decidi ir ainda não tive tempo para absorver e ganhar consciência de tudo. Acho que isso só vai acontecer quando embarcar. Ou quando tiver tudo pronto. O que não é de todo mau.
No meio disto há que arranjar concentração para acabar o que ainda há para fazer no trabalho que hoje o dia não rendeu o que devia ter rendido. Andei um bocado a atirar para o preguiçoso e distraído.
Sem stress. À semelhança de ontem, ainda que por outros motivos, rouba-se umas horas de sono desta noite.
Para amanhã: Trabalhar o mais cedo possível, sair do trabalho o mais cedo possível e ir comprar o que falta, ir ao barco fazer os últimos preparativos e combinar as coisas com o skipper, arranjar um tempo para jantar ou beber um café com a malta daqui, acabar de preparar as minhas tralhas, mandar os mails e fazer os telefonemas de despedida e tentar dormir alguma coisa.
Mai nada.
M.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Lindo!
O tipo que ia ajudar o skipper nesta viagem teve uma situação imprevista e não pode ir. O skipper ligou-me a perguntar se eu podia.
Como a partida estava prevista para domingo, disse-lhe que não dava. Era demasiado apertado. Passado um bocado voltou a ligar-me: “ e se partirmos na 4ª feira? Podes ir?”
Umas contas rápidas, uma conversa com as chefias que não ia admitir uma resposta negativa, uns momentos de indecisão porque é correcto fazer isso e ligo-lhe: “Conta comigo”.
Uma semana antes ou uma semana mais tarde já não poderia dizer que sim. Lindo.
E assim, de improviso e vindo do nada, daqui a uns dias embarco como tripulante num veleiro de 54 pés que já conheço de uma outra viagem com o homem do mar que eu mais respeito e o patrão dele. Esperam-nos cerca de 500 milhas a navegar calmamente para lá e outras tantas para cá mais uns 3 ou 4 dias de estadia com tudo pago.
A viagem que eu tinha pensado fazer e para a qual tinha sido convidado foi cancelada. A partida era para ter sido há 2 semanas pelo que a chegada ao Faial à vela terá que ser adiada para outra altura. Sem stress. Há de acontecer.
Este não seria o destino por mim escolhido, mas a cavalo dado não se olha o dente e há propostas que simplesmente não se pode recusar.
E mar é mar. Neste momento não me interessa muito o destino.
De qualquer maneira, sei que pelo menos a fama das noites em terra não é de desprezar. O que já não é mau.
Este fim de semana vou à terra ver uma familia e uns amigos que já não vejo e abraço há demasiado tempo, e no regresso tenho dois dias de trabalho intenso e preparação das coisas para poder partir descansado.
Ou cansado mas descontraído.
Lindo!
O primeiro turno é meu.
M.
Quedas
Há coisas que caem do céu que nem sabemos de onde elas vêm nem como nos vêm parar ao colo.
Correcção: Há coisas que caem do céu que nem sei de onde elas vêm nem como me vêm parar ao colo.
É que é sem mexer uma palha.
E de repente, aparece uma proposta daquelas que não se pode recusar e alteram-se radicalmente os planos das próximas semanas para poder aceitar a proposta.
... Lançam-se os dados e acontece isto.
Impressionante.
Às vezes sou tão sortudo que até mete nojo.
M.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Estimação

Apelidei-o de Osgar.
É uma visita muito assidua ao tecto da minha varanda, quase residente, e uma silênciosa e atenta companhia de algumas noites.
Todos os anos aparece. Ou eu gosto de acreditar que é sempre o mesmo.
Também gosto de acreditar que é ele que contribui para a redução do número de melgas que entra na minha casa.
Que eu saiba nunca entrou aqui em casa. É sinal que respeita o espaço dos outros e não quer incomodar.
Ando meio preocupado com ele porque já não o vejo há alguns dias. Espero que esteja tudo bem.
Entretanto tenho tido a visita regular deste casal:


Esta casa já foi testemunha e responsável pelo ínicio de duas relações (em nenhuma das quais a minha pessoa esteve directamente envolvida ou melhor, foi protagonista)que até ver estão a correr bem. Pode ser que corra bem também para eles.
Ainda não são residentes. Acho que gostam do som do espanta espiritos e andam a ver o que há no mercado. Mas simpatizei com eles e a avaliar pelo número de vezes que os encontro ali plantados na varanda Á hora de almoço, poderão vir a tornar-se outros animais de estimação voluntários.
Não me importava. Cantam bem.
Logo se vê.
M.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Velhos guerreiros adormecidos

Temos dentro de nós velhos guerreiros adormecidos.
Espíritos de velhos guerreiros de rosto duro e marcado, cheios de cicatrizes e sabedoria. De armaduras pesadas e gastas de batalhas que já perderam a conta. São calmos e serenos. Não gostam de ser incomodados com questões menores e não lutam nem aparecem quando queremos. São velhos guerreiros que estão a descansar de longas batalhas. Não querem lutar mais.
Muitas vezes estão adormecidos há tanto tempo que não sabemos como os evocar. Muitas vezes. Mas eles estão lá.
E quando os evocamos no momento certo para as causas certas, aparecem. Às vezes e só às vezes acordam e aparecem quando é preciso. Sem os chamarmos e quando menos esperamos.
Mas quando aparecem, meus caros. Quando aparecem somos invencíveis. Segredam-nos palavras silenciosas de sabedoria, apoiam a mão no nosso ombro, sossegam-nos e dizem: Segue em frente. Não tenhas medo. Nós estamos aqui.
Aí, nem os demónios nem os fantasmas que habitam dentro de nós têm coragem de os e nos enfrentar. Ao som dos tambores de guerra que anunciam a chegada dos velhos guerreiros, refugiam-se covardemente nos recantos mais recondidos de nós e esperam em segurança que eles voltem a adormecer.
E aí, sem demónios nem fantasmas a enfraquecer-nos, meus caros, somos donos do mundo. Crescemos perante os outros e nada, mas mesmo nada, tem coragem de nos fazer frente. Porque os nosso olhar e postura é sem medo. É um olhar e postura pacífico mas disposto a qualquer luta se for necessário. Sem medo de nada. Afinal de contas são velhos guerreiros. Não têm medo de morrer.
Mostram-se e preferem não ter que desembainhar as espadas. Preferem mostrar que a luta não vale a pena.
Como velhos guerreiros sábios que são nunca se confrontam com os velhos guerreiros que habitam dentro de outras pessoas.. Afinal de contas nenhum velho guerreiro luta por prazer. E como são sábios, sabem que os confrontos são basicamente estúpidos e desnecessários.
Desembainhar a espada e retesar os arcos só para golpes certeiros e tiros mortais. A partir do momento em que a lâmina da espada fica à vista, só volta a recolher-se depois de saciada numa orgia e festim de sangue.
É melhor que não saia. Os sábios sabem disso.


Gosto quando eles aparecem, os velhos guerreiros. Sinto-me protegido.
Até porque a maioria das batalhas não são com os outros. São com os nossos próprios demónios e fantasmas.
Às vezes chego a esquecer-me que eles existem.
M.
Fotos do filme "os sete samurais" de Akira Kurosawa e ilustração daqui.
domingo, 5 de julho de 2009
Momentos que não se esquecem
Enquanto nos afastamos da costa, assistimos ao por do sol e ao nascer de um luar lindo, está um mar sereno com aquela ondulação que embala e acalma e um ambiente a bordo muito boa onda. Intimo e divertido.
O P., o homem do mar que conheço que mais respeito, desliga o piloto automático e vai ao leme. Gosto muito da postura dele, tanto no mar como em terra, mas o facto é que quando está ao leme, o olhar dele transforma-se. Cresce. É sem dúvida o meio dele.
Pergunto-lhe se se importa que vá um pouco ao leme, coisa que, ao contrário deles, não tenho muita experiência e faço poucas vezes. Normalmente evito fazê-lo com mar muito batido ou quando há muita gente a bordo. Ou gente com a qual não me identifico tanto.
Enquanto eles conversam, vou ali inicialmente muito concentrado e pouco descontraído a tentar manter o rumo o melhor possível e a ganhar sensibilidade. Antecipar o desvio provocado pelas ondas e encontrar o equlibrio de não mexer a roda do leme nem a mais nem a menos.
O P. dá de vez em quando umas dicas.
Deixo de ter os olhos fixos na agulha da bússola e fixo um ponto que me dá o rumo apróximado. Começo a descontrair e saborear. Começo a sentir o veleiro, as ondas, a ver o luar e absorver o ambiente e momento que estou a viver. Começo a sentir-me feliz.
O R. testa-me algumas vezes para perceber se estou descontraído. Sente o que sinto, vai à cabine, tira a música que estava a tocar e põe outra. Vem cá fora, distribui 4 cervejas e diz: M., esta é para ti.
Homem do Leme
Sozinho na noite
um barco ruma para onde vai.
Uma luz no escuro brilha a direito
ofusca as demais.
E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...
E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...
No fundo do mar
jazem os outros, os que lá ficaram.
Em dias cinzentos
descanso eterno lá encontraram.
E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...
E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...
No fundo horizonte
sopra o murmúrio para onde vai.
No fundo do tempo
foge o futuro, é tarde demais...
E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder
Há coisas que se sentem que não dá para descrever. Ouvir isto, sentir isto e ver isto é uma delas.

M.
domingo, 28 de junho de 2009
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Jo sóc ...

... tropecei nisto. E gostei.
Não pela fotografia ou composição gráfica. Foi essencialmente pela ideia.
É uma mensagem poderosa. Intensa.
Questiono-me quem escreve uma frase assim e para quem escreve.
Se quem fez esta composição tinha alguém em mente, se sente mesmo isso ou se é só uma boa ideia que fica bem e impressiona. Esse tipo de coisas.
Aparentemente é retirado de uma letra de uma canção. Chama-se "no hi ha ningú com tu".
Infelizmente não gostei nem da letra, nem da música ou do video. Tirou bastante o encanto a uma frase interessante. De qualquer maneira fica aqui o link se alguém estiver interessado (Menaix a truà - No hi ha ningú com tu).
Sempre tiveram o mérito de me inspirar para mais um texto por escrever.
M.
terça-feira, 16 de junho de 2009
La mar
"... Sempre pensava no mar como la mar, que é o que o povo lhe chama em espanhol, quando o ama. Às vezes, aqueles que gostam do mar dizem mal dele, mas sempre o dizem como se ele fosse mulher. Alguns dos pescadores mais novos, os que usam bóias por fultuadores e têm barcos a motor, (...) dizem el mar, que é masculino. Falam dele como de um antagonista, um lugar, até um inimigo. Mas o velho sempre pensava no mar como feminino, como algo que entrega ou recusa favores supremos, e, se trevariava ou fazia maldades era porque não podia deixar de as fazer. A lua influi no mar como as mulheres, pensava ele."
O Velho e o Mar - Ernest Hemingway
O livro que já li e reli mais vezes até hoje.

M.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Tollan



... ou Tollens. Não faço ideia. Uma coisa dessas.
O que sei é que havia um navio enorme virado de barriga para o ar no Tejo que fez parte da minha infância.
Curiosamente a imagem que guardo não é a vista do terreiro do paço, ou de qualquer outro ponto de terra, mas sim do ar. A vista da Ponte sobre o tejo.
Nas expedições familiares a Sesimbra, Costa, Troia ou Algarve, a passagem sobre a ponte era um momento alto. Isso e a travessia de barco de e para Setúbal quando o chefe de familia assim o entendia. A contar alforrecas e preservativos nas águas do Sado. Adiante.
A passagem da ponte era um momento de excitação a bordo da viatura familiar. Espetávamo-nos à janela a ver tudo. O Tolan era um elemento estranho mas que me lembro desde sempre. Adorava.
Dizem as pesquisas no Google que era um porta-contentores Inglês que afundou-se a 16 de Fevereiro de 1980, após ter colidido com o cargueiro Sueco Baranduna no rio Tejo. Após várias tentativas, foi finalmente voltado e afastado do Terreiro do Paço a 2 de Dezembro de 1983.
Pelos vistos só lá esteve 3 anos. A memória e a percepção do tempo nas diferentes idades tem destas coisas. Diria que esteve lá uma eternidade. E digo também que nunca mais me esqueço do dia em que íamos a atravessar a ponte, me estico para a janela para o ver e ele não estava lá. Pelos vistos tinha 9 anos.
Cheguei a escrever composições na escola sobre isso. Duas mais precisamente. Numa punha o Tolan a falar na primeira pessoa. Noutra, já no secundário, era o Tejo o narrador.
Acho que ainda as tenho algures.
Tenho que as procurar.
M.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Sailor's cliché - Partir

... Ter um saco sempre pronto para partir a qualquer momento. Mantendo ou não uma base fixa. Seja uma partida definitiva ou não.
No passado e durante uns bons anos já estive bem mais perto desta postura do que estou hoje em dia. Ou já tive condições bem mais favoráveis a esta postura. Mas também já estive bem mais longe.
Muito mais longe.
O importante é que o horizonte esteja lá.
E o saco esteja pronto. Ou pelo menos que se saiba exactamente o que levar e como o concretizar.
M.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Destroço, de Luís Serpa
Quando a vontade de escrever, o jeito e a imaginação escasseiam, é sempre bom encontrar um post destes para o copiar. Retirado do Don Vivo do Luís Serpa, uma referência cada vez mais brilhante.
Quando a encontrei era um destroço, devastada por passados que a perseguiam como "facas lançadas por um artista de circo a uma roda que não sabe para que lado girar". Levei-a para casa, dei-lhe de comer e disse-lhe para ir dormir. "Há muito tempo que para mim o sono", explicou-me, "não passa de uma sucessão de pesadelos". "Não são os passados. São os futuros. E não há nada a fazer: tens que passar por lá", respondi. Um dia disse-me "o futuro é um passado que se enganou, graças a ti".
M.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Neptuno na Horta

A cidade da Horta é para mim o que se pode chamar de “o” porto de abrigo.
Para além de ser um pequeno grande paraíso no paraíso que são os Açores, tem um ambiente único e indescritível, onde o urbano, o rural, o mar e os marinheiros se misturam.
É um porto por onde passam e chegam velejadores de todo o mundo que fazem travessias oceânicas e que trazem na cara e postura a marca dos humores do mar. Tem uma mística que não é traduzível por palavras Raramente é um destino em si mas mais uma paragem num qualquer percurso.
É um porto de abrigo Além Mar.
Daqueles em que apetece ficar mais uns tempo mas que como a viagem tem que continuar se parte.
Infelizmente ainda não tive a oportunidade de aí chegar de veleiro. Aliás, oportunidade tive mas na altura foi impossível aceitar. Há de acontecer. E quando isso acontecer, tenho a certeza que vou ficar ainda mais apaixonado por aquele lugar.
No verão, o mar por aquelas paragens costuma ser relativamente calmo e sereno, tirando uns dias de mau humor. No Inverno a conversa é outra. O oceano não se nega a mostrar toda a sua força e dimensão.
Dizem que no dia 15 de Fevereiro de 1986 ocorreu a maior tempestade do século XX nos Açores De acordo com os relatos, nesse sábado à tarde, o vento atingiu velocidades na ordem dos 250 km/h, as ondas alturas entre 15 e 20 m e que a rebentação das ondas chegou a atingir os 60 m.
Este mau humor da natureza foi registado por José Henrique Azevedo, o actual “patrão” do famoso “Peter Café Sport”, na cidade da Horta (Ilha do Faial), o qual tirou uma série de fotografias do efeito do mar durante a tempestade.
Dois anos depois, querendo mostrar o acontecimento com mais facilidade aos iatistas, José Henrique passou duas das fotografias, de diapositivo a papel. Descobriu então que, no momento em que tinha tirado uma delas, se tinha formado, na rebentação da onda, uma figura humana (cabelo, olhos, nariz, boca e barba) dando-lhe o nome de "Neptuno na Horta".
Numa visita à Horta, contaram-me que a primeira pessoa a identificar a imagem de Neptuno, terá sido um residente da ilha que era surdo-mudo... Não sei se é verdade ou não. Já se sabe como é estas coisas do ouvi dizer.
Mas isso agora não interessa nada. O facto é que é uma imagem que me fascina e à qual não consigo ficar indiferente... por esse motivo está na parede da minha casa (ou esteve até à pouco tempo, dado que foi temporáriamente substituido).
Sendo a Horta um local especial e místico, para mim faz todo o sentido que tenha sido visitado por Neptuno.
Certamente que não há nada de místico numa onda que por acaso forma uma imagem que pode ser mais ou menos forçada. Agora o que é místico é ter sido registado. O acaso ganha proporções gigantescas.
É que há momentos em que acontecem coisas, sejam elas coincidência ou não, que por serem tão improváveis e poderosas, nos deixam... assim. Sem reacção.
M.
domingo, 19 de outubro de 2008
Mar
O Mar tem dias assim.
Acredito que ninguém consegue ficar indiferente perante certas pessoas ou forças.
O mar é uma delas. Amedronta, intimida, assusta, aterroriza mas ao mesmo tempo fascina, encanta e apaixona-nos.
Há que respeitá-lo.
Muito se podia dissertar sobre este assunto, imagens e forças mas deixo cada um levar isto para onde bem entender.
;)
M.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Portos
PortosLindo!
Alguns portos não são seguros, por qualquer razão: estão abertos a um determinado vento, ou têm problemas de marés, seja o que fôr. Nesses portos, não podemos deixar uma embarcação sozinha: temos que ficar a bordo, olhar por ela, protegê-la, guardá-la. Esses portos são os mais interessantes, os mais belos, os mais estimulantes.
Analogias, anyone?
M.
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Mais Além Mar
- Um personagem - O Imperador de além mar, é uma misteriosa e poderosa autoridade no mundo de Nárnia, nos livros de C.S. Lewis As Crônicas de Nárnia.Ele é o pai de Aslam, o grande leão. Numa interpretação cristã da série, ele é Deus e Aslam, por sua vez, Cristo. O Imperador nunca é descrito, mas muitos personagens se referem a ele,particularmente em O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa. (fonte Wikipedia)
- Uma banda portuguesa da década de 90 (que sinceramente não me recordo nada bem) - Os Alémmar são uma banda de música portuguesa, criada na década de 90, bastante conhecida pelo single "Deixa-me Olhar". (fonte Wikipedia)
- Um livro - Além-Mar de José Agostinho Baptista (Assírio & Alvim).
Aqui fica a “Dedicatória”:
Este livro é dedicado a essas vagas luzes que
anunciam a alegria
e às vezes são alguém, um anjo, o caos, e no
meio do caos
o jovem doce tempo das tuas mãos.
És tu,
coração secreto à deriva pelos dias, o senhor do
meu canto.
Por ti cheguei e parto.
A minha casa é onde estás - Uma revista de missionários (sem comentários porque neste blog não se tomam partidos relativamente à religião... pelo menos até ver)
- E claro, a mais poética de todas as marcas de tabaco:

Infelizmente parece que agora só existe em formato King Size... Uma patetice, na minha opinião.
Com tanto direito de autor que por aí anda, vamos lá a ver se não me fecham o tasco...
M.